Eu retirei a torta de carne moída do forno assim que o timer apitou, deixei minha taça de vinho em cima do balcão e respirei nervosa ao pegar a assadeira.
― Caramba! Aquele frio na barriga tá pior do que a primeira vez. ― Notei as minhas mãos trêmulas.
Então, levei a comida para a mesa e após conferir se tudo encontrava no lugar certo, retornei para a cozinha. Repassando o meu plano na cabeça, bebi todo o líquido vermelho, uma coragem extra não faria mal. Iríamos jantar, depois eu contaria para o Ucker a verdade sobre o nosso filho, por fim... Mordi os lábios, pensando que por baixo do robe fino de seda eu usava apenas a lingerie.
Um barulho de chave na porta fez meu coração disparar, Christopher voltava da casa dos pais. Não tinha como desistir agora, inspirei o ar, buscando encher os pulmões e oxigenar o cérebro. Peguei a outra taça me encaminhando para a sala.― Que bom que você chegou, tenho uma surpresa... ― Anahí passou pelo batente no instante seguinte, parei de falar ao perceber que revelaria meu plano de "um momento a sós" com seu irmão.
Christopher apareceu logo atrás dela, seus olhos escureceram quando observou o meu traje. Ele levantou uma sobrancelha, com um sorriso torto, como se entendesse o que eu havia planejado.― Que isso, já tá pronta pra dormir? ― Eu tentei formular qualquer coisa para respondê-la, entretanto, o fluxo de divagações da loira era enorme. ― Meu Deus, quanta fome! Você adivinhou meus pensamentos ― comentou puxando uma cadeira para sentar. ― Acredita que chegamos juntos aqui no prédio? Se combinássemos não daria certo. ― Ela soltou uma risadinha. ― Por que ficaram parados igual duas estátuas? Ninguém quer comer?
― Ah, com certeza! A gente quer comer ― Ucker retrucou, seu tom possuía uma pitada de malícia, o que arrancou algumas caretas discretas da minha parte.
― Vou pegar mais um prato. ― Eu retornei para a cozinha, um pouco constrangida. Por garantia, apertei mais forte o laço do robe assim que larguei a taça na pia.
Quando me acomodei na mesa, Annie olhou para os lados como se procurasse algo.― Cadê o Mati?
― Hoje ele foi dormir na casa de um amiguinho ― pronunciei, a voz quase falhando por relembrar do plano.
― Qual era a surpresa? ― minha amiga perguntou depois de alguns minutos.
― Ah, a surpresa... ― Meu cérebro forçou a achar uma desculpa. ― Seu irmão conseguiu fechar um ótimo acordo. O jantar era pra isso. ― Eu me remexi na cadeira, torcendo para ela não desconfiar de nada.
― Parabéns, maninho! ― O rapaz apenas acenou. ― Que bom que vim pra casa então. ― Ela sorriu contente e logo depois levou um pedaço da torta à boca. ― Meu dia foi puxado, aliás, essa semana será uma correria sem fim. A sessão de fotos para uma revista de moda dá um trabalho...
Enquanto a loira narrava suas atividades, eu aproveitei para avistar Christopher disfarçadamente. Seus olhos de vez em quando se fixavam em mim, algo me dizia que ele também pensava no momento interrompido. Meio frustrada, suspirei, desviando a atenção para o prato de comida. Após o jantar, continuamos conversando na sala, cada um bebendo uma taça de vinho para relaxar depois desse dia conturbado.Na terça de manhã, despertei sentindo o vazio da cama. Com muito esforço, levantei alcançando meu robe no cabide e entrei no banheiro. Quando saí, caminhei até a cozinha para preparar o café, para a minha surpresa, Ucker já estava de pé.
― Bom dia! ― ele declarou com um sorriso. ― Dormiu bem?
― Hum, seria melhor com o Superman. ― Apertei um lábio no outro me aproximando dele, envolvi meus braços ao redor de sua cintura.
― O quê? ― o rapaz questionou, claramente confuso com a minha resposta. ― Eu sou o Superman? ― Christopher entendeu a indireta, pois acabei deixando escapar uma risadinha. Então, afirmei ainda colada no seu tronco.
Ele também me abraçou, em um gesto carinhoso, encostou seu queixo no topo da minha cabeça.― Se serve de consolo, gostaria de ter passado minha noite de um jeito diferente. ― Ucker chegou um pouco para trás, segurando o laço do meu robe entre os dedos. ― Fiquei provocado pela surpresa que você preparou. ― Seus olhos me encaram com um brilho intenso.
