Carniçais

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Raquítico
meu pensar
que debruça a terra
em busca de mar

como caminhar
e não olhar para trás
pois não há memória feliz
apenas dor que não afaga
nossa fome, nossa sede

nossos rostos
mórbidos como a morte
pois nada nos resta
muito menos a sorte

doenças, que nos perseguem
mas prosseguimos sob velar
pois não há doença maior
que ser obrigado a abandonar o lar

não há futuro
nestes solos sertanejos
pés descalços, surrados
quebrantam em obscuro lampejo
nosso sufrágio, escarnecido pelo destino.

Urubus nos rodeam
entretanto, sequer sabem
que também somos carniçais
predando nossa própria esperança.


~Apoloet

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