04| Doce Ilusão

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― Nossa senhora! O que aconteceu com você? Foi atropelada? ― Christian disse assustado assim que me viu.

― Tive uma noite péssima ― sussurrei, já que a sala de reunião estava lotada. ― Dá para fazer menos escândalo?

Peguei meu pó compacto, olhando meu reflexo no espelhinho. Puta merda! Tentei ajeitar minhas olheiras, enquanto passava um corretivo. Maldito Superman, praguejei mentalmente. Que ódio!

― Nem se nascesse de novo ― comentou entre uma risadinha, o filho da mãe me provocou.

― Alguém já te mandou ir pra aquele lugar hoje? ― retruquei, sem muita paciência.

― Eita, garota! O que houve com você?

― Nada. ― Bufei e Christian me olhou com uma cara de quem não acreditou na minha palavra. ― Afinal de contas, o que tá rolando aqui?

― A reunião matinal de hoje será feita com todos os departamentos. ― Ele me encarou confuso. ― Você não recebeu o e-mail?

― Não olhei meu celular ainda. ― Guardei o pó e o corretivo na minha bolsa. ― Pensei que seria só a reunião da diretoria como sempre.

― Dulce do céu! Que gato é esse? ― Christian bateu de leve no meu ombro. ― Aquele rapaz do RH não chega aos pés dessa beleza grega.

― Ah, pronto, já tô vendo tudo, adeus gatinho do RH. ― Então, fechei a bolsa e procurei pelo "Deus Grego" dele.

Não, senhor, por quê? Balancei a cabeça em negação ao mesmo tempo que localizei o seu Luís caminhar até o fundo da sala, acompanhado do filho.

― Perdeu a língua, amiga?

― Não enche, Christian. Não é um bom momento. ― Ele abriu a boca, mas logo desistiu de falar algo.

― Bom dia a todos! Antes de mais nada, gostaria de agradecer por vocês arranjarem um tempinho para essa reunião de última hora ― seu Luís pronunciou após pedir silêncio. ― O motivo de ter chamado vocês aqui é para comunicar que meu filho irá trabalhar no meu lugar por algumas semanas.

― Ah, que maravilha ― resmunguei ironicamente. Até no trabalho terei que conviver com ele?

Em seguida, o jovem rapaz começou a se apresentar.

― Não... ― Christian mencionou chocado para mim. ― O seu Christopher é esse Christopher? ― Apontou o dedo. ― Por isso que hoje tá parecendo uma cachorra raivosa?

― Chiu! Porque não fala mais alto, a dona Iolanda que usa aparelho de surdez ainda não escutou. ― Revirei os olhos.

― Dulce, ele é um Deus Grego! ― E de repente, a voz do filho da mãe ecoou pela sala inteira.

Todos à nossa volta nos encararam e eu fuzilei o endiabrado, pensando: satisfeito agora?

― Ele não tomou os remedinhos essa manhã. ― Sorri sem mostrar os dentes. ― Quer uma água? ― Peguei um copo que estava em cima da mesa e levei até a sua boca, quem sabe assim pare de falar besteiras!

― Certo, espero que mais ninguém tenha esquecido dos remédios ― Christopher anunciou fazendo as pessoas rirem, para logo retornar para a sua apresentação.

Quando a reunião foi encerrada, eu queria matar o Christian.

― Foi mal, Dul. Minha intenção não era causar. ― Suspirei cansada.

― Tá bom, eu sei. Sinto muito por antes também, esses acontecimentos recentes estão mexendo comigo. ― Passei uma mão pela testa.

― Vem, cá, Pimentinha! ― Ele estendeu os braços e nos abraçamos.

Eu realmente precisava de um acalanto agora, se não fosse por Christian com certeza me enfiaria no banheiro até a hora do almoço para chorar as pitangas. Alguns segundos depois, ouvimos um pigarro.

Coração FeridoOnde histórias criam vida. Descubra agora