Um sorriso tímido se desenhou no meu rosto e no momento seguinte ele aproximou sua boca da minha me beijando.― Dul, vai querer carona para o trabalho... ― Escutei a voz da Anahí. ― Ih, caramba! Eu volto depois.
Rapidamente nos afastamos como se fôssemos dois adolescentes pegos no flagra.― Por que não tomamos café? ― Christopher mencionou olhando a irmã.
― Tá bom! Acho que mereço algumas explicações ― a loira pronunciou com uma piscadinha.
Balançando a cabeça se divertindo com as palavras dela, o rapaz pegou a garrafa. Nós duas buscamos por nossas canecas no armário. De repente, o toque de um celular ecoou meio abafado.― Preciso atender uma ligação, podem começar sem mim ― Ucker declarou segundos depois.
― Amiga, você contou do bebê para ele? ― Annie sussurrou enquanto nos acomodávamos na mesa.
― Ainda não, ontem eu iria falar...
― Mas eu apareci. ― Ela fechou os olhos, repreendendo-se. ― Ah, não! Que estraga prazer. ― Deu uma leve batidinha na testa e então me fitou de um modo insinuativo. ― Minha nossa, Dulce Maria, você era a surpresa?
Bebi o café que acabava de encher na minha caneca, um pouco constrangida por estarmos tocando nesse assunto, pelo amor de Deus, ela é irmã dele! Annie acenou de uma forma que sugeria um "não se preocupe com isso".― Apesar de todo o sofrimento do passado, desejo que você recupere a felicidade. Se for para ser com o Ucker, eu espero que vocês se resolvam de uma vez.
― Obrigada, amiga! Vou encontrar o momento certo para conversar com ele. Não quero começar nada de um jeito errado.
Segurei a mão dela por cima da mesa e aguardamos Christopher retornar para tomarmos o café juntos.
***Eu digitava concentrada no computador quando o encarregado da fábrica, Antônio, apareceu na minha frente.
― Estamos com um problemão. Preciso falar com o senhor Uckermann.
― Ele não pode atender agora. O que houve?
― É urgente, Dulce! Se não solucionarmos isso, os produtos não serão entregues aos clientes.
Pela sua feição séria, notei que a coisa era grave mesmo. Por isso, decidi interromper a videoconferência do Ucker.
― O que aconteceu? ― o rapaz perguntou logo depois que remarcou o horário de sua reunião.
― Uma das impressoras de cerâmica parou de funcionar, estragou uma peça. O técnico só poderá consertar amanhã ― Antônio não perdeu tempo para explicar. ― Vim avisar que não conseguiremos entregar algumas encomendas.
Eita, ferrou! Não seria nada bom para a empresa.― Acho que tenho uma solução. ― Christopher me encarou de uma forma esquisita. ― Quantas pessoas necessitamos para pintar os desenhos? ― Ele passou a mão pelo queixo, pensativo. ― Dulce, faz os moldes na cerâmica enquanto outros funcionários colorem.
― Eu? ― respondi de olhos arregalados. ― Você bebeu, por acaso?
― Antônio, por que não chama os empregados que estão de folga? ― Ucker sugeriu logo em seguida.
Assim que o encarregado da fábrica saiu do escritório, balancei a cabeça em negação para o rapaz.― Não possuo habilidade para isso, Christopher.
― Claro que possui! Eu vi seus desenhos. ― Ele segurou minhas mãos, entrelaçando seus dedos nos meus. ― Ou precisarei apelar para o meu lado de chefe?
Suspirei nervosa, depois dessa "ordem" não tive como negar o pedido. Enquanto busquei controlar a ansiedade, após esse desafio esperava que ao final do dia, eu ainda permanecesse no meu emprego!---
Anahí!! Porque você faz isso, mulher? Eu achei que estava do nosso lado... O plano da Dul era maravilhoso <3
Vamos ver se ela terá mais sorte no próximo!! Beijos até domingo.
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Coração Ferido
Fanfiction|+16| Há seis anos, Dulce e Christopher se entregaram a um amor avassalador, uma paixão desenfreada os consumiu, apaixonaram-se perdidamente. No entanto, quando o rapaz recebe uma proposta irrecusável de estudar e estagiar no exterior, o relacioname...