01| Notícia

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Caminhei apressada pelos corredores brancos, sentindo um arrepio desconfortável percorrer meu corpo, hospitais! Definitivamente não gostava desses lugares. Eles testemunhavam as histórias tristes de lutas das pessoas. As batalhas impossíveis contra doenças, sem falar das paredes que abrigam lembranças das vidas que já se foram. Inspirei o ar assim que me aproximei da ala de internação. O cheiro característico de produtos de limpeza misturado com o aroma antisséptico impregnava o ambiente, criando uma atmosfera sufocante. Incomodada, respirei fundo para tomar coragem e deixar meus receios de lado. Precisavam de mim nesse momento.

― Dul, nossa, ainda bem que você chegou ― Minha melhor amiga me abraçou assim que me viu.

― Eu vim o mais rápido possível ― comentei solidária. ― Mas e aí? Alguma notícia?

― Sim... Infelizmente. ― Ela começou a chorar. ― A mamãe piorou.

― Eu sinto muito, Annie. ― Apertei meus braços envolta de seu corpo, confortando-a. Era a única coisa que estava ao meu alcance nesse instante. ― Pode contar comigo para o que for necessário. Queria fazer mais a respeito, não sei o que dizer para te consolar agora.

― Só de ficar aqui, ao meu lado, já me ajuda. ― Ela secou suas lágrimas quando nos separamos.

― Cadê o Poncho? E o seu pai? ― Olhei para os lados à procura dos dois.

― O meu noivo foi buscar algo para comermos na lanchonete e o papai... ― Sua voz embargou e seus olhos azuis se encheram de água, novamente. ― Ele quis conversar com os médicos para saber se não há outros tratamentos, mas acho que não tem, não. ― Ela balançou a cabeça enfatizando, segurei em sua mão para acalmá-la.

― Calma, vamos pensar positivo. Pode ser que exista algum estudo clínico para curar o Alzheimer, talvez fora do Brasil, a ciência já evoluiu tanto.


Annie acenou em um gesto de compreensão, desanimada, enquanto sentava no banco da sala de espera. Ela pareceu se tranquilizar um pouco e esperamos pelo retorno dos dois em silêncio. Eu entendia que era importante ser otimista, por isso tentei mostrar para a loira que estaria aqui para o que ela precisasse. Nós já havíamos passado por tanta coisa ao longo dos anos, compartilhando alegrias, tristezas, que eu tinha certeza que atravessaríamos mais esse obstáculo juntas.

Quinze minutos depois, Alfonso apareceu carregando um lanche e um suco nas mãos. Nós nos cumprimentos com um aceno de cabeça, logo em seguida ele entregou o sanduíche para a Annie. Um silêncio predominou no ambiente, cada um perdido em seu próprio pensamento.

― Dul, e o Mati? ― Anahí falou após alguns minutos. ― Não está na hora de pegá-lo na escola?

― Daqui a pouco, hoje ele tem uma palestra sobre trânsito, a turma dele vai sair mais tarde. ― Ela balbuciou algumas palavras. ― E você, não vai comer? ― Apontei para o lanche em suas mãos, ela respondeu dando de ombros. ― Annie! Saco vazio não para em pé.

― Tá bom, mamãe! ― A loira mordeu um pedaço desanimada. ― Satisfeita?

― Eu sei que é difícil. ― Suspirei. ― Mas faz um esforço, ok? ― Ela mordeu outra vez o sanduíche e eu sorri agradecida.

Olhei para o meu relógio de pulso, agoniada, o cheiro desse lugar e as paredes brancas me sufocavam ainda. Acho que não conseguiria esperar pelo seu Luís para receber mais informações.

― Pai, e a mamãe? ― A voz da Annie chamou a minha atenção.

Observei o homem na faixa de seus cinquenta anos caminhar em nossa direção. Ele estava abatido, mais magro, porém ainda possuía um charme. Era como se eu avistasse o Christopher daqui a alguns anos de cabelos grisalhos.

― Ela terá que ficar internada, minha filha. O médico avisou que agora são apenas cuidados paliativos.

― Ai, não! ― A loira desabou em lágrimas sendo confortada pelo Poncho.

― Oi, Dulce ― Luís me cumprimentou em um tom triste. ― Cadê aquele garotinho espevitado?

― Na escola, vou buscá-lo agora. ― Eu me aproximei dele. ― O senhor pode contar comigo para o que precisar.

― Muito obrigado, querida. ― Seus olhos escuros brilharam emocionado e em um gesto rápido o abracei.

Após me despedir dele, eu cheguei perto da Annie que limpava as lágrimas com o dorso da mão.

― Tenho que ir agora. Hoje você vai para o apartamento?

― Sim, vou pegar algumas roupas mais tarde.

― Então te espero para jantar. ― Beijei sua bochecha. ― Até mais gente ― Acenei para eles.

***

Enchi uma taça de vinho enquanto preparava o molho do macarrão. Já passava das oito horas e nada da loira. Bebi o líquido, sentindo o calorzinho descer pela garganta, imediatamente recordei da doença da dona Alexandra. Fazia alguns anos que ela lutava contra o Alzheimer, seu Luís e a Annie consultaram vários médicos, ouvindo muitas opiniões, mas infelizmente não havia uma cura. Os dois sofriam muito, aliás eu estava nesse pacote também. Eles se tornaram a minha família desde o dia que conheci a loira na faculdade. Uma festa em sua casa acabou estreitando ainda mais esse laço, seu irmão flertou a noite inteira comigo, trocamos os números de telefone, muitas conversas por horas a fio na madrugada até que começamos a namorar. Um tempo depois, Christopher recebe uma proposta de estudar e estagiar fora, rompendo comigo. Para a minha sorte, Anahí nunca me abandonou, mesmo quando descobri que estava grávida, ela me acolheu, já que meus pais me expulsaram de casa. A loira me deixou morar junto com ela no apartamento que tinha ganhado de presente.

― O cheiro parece maravilhoso. ― Escutei sua voz angelical.

― Vamos ver se o gosto também ― comentei brincalhona enquanto fungava o nariz.

― Esse lance de hospital mexeu com você, não é?

― Muitas lembranças. ― Fechei os olhos, as pálpebras tremiam. ― Um filme passou na minha mente.

― Então, imagino que a novidade que eu tenho para contar não vai te deixar feliz ― sussurrou.

― O quê? ― Encarei a Annie confusa, sem entender algumas das palavras.

― Melhor jantarmos primeiro. ― Ela pegou os pratos no armário. ― Onde está o Mati?

― Ele já comeu, foi fazer a lição de casa.


Avistei a loira pegar o resto da louça, seu semblante sério me preocupou. Não era o mesmo do hospital, havia algo diferente em seu olhar. De repente, uma ideia cruzou minha mente, só podia ser sobre o assunto proibido. Antes de acompanhar Annie até a mesa, bebi em um gole o resto do vinho, pelo jeito precisaria de mais bebida para encarar a tal novidade.

― Desembucha, Anahí. Qual é a notícia? ― perguntei assim que terminei de comer.

― O papai ligou para o Christopher, intimou ele a voltar para ver a mamãe. ― Meu coração acelerou, balancei a cabeça, era justamente esse o assunto proibido.

― Quando? ― A loira mexeu em seu copo e em seguida ingeriu o suco.

Desconfortável, ela tentou ganhar alguns segundos.

― Dul, sabe que tentei evitar isso o máximo que pude, não é? Nunca contei nada da vida dele lá para você.

― Annie...

O caso parecia ser mais sério do que pensei, ela estava me enrolando.

― Amanhã! ― Arregalei os olhos, assustada.

― Não é possível ― sussurrei abalada.

― Eu tentei argumentar com o papai, mas ele está certo. É triste pensar nisso, porém nós não sabemos se ela aguentará por mais tempo...

Enquanto a loira explicava, minha mente vagou perdida. Precisava ser tão rápido assim? Sem sombras de dúvidas, essa notícia me pegou desprevenida. Eu tinha evitado ele por muito tempo, fingindo que nada aconteceu, entretanto, de um dia para outro, eu necessitava buscar forças para encarar o inevitável: Christopher Uckermann estava de volta.

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Oi amores, sejam bem-vindo(a)s a mais uma fanfic :) Espero que gostem! 

Em breve sai o capítulo 2, não esqueçam de favoritar e comentar para eu saber se estão curtindo :) 

E vamos ver quais aventuras nosso casal irá nos proporcionar dessa vez <3 

Coração FeridoOnde histórias criam vida. Descubra agora