― Eu não disse que elas colocavam essas músicas melosas? ― Matheus comentou para o Ucker nos tirando de nossa conexão.
A melodia havia cessado segundos atrás.
― É, você tinha razão, mas agora que tal a gente agitar isso aqui um pouco? ― O rapaz questionou animado para o garotinho. ― Eu acho que podemos cantar uma do Michael Jackson, se não conseguir acompanhar a letra fazemos só os passos. Beleza?
Mati concordou e eu passei o microfone para ele, aguardando curiosa para saber como seria esse entrosamento. Beat it ecoou do alto-falante enquanto Christopher cantava ao mesmo tempo que ensinava os movimentos para o menino. Notei que Anahí se aproximava de mim, seu semblante continha uma expressão diferente.
― Não quero nenhuma palavra. ― Levantei a mão, imaginando suas insinuações.
― O quê? Eu não ia falar nada. ― Ela se defendeu. ― Mas, já que tocou no assunto, gostaria tanto que você enxergasse pelos meus olhos vocês dois juntos. ― Suspirou. ― Sério! ― A loira completou quando eu neguei com a cabeça. ― Queria minha máquina fotográfica para te mostrar. Tão perfeitos.
― Annie...
― Tá bom, parei.
― E o Poncho? ― Resolvi mudar o foco da conversa. ― Que horas ele chega?
― Ah, só mais tarde, aquele caso é algo grande, então aos finais de semana ele também trabalha.
Logo que o assunto encerrou, voltei a fitar os garotos dançando. Observei chocada como eles possuíam o mesmo jeito de se movimentar. Apesar do Matheus ser pequeno para ter uma coordenação dos passos, dentro de suas limitações ele acompanhava igualmente o Ucker. Além de segurarem o microfone da mesma forma! O dedo mindinho ficava por baixo da base.
― Meu Deus! ― Anahí exclamou tão surpresa quanto eu. ― Que loucura isso.
― Nem me fala... ― respondi atordoada, pensando como seria se existisse essa relação.
― Toca aqui. ― Christopher levantou as mãos para os dois baterem as palmas. ― Arrebentamos.
― Ainda bem que agora tenho um adulto masculino para brincar ― Mati comentou ofegante.
― Puxa, fiquei ofendida. ― Annie fez um biquinho para o garoto.
― Ah, tia, eu te amo. ― Ele chegou perto dela, abraçando suas pernas. ― Mas, às vezes, as meninas são chatas.
― Espero que nem eu e a Dul estamos nesse pacote ― a loira mencionou recebendo uma careta do Matheus. ― Achei que éramos amigos, seu danadinho. ― Ela começou a encher o menino de cócegas.
A risada fininha dele reverberou no ambiente, enquanto pedia para Anahí parar.― Chuva de cosquinha!! ― Eu me juntei a minha amiga para ajudá-la.
― Assim não vale ― Mati disse com dificuldade de tanto rir. ― Socorro, tio Ucker...
Christopher primeiro atacou a barriga de sua irmã, afastando-a de perto do garotinho e depois veio ao meu encontro. Assoprando suavemente a minha orelha, pois esse era o meu ponto fraco. Filho da mãe!― Muita sacanagem ― declarei apontando o dedo para ele ao mesmo tempo que inclinava a cabeça em direção ao meu ombro.
― Pode me retaliar mais tarde. ― Esboçou um sorriso arteiro.
Engoli em seco, fixando meus olhos onde sabia que havia uma sensibilidade de sua parte. O pescoço de Christopher pulsou um instante, parecia afetado pela nossa proximidade.― Dulce? ― Annie tossiu. ― Alguém quer ir no banheiro, acho que apertamos demais a bexiga desse carinha aqui e logo vai explodir. Só que ele não me deixa acompanhá-lo.
― Já sou grande o suficiente ― Matheus retrucou.
― Mas precisa da supervisão de um adulto, mocinho. ― Coloquei uma mão na cintura, encarando-o.
― Fala sério! ― Jogou a cabeça para trás.
Então, estendi a mão para ele, que relutou um pouco para aceitar. Em seguida, a loira mandou a gente para o segundo andar, pois o banheiro daqui debaixo estava com problema.― Se precisar de algo, estou aqui, ok? ― disse para o garotinho quando chegamos em frente da porta.
Mati acenou entrando no banheiro e eu observei o corredor vazio. Meu coração se descompassou logo que avistei o último quarto, como em um filme, as memórias ressurgiram. Ucker irritado por causa do lance de sua irmã, eu tentando acalmá-lo. Para amenizar o clima um pouco, tive a ideia de colocar uma música serena no seu aparelho de som, meio alterados pela bebida, nós começamos a dançar. Entre risadas por pisarmos no pé um do outro, acabamos nos olhando, aquela faísca de atração que sempre existira, incendiou nossos corpos. O desejo que havia mantido sob controle durante um mês finalmente estava à tona, sendo impossível resistir à eletricidade de sua pele contra a minha. Fechei os olhos, mesmo depois de todo esse tempo ainda podia sentir seu gosto, a maciez de seus lábios, a forma como nos encaixamos em uma perfeita sintonia. Tão perfeito para uma primeira vez... Mesmo em alguns momentos desconfortáveis. Reprimi um choro, pois embora possuísse um coração ferido, sabia que nunca deveria me lamentar por essa experiência única, ao contrário de muitas histórias que ouvi das minhas colegas.― A senhora tá com uma cara esquisita. ― A voz do Matheus me tirou dos meus devaneios.
― Não é nada, meu amor. ― Sorri para o menino não fazer mais perguntas. ― Lavou as mãos?
― Uhum. ― Ele balançou a cabeça afirmando.
Em seguida, caminhamos pelo corredor. Entretanto, ao passar por uma porta entreaberta, escutamos uma voz fraca chamar.― É você, meu menino? ― Era a dona Alexandra. ― Vem aqui com a mamãe. ― Eu e o garotinho nos olhamos sem reação. ― Não precisa ter medo, querido. Não vou brigar por causa de uma boneca que você jogou no lixo, prometo. Mas sua irmã ficou chateada.
Então entramos no cômodo, estava pronta para dizer que ela tinha se enganado, porém assim que reparei na mulher, um nó se formou em minha garganta. Seus cabelos loiros pareciam mais claros, quase brancos, seu rosto ganhou uma palidez, as bochechas afinaram e definitivamente emagreceu bastante.― Olha só você, os cabelos escureceram. ― Seus olhos brilharam. ― Meu menino lindo, a carinha não mudou nada. ― Alexandra o convidou para se aproximar da cama.
Enquanto a mulher abraçava o Mati, seu Luís apareceu no quarto trazendo uma bandeja com um prato. Ele me cumprimentou em um aceno e eu o observei espantada.― Hoje ela anda muito confusa, Dulce ― ele explicou. ― Acha que as crianças são pequenas. Apesar de que o Matheus está parecido com o Christopher nessa idade.
― Nessa fase os garotos são todos iguais. ― Apertei um lábio no outro, evitando comparações. ― Melhor deixarmos a Alê jantar, vamos? ― Peguei na mão do garotinho, puxando-o para fora do cômodo.
Quando chegamos na sala de jogos, uma onda de lágrimas tomou conta de mim, as lembranças associadas às palavras de seu Luís afloraram os sentimentos em minha alma.― Você cuida do Mati um instante? ― perguntei para a loira. ― Preciso de um pouco de ar.
Não esperei pela resposta, já que meus olhos estavam marejados prestes a desabar. Ao sair para o jardim, não consegui aguentar o peso da dor.― Amiga, o que aconteceu?
― Annie... ― Levei as mãos no rosto, soluçando. ― Não posso mais. ― Meus pulmões respiraram exaustos.
― Sabe o que eu penso? ― Ela se aproximou de mim, seus braços me envolveram. ― Esconder do Ucker sobre o bebê não está permitindo que você cicatrize as feridas. Por que não conta tudo logo de uma vez?
Enquanto suas mãos acariciavam meus cabelos, eu fui me acalmando. Refletindo o questionamento da loira, talvez ela estivesse certa. Cada hora um sentimento era despertado, trazendo à tona muitas emoções. Mas será que eu teria coragem? Apertei as pálpebras em dúvida, mexer nesse vespeiro geraria mais angústia!---
Ih descobrimos mais uma coisa hoje, ele foi o primeiro dela :o E agora, será que ela terá coragem?
Amores, vou tentar postar sábado. Fiquem ligadas! Algumas estavam esperando por esse momento que virá no próximo capítulo... Beeijos, até mais;*
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Coração Ferido
Fanfiction|+16| Há seis anos, Dulce e Christopher se entregaram a um amor avassalador, uma paixão desenfreada os consumiu, apaixonaram-se perdidamente. No entanto, quando o rapaz recebe uma proposta irrecusável de estudar e estagiar no exterior, o relacioname...