03| Superman

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― A senhora disse uma palavra feia ― o garotinho comentou entre risadinhas, e eu percebi que estava há tempo demais junto daquele homem.

Seu perfume amadeirado era tão bom! Rapidamente me desvencilhei de seus braços, resmungando um muito obrigada. Inacreditável, tinha que ser desse jeito nosso reencontro?

― Dulce... ― Christopher pronunciou surpreso.

― Se você não se comportar, ficará sem ver desenho, entendeu? ― respondi para o Matheus ao pegar em sua mão, caminhando com pressa.

Nervosa, entrei na ala de internação onde a mãe da minha melhor amiga estava.

― Oi, meu amor!! ― Anahí cumprimentou o garotinho, logo que nos enxergou.

― Tia, tia, a senhora precisava ver um homem desse tamanho. ― Abriu os braços o máximo que pode. ― Segurou a...

― Não foi tudo isso, Matheus.

― Igual o Superman!!! ― Ele continuou o relato empolgado, mesmo tendo o interrompido.

― É mesmo? ― Ela arqueou as sobrancelhas na minha direção. ― Quem era o salvador de donzelas indefesas? ― Quase lhe mostrei o dedo do meio, pois seu tom de deboche não passou despercebido. ― Christopher! ― Saiu ao encontro dele. ― Meu caçulinha, não tem mais cara de bebê! ― Anahí apertou suas mãos no rosto dele. ― Nossa, quanta saudade... ― Ela o abraçou e em seguida deu um tapa em sua cabeça. ― Só assim para você aparecer, não é?

― Ai! ― Ele massageou o local. ― Também estava com saudades, maninha ― disse com um sorriso.

― É, ele! É, ele! O homem que te segurou igual o Superman ― Mati olhou para mim, ao mesmo tempo que puxava a minha blusa.

― Não me diga... ― falei baixinho, sem que ele escutasse.

Então quando me dei conta, Annie e o seu irmão pararam diante de nós. Não pude deixar de concordar com ela, o jovem rapaz que eu conhecia havia se transformado em um homem feito. Seus cabelos abandonaram os cachos, adquiriram um corte mais curto, além de uma elegante barba que se desenhava ao longo de seu maxilar.

― Quem é esse, garotinho? ― Christopher perguntou.

― Eu sou o Matheus e você?

― Pode me chamar de Ucker. ― Ele se abaixou para ficar do tamanho do menino. ― Gostei do seu traje! Acho que da próxima vez, devo trazer o meu. ― Mati balançou a cabeça, seus olhos pareciam brilhar.

― Filho? ― Escutamos seu Luís o chamar. ― Quanto tempo!

Christopher foi ao encontro do pai, abraçando-o. Eles começaram a conversar e eu resolvi entregar as coisas da Anahí, para poder ir embora logo.

― Olha quem apareceu hoje! ― Seu Luís se aproximou de nós. ― É verdade que você teve uma palestra de trânsito? ― questionou para o garotinho que afirmou em um aceno.

― O senhor sabia que antes de atravessar é preciso olhar para os dois lados? ― ele comentou sério.

― Sabia, sim, mas às vezes alguns adultos parecem esquecer, não é verdade? ― O homem pegou o menino no colo. ― Dulce, vou levar ele para ver a Alexandra, ok?

― Tudo bem, cinco minutos. ― Mati resmungou algo. ― Esqueceu da lição de casa, mocinho?

Seu Luís concordou com uma risadinha enquanto seguia para o quarto da esposa. Christopher aparentemente já estava por lá, pois ele não se encontrava mais no corredor.

― Dulce... ― Anahí chamou a minha atenção, sua voz saiu meio incerta.

― Oi.

Ela mexeu no cabelo, nervosa. Não gostei nenhum pouco do seu semblante.

― Eu sei que é pedir demais, mas eu preciso de outro favor.

Pelo jeito dela, eu sinto que esse favor me custará caro.

― Não posso deixar o Christopher se hospedar em um hotel ― ela falou de uma forma rápida, como se despejasse a bomba de uma vez só.

― Annie! ― Fechei os olhos, pensando que iria custar a minha paz.

― Ele é meu único irmão. Você me compreende, não é? ― explicou receosa. ― O papai reformou a casa inteira para a mamãe ter mais conforto, então não possui mais quartos extras.

Claro que eu a entendia, mas seria muito difícil conviver com o Christopher sob um mesmo teto. Entretanto, como eu poderia recusar seu pedido? O apartamento era dela! Balancei a cabeça afirmando e ela me abraçou.

― Talvez, ele nem fique por muito tempo. ― A loira tentou me animar.

― Apenas desejo uma coisa em troca ― respondi quando nos afastamos.

Seus olhos azuis me encararam sérios.

― Nem um pio sobre aquele assunto. ― Levantei as sobrancelhas.

― Mas Dul, você não acha que o Ucker também deveria saber o que aconteceu depois que ele partiu?

― Não... Seu irmão fez a escolha dele. Essa é a minha, me promete que não conta nada?

Ela mostrou o dedo mindinho para mim.

― Juro de mindinho! ― Nós apertamos um dedo no outro, igual fazíamos antigamente.

Logo depois, o pai dela apareceu carregando o Matheus como um saco de batatas em suas costas.

― O Superman pode voar para casa agora, já salvou o dia. ― Ele deixou o garotinho ao meu lado.

Sorri para o Mati que parecia cansado, seus olhinhos estavam quase se fechando.

― Muito obrigado por trazer ele, Dulce. A Alexandra adora as visitas desse menino aqui. ― Bagunçou os cabelos dele. ― Como se fosse nosso neto, quem sabe em breve não ganhamos um, não é mesmo?

Engoli em seco, apenas murmurei um "imagina". Em seguida, Christopher também saiu do quarto da mãe, Anahí e ele discutiram por alguns minutos.

― Dul, o Ucker vai levar vocês. Acomoda ele no meu quarto, depois a gente vê como vamos fazer. ― Sorriu desconfortável. ― Agora, cadê o beijo da tia? ― Ela se abaixou estendendo os braços. ― Cuida bem da... ― Pigarreou. ― Nossa Dulce, ok? ― Despediu do menino.

― Deixa comigo. ― Estufou o peito, imitando uma pose de super-herói.

― Vamos? Que o Superman tem lição de casa. ― comentei ao ajeitar sua mochila no meu ombro.

Matheus segurou na minha mão e Christopher acenou para a irmã, apenas observava nosso papo desde que eles chegaram perto de nós. Caminhamos em silêncio até o seu carro alugado, havia um clima estranho. Não estávamos confortáveis na presença um do outro. Após alguns minutos no estacionamento, pois precisei colocar o assento de elevação para o Mati, partimos.

― Posso ver desenho? ― Matheus perguntou logo que abri a porta do apartamento.

Seus olhos castanhos cor de âmbar me encararam tão suplicantes.

― O que a gente combinou?

― Primeiro a lição, depois o jantar e por último o desenho ― ele repetiu desanimado.

Sem muita vontade, o garotinho entrou na sala. Tirou os sapatos e se arrastou até a mesa. Christopher e eu logo em seguida o acompanhamos.

― Então... ― o homem começou a formular uma frase.

― O quarto da sua irmã é no final do corredor. Pode ficar à vontade. ― Apontei na direção do local.

Ele ameaçou sair do meu campo de visão carregando suas malas, mas de repente retornou. Engoli em seco, pois fitou uma hora o Matheus e outra, a mim. Pensei nos milhões de questionamentos que teria que responder. Segundos depois, suspirei aliviada, já que seus pés se moveram encaminhando-se para o quarto da Annie. Pelo menos, hoje, não precisaria me atormentar com isso. Porém, em compensação, mais tarde acabei sonhando com um tal de Superman a noite inteira! 

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E agora mais essa? Vão morar na mesma casa!! Será que isso vai dá bom ou não? Quem não sonharia com esse superman?? Já estou muito apaixonada pelo Mati e acho que alguém ficou super impressionado com o homem ahaha 

Até quinta, amores e Dulce receberá outra notícia que não irá gostar nadinha 👀 Beeijos ;*

Coração FeridoOnde histórias criam vida. Descubra agora