15: Spencer

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   Escorreguei minha cabeça pelo vidro da janela sentindo em minha testa o frio congelante que estava do lado de fora, e mais uma vez mesmo que eu tentasse usar as roupas mais quentes ainda não era o suficiente para me proteger da temperatura.

   O burburinho das pessoas conversando dentro da cafeteria em um domingo de manhã chegava aos meus ouvidos me deixando levemente irritada mesmo que de certa forma eu não entenda o porquê me sinto assim. Talvez a falta de umas boas horas dormindo tenha me deixado meio área, desconectada, irritada e impaciente.

   Bryan, que estava ao meu lado desde a hora em que chegamos deu um leve aperto em seu dedo mindinho que estava enlaçado com o meu para transmitir um pouco de carinho e força através do simples gesto.

   Respirando fundo e deixando o aroma de panquecas e café invadir meu nariz eu apoiei minha cabeça no ombro de meu melhor amigo sentindo meu corpo relaxar e o sono aparecer. A vontade tentadora de dormir sentada aqui mesmo me fazia acreditar que esse seria o melhor cochilo em meses.

   Sabe quando você sente que algo é errado mas justamente por ser parece tão bom? Era exatamente como eu me sentia agora.

   O toque do sino no topo da porta de entrada avisava que alguém havia acabado de chegar, com isso observei Cristopher adentrar no estabelecimento lentamente enquanto desenrolava um cachecol preto de seu pescoço.

   A moça alta de pele bronzeada e cabelos cacheados que ficava atrás do balcão assumiu uma coloração vermelha na região das bochechas quando Turner parou em sua frente para fazer um pedido enquanto bagunçava seu cabelo para remover os flocos de neve que se acumularam ali.

   Após escolher o que consumiria Cristopher veio em nossa direção cruzando seu par de olhos azuis com os meus pesados e cansados, sem jeito desviei o olhar para o lado de fora da cafeteria onde pessoas passeavam alegremente tirando fotos impressionados com a beleza que a estação fazia em nossa cidade. 

   Turistas alegres escondendo o perigo que vaga pelas ruas escuras em suas selfies sorridentes com belas paisagens.

   Finalmente Turner se sentou em minha frente depositando sobre a mesa seu cachecol e um jornal, cuidadosamente seus olhos varreram o local ao redor como se garantisse que estava seguro para começar a falar.

— E então o que você descobriu? — Bryan perguntou ansiosamente

— Pra falar a verdade não muito — suspirou com um tom de voz decepcionado — A autópsia oficial ainda não saiu então a polícia não sabe de muita coisa até agora

— Mas o que sabem pelo menos?

— A garota se chamava Spencer, tinha vinte e quatros anos, morava praticamente do outro lado da cidade e trabalhava por meio período na creche — iniciou — Estava noiva de um cara chamado Tayler que trabalha em uma farmácia próximo de onde seu corpo foi encontrado

— Ele quem a matou? — perguntei

— Nada indica que tenha sido isso — me olhou de relance por baixo dos cílios volumosos — Ela estava indo encontrá-lo para saírem juntos quando acabasse o expediente, mas ele alega que ela nunca chegou na farmácia

— E a policia acreditou nele? — Bryan puxou o jornal para si o abrindo na página onde o acontecido da noite passada estava noticiado

— Sim, tem uma câmera na frente da farmácia que confirma que ela não foi até lá e nem que ele saiu na hora do ocorrido — os olhos de Cristopher pousaram em meu pescoço procurando as marcas que seu aperto causou

   Eu sei que ele chegou a vê-las durante a madrugada já que eu usava apenas um pijama de alcinha que as deixava a mostra, diferente de agora que era uma camisa de gola alta.

Em Meio Ao MistