Epílogo

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Alguns meses depois

Abri o notebook para entrar na videochamada e, ao mesmo tempo que conectava, eu comecei a ficar ansiosa, imaginando a reação de todo mundo.

― Amiga! ― Annie apareceu na tela. ― Que lugar é esse? Não... ― ela mencionou em seguida, ao arregalar os olhos surpresa.

― Aham ― respondi já que nos comunicávamos por transmissão de pensamento. ― Cadê o pessoal? E o Mati? Não vejo a hora de contar a novidade.

― Ele foi assistir a um filme na cabine do papai. Calma aí que vou chamá-los.

Anahí estava de lua de mel há algumas semanas, ela e o Poncho resolveram comemorar em um cruzeiro, seu Luís aproveitou a ideia para tirar umas férias indeterminadas, pretendia viajar junto da dona Alexandra enquanto não progredia ainda mais a doença da esposa. Ele não quis deixar o neto de fora para curtir esse momento com o pequeno também, nós descobrimos que o Matheus era realmente nosso filho! Quando a Maitê ganhou alta do hospital, explicamos a situação para ela que, assim como eu, parecia não acreditar, então realizamos um teste de DNA para comprovar nossas dúvidas. No começo foi esquisito, ninguém sabia como agir, portanto decidimos não apressar nada, a Mai permaneceu na cidade, não abandonou o sonho de ser cantora, voltando para o emprego antigo, e em suas folgas, ela visitava o Mati. Um pouco curioso pensar que isso já era parte da dinâmica de antes, por falar nisso, não poderia negar que o menino continuasse a chamando de mamãe, pois no fim das contas, ele sempre teve duas! Apesar do sofrimento gerado, o que me confortava é que meu filho nunca ficou abandonado.


Nós revelamos a verdade para o garotinho no seu aniversário de seis anos, Christopher apareceu de Superman levando Matheus a loucura, além de mim, que acabei reagindo da mesma forma após os convidados irem embora... Com a ajuda de Alfonso, processamos o hospital, alguns depoimentos indicavam que o momento da troca ocorreu na hora em que as crianças faziam exames, as pulseiras se misturaram, infelizmente o da Mai veio a falecer. A quantidade de bebês* que passam por essa mesma situação me assustou, foi um choque imaginar que isso exista.

Acabei perdoando o Ucker e depois de três meses nós subimos no altar em uma cerimônia íntima, mas muito significativa, no jardim dos fundos da casa de sua família. O lado bom era que todos os dias ele tentava recompensar sua burrada de alguma forma, sempre me surpreendia, na maioria das vezes positivamente! Seu Luís me conduziu até o deck de madeira enfeitado de flores, um dos acontecimentos mais felizes da minha vida. Meu prezado marido também entrou em contato com os meus pais, disse que a partir daquele dia eu nunca mais permaneceria desamparada, a filha deles agora tinha uma família de verdade. Na empresa, houve uma pequena mudança, logo que comecei a cursar a faculdade de Artes, o chefinho me transferiu para o departamento criativo, hoje sou encarregada de idealizar os desenhos das cerâmicas! Entretanto, algumas coisas nunca se modificam, Christopher, Christian e eu ainda almoçávamos juntos no refeitório, por falar no desmiolado, ele adorava esfregar minha aliança na cara das oferecidas. Seu jeito maluco continuava igualzinho, talvez fosse coisa da minha cabeça, porém nos últimos dias meu amigo andava com um brilho diferente no olhar, será que vivi o suficiente para ver Christian apaixonado?

― Mamãe!? ― Mati me chamou, senti as lágrimas se acumulando, ainda é difícil segurar a emoção.

― Oi, querido ― para disfarçar, cumprimentei o seu Luís que chegava junto da Annie em frente ao notebook.

― Cadê o papai? Queria contar que o vovô me levou para surfar na piscina.

― Ele deve estar chegando já... ― Eu mal terminei de declarar e o homem adentrou pela porta. ― Nós temos uma surpresa para você, seu presente de aniversário veio mais cedo. ― Observei cheia de expectativa o garotinho.

― Oba! Meu skate... ― ele disse animado.

― Que skate? ― Franzi a testa, olhando para o Ucker. ― A gente combinou um patinete.

O rapaz caminhou na minha direção carregando em seus braços a mais nova integrante da família, ele foi acompanhar os exames da recém-nascida. Dessa vez, meu parto foi maravilhoso, planejei cada detalhe com a obstetra, Christopher não saiu do meu lado e inclusive contratamos uma doula.

― Ele não vai andar de skate até ficar maior, ainda é muito criança.

― É, campeão, sua mãe quem manda. ― Ucker piscou para o menino.

― Eu vi isso, hein. ― Estendi os braços para pegar nossa filha no colo. ― Sua irmãzinha, acaba de chegar!

Ajeitei ela de uma forma que todos conseguissem enxergá-la pela tela do computador enquanto meu marido sentou próximo de mim na cama do hospital.

― Não acredito que não estava aí em mais um nascimento ― Anahí declarou chorosa. ― Essa é apressada, não era para nascer só quando a gente retornasse? ― A loira enxugou uma lágrima. ― Ai. Luna, tão pequeninha, sua cara, Dul. ― Sorriu contente.

― Ah, uma pena que sua mãe já foi dormir ― Seu Luís comentou ao mexer as mãos para o bebê.

― Como que a cegonha sabia onde entregar a minha irmãzinha? ― Matheus perguntou sério, cruzando os braços.

Todo mundo caiu na risada.

― De onde você tirou isso, querido? ― respondi rindo.

― O Jonathan falou que os bebês vêm da cegonha, mas acho que ele tá errado. Eu nunca vi cegonha entregando bebês em lugar nenhum.

Outra vez, as gargalhadas das pessoas contagiaram o ambiente.

― Filho, a gente não tinha conversado sobre isso? ― Christopher mencionou tentando se recuperar da comoção.

― Sim, que o papai colocou uma sementinha na barriga da mamãe e aí eu nasci.

O menino parecia pensativo, enquanto absorvia as palavras.

― Eu bem que avisei que ele não sabia de nada! ― Balançou a cabeça em uma negação. ― A barriga da mamãe ia explodir a qualquer momento... ― Matheus disse fazendo todos rirem novamente.

Fitando aquele instante, apreciei a alegria estampada no rosto de cada um deles e refleti que todo esse tempo eu juntava os pedacinhos para curar o meu Coração Ferido, para que hoje, finalmente, eu pudesse cicatrizá-lo para sempre. Uma felicidade transbordava em mim, transformando o vazio que existia antes na verdadeira essência do amor. Em seus abraços, descobri o significado mais profundo da palavra lar, aqui nos sorrisos deles, meu coração conseguiu sanar daquela dor que carregava ao longo desses anos. 


*  No Brasil, aproximadamente 3 milhões de bebês são trocados por ano, afetando cerca de 500 famílias.

***

E, chegamos no fim de mais uma fic, gostaria de agradecer cada um(a) que tirou um tempinho para comentar, favoritar ou até mesmo bater um papo comigo no Direct quando estava desanimada vocês me deram forças! Muito obrigada por embarcarem nessa jornada comigo, foi incrível ler cada comentário < 3 até a próxima ;*


Gente, vou deixar aqui a sinopse da parte 3 da Dama de Vermelho, além do link e conversamos mais por lá, ok?

Recém-casados, Christopher e Dulce embarcam em uma nova fase em Belmonte, onde a vida a dois começa a se desenhar, a alegria de compartilharem um mesmo lar, de desvendar as manias, os gostos, as peculiaridades, preenche seus dias de luminosidade. Afinal, a convivência exige mais do que apenas momentos de felicidade; é necessário enfrentar as inseguranças naturais que acompanham essa rotina. No entanto, uma notícia poderá abalar a harmonia da união cuidadosamente construída, colocando à prova tudo o que se comprometeram a ser um para o outro. Eles estariam preparados para as possíveis consequências de suas ações? O amor será suficiente para superar os obstáculos que cruzam o caminho do casal? À medida que trilham essa estrada desconhecida, aprenderão que a vida a dois é uma constante evolução, para entender que a verdadeira força reside no compromisso mútuo.

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