Coração Ferido

15| Preocupação

Passava da meia-noite quando Christopher e eu finalmente chegamos ao apartamento. Tivemos que pegar o Matheus com a Annie na casa do Poncho, já que ficamos trabalhando até tarde.

― Eu achei que não conseguiria fazer os moldes ― mencionei, sorrindo sem acreditar no que havia realizado.

O rapaz me olhou de um modo orgulhoso e disse repleto de carinho:

― Ficaram ótimos! Melhores que os da máquina. ― Em seguida, acariciou meu rosto.

― Também não é pra tanto, mas foi perfeito. ― Suspirei, contente com o elogio sincero.

― Eu tinha certeza que seria. ― Ucker aproximou seus lábios dos meus, beijando-me com ternura.

Após nos separarmos junto à porta do meu quarto, ele me desejou boa noite. Ambos estávamos exaustos, mas felizes pela conquista do dia. Era reconfortante saber que cumprimos nosso objetivo. Quando entrei no cômodo, reparei nas pinturas em cima da escrivaninha, e uma vontade súbita de voltar a estudar mais sobre o assunto me invadiu. Fazer aqueles moldes para a empresa despertou minha curiosidade artística!

Alguns minutos depois, vesti meu pijama para dormir e me aconcheguei nas cobertas. Mati descansava sereno ao meu lado, observei o garotinho enquanto eu retirava uma mecha de cabelo da frente dos seus olhos. Desde que ele chegou na minha vida, tudo mudou, transformou os momentos desbotados em vibrantes, como se uma tela cinza tivesse sido inundada com um arco-íris.

― Dessa semana não pode passar, Christopher precisa saber a verdade ― murmurei ao mesmo tempo que ajeitava a coberta no corpo do menino.

As palavras ecoaram em minha mente antes de adormecer, de uma forma que parecia um lembrete.

No meio da madrugada senti uma movimentação estranha. Sonolenta, tentei enxergar no escuro, Matheus se mexia inquieto. Estendi minha mão em sua direção, encostando em sua testa. A sensação foi imediata: era febre. O calor emanava de sua pele. Preocupada, levantei atrás da caixinha de remédio.

― O que houve? ― Escutei a voz do Ucker atrás de mim na cozinha.

― O Mati está com febre, não encontro o remédio. ― Vasculhei outra vez a maletinha, desesperada.

― Por que não levamos ele no hospital?

― Não! Hospital, não! ― retruquei depressa.

― Tá bom ― Sua voz saiu um pouco incerta. ― Então, o que você quer fazer?

― Um banho morno e vou ligar para o pediatra dele para pedir orientações ― respondi mais para mim mesma.

Logo depois, o rapaz me seguiu até o quarto, enquanto buscava o celular para ligar para o médico. Diante da situação, comecei a agir no automático, tirando a camiseta do menino.

― Deixa que eu levo ele para o banho ― Ucker ofereceu, pegando o Matheus no colo, pois o garotinho estava meio apático.

Após insistir algumas vezes, o pediatra atendeu. Ouvi atenciosamente as suas instruções e quando encerrei a ligação, caminhei rumo ao banheiro. Ver Christopher cuidando do Mati causou um misto de emoções em mim, por um lado senti um grande alívio por não estar sozinha dessa vez. Ao mesmo tempo, fiquei encantada pelo jeito protetor dele que segurava o menino nos braços debaixo do chuveiro. Uma cena que me comoveu, tocando uma parte delicada do meu coração. Como se, naquele instante, eu vislumbrasse um faz de conta.

― Toalha? ― Para disfarçar o incômodo, perguntei pegando a peça no armário. ― Consegui falar com o médico, ele passou uma receita nova. Disse que se o Matheus não melhorar em vinte e quatro horas, terei que levá-lo no hospital ― expliquei em uma careta.

Em seguida, Ucker fechou o registro da água, ao mesmo tempo que envolvi o garotinho na toalha, entreguei a outra para o rapaz.

― Obrigado, Dulce ― ele murmurou, secando os cabelos.

Eu que deveria agradecer, mas ao invés disso, apenas fui capaz de encará-lo, cheia de gratidão.

Depois de enxugar o Mati, levei-o para o quarto, Christopher também aproveitou para se trocar. Eu olhava o relógio do celular, constando que seria difícil encontrar uma farmácia aberta a essa hora quando o Ucker apareceu. Talvez, ele percebeu a minha preocupação, pois logo ofereceu para comprar o remédio.

― Não precisa fazer isso ― protestei.

― Eu vou rapidinho, cadê a receita? ― O rapaz enfiou a chave do carro e a carteira no bolso da calça.

Um pouco contrariada enviei para ele a prescrição médica, ao observá-lo sair pela porta, mordi os lábios. Por um momento, parecíamos uma família...

***

Despertei assustada assim que alguém me cutucou.

― Desculpa te acordar ― Ucker sussurrou. ― Só queria avisar que estou indo para a empresa.

― Ai, nossa! Já? ― Cocei os olhos, bocejando. ― Tenho que me arrumar. Será que a Annie consegue ficar com o Matheus? ― refleti em dúvida.

― Você não vai hoje.

― Mas e os seus compromissos? ― Levantei da cama.

― Acho que consigo me virar sozinho por um dia.

Arqueei uma sobrancelha, eu não tinha tanta certeza disso.

― É uma ordem, Dulce! ― Seu tom saiu firme ao notar a minha expressão.

O puxei para fora do quarto já que o Mati dormia tranquilamente.

― Então irei trabalhar de casa. Posso responder os e-mails e qualquer coisa me chama por vídeo.

― Dulce, não...

― Christopher, são muitos problemas para resolver hoje, esqueceu que por conta da impressora estragada, você terá que pedir para entregar as mercadorias com um dia de atraso?

Mesmo tendo algumas peças em estoque, não conseguimos produzir o suficiente para uma encomenda.

― Tá bom, você está certa.

Sorri sem mostrar os dentes e então o abracei. As lágrimas que eu havia segurado durante a madrugada finalmente escaparam do meu peito.

― Ei, ei, o Matheus vai ficar bem. Ele já tomou o remédio. ― Acariciou os meus cabelos, tentando me confortar.

Não era apenas com o Mati que eu me preocupava. De repente, contar sobre o bebê para o rapaz implicaria em desistir dessa fantasia de uma família. Como ele reagiria ao saber da verdade? Apertei meus braços mais forte contra seu corpo, um medo avassalador tomou conta de mim, e se eu perdesse tudo outra vez? 

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Mati ficou dodoí hoje :( morri aqui com esse momento deles 🥺 Será que Dul vai voltar atrás? 
Ps: só acho que uma hora ela não terá como escapar da verdade... 

Vejo vocês no próximo capítulo, beeijos ;*