Matheus estava muito ansioso para o momento do karaokê, falava sem parar das músicas que queria cantar. Quando o final de semana chegou, o garotinho perguntava a cada segundo que horas seria a "nossa apresentação". Ele realmente ficou animado!
― A mamãe recebeu alta do hospital hoje, o papai está lá em cima com ela ― Annie comentou assim que abriu a porta de entrada. ― Vamos para a sala de jogos.
― Oi gente, já preparei um lanche ― O Ucker apareceu logo depois. ― Quem tá com fome? ― O rapaz carregava dois pratos com sanduíches.
― Eu!! ― O Mati gritou empolgado.
Christopher sorriu para o menino e eu reparei melhor no que ele vestia. Uma calça jeans clara, blusa preta e uma jaqueta marrom, em um estilo mais despojado. Os cabelos úmidos, além do cheiro de sua loção pós-barba, insinuavam que ele acabara de sair do banho. Então, parecia que a voz do Christian sussurrou no meu ouvido: um puta de um Deus Grego!― Tem água? ― perguntei, a boca secou de repente.
― Na cozinha, pode pegar. Você sabe o caminho, né? ― Ucker respondeu com uma piscadinha.
Andando na direção do corredor, eu refleti que sabia até demais. Ao entrar no cômodo, busquei um copo no armário para em seguida o encher. Olhando pela janela, tomei o líquido, logo que senti minha garganta refrescar, pensei que era esquisito imaginar que essa casa foi o começo de tudo. Da nossa história.― Vejo que não se perdeu ― Saltei assustada assim que escutei a voz do Christopher.
― Ai, garoto! ― Levei a mão livre no peito. ― Avisa primeiro.
― Da próxima vez eu venho com um sininho no pescoço ― ele disse rindo.
― Tão engraçadinho, sabe que não seria uma má ideia? ― Não consegui evitar um sorriso divertido.
― Você me ajuda a trazer as bebidas? ― o rapaz questionou segundos depois.
― Claro!
Enquanto ele se encaminhava para a geladeira, eu resolvi pegar mais copos no armário. Deixei-os sobre a pia por um instante.― Onde encontro uma bandeja? ― Eu me aproximei dele no momento em que a porta do refrigerador foi escancarada para trás.
Senti uma pancada na testa quando o choque ocorreu.― Ai! ― Minhas mãos se posicionaram no local dolorido.
Ucker veio até a mim preocupado.― Deixa eu ver se a coisa é séria. ― Ele segurou meu rosto entre as mãos. ― Pelo menos, não irá precisar de ponto ― o rapaz comentou concentrado. ― Mas perdeu a metade da testa que ficou na porta da geladeira. ― Seu tom zombador não passou despercebido, eu revirei os olhos.
― É mesmo? Acho que foi inveja por você ter deixado sua marca na parede da garagem. Quis fazer igual! ― Nós dois rimos recordando de quando ele era mais novo e acabou batendo com a boca na parede andando de skate.
Então nos fitamos, um clima completamente oposto das outras vezes, uma sensação mais leve nos contagiou. Esqueci do resto do mundo, perdida na profundidade de suas íris castanhas. Inclinando a cabeça para o lado, encostei minha mão na sua que ainda repousava no meu rosto. Dessa vez, não tinha o efeito do álcool, não podia negar que desejava sentir o toque dos seus lábios contra os meus. Talvez um último beijo de despedida...
Uma música infantil ecoou meio abafada nos tirando do nosso momento particular, nos lembrando que havia outras pessoas no recinto. Entretanto, não estava me importando com isso agora. Que se dane também! Concluí no instante seguinte, puxando Christopher pela gola de sua jaqueta. Nossas bocas se uniram, em uma carícia lenta, como se esperássemos seis anos por esse adeus. Uma mistura de saudade e despedida, uma forma de encerrar um capítulo pendente. Meu coração batia descompassado, à medida que o beijo intensificou, nossos corpos se aproximaram mais, pareciam querer fundir nossas almas. Liberando toda a atração acumulada, as mãos dele seguraram firme na minha cintura enquanto as minhas continuaram agarradas a sua jaqueta. Cada toque era uma faísca que incendiava as emoções, constatando o inevitável. Ainda possuíamos aquela conexão de antigamente.
Eu me afastei assim que o negócio esquentou mais, apesar de tentar congelar o tempo, pois um segundo em seus braços era precioso demais. Sem hesitar, cruzei a cozinha levando comigo os copos em cima da pia.
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Coração Ferido
Hayran Kurgu|+16| Há seis anos, Dulce e Christopher se entregaram a um amor avassalador, uma paixão desenfreada os consumiu, apaixonaram-se perdidamente. No entanto, quando o rapaz recebe uma proposta irrecusável de estudar e estagiar no exterior, o relacioname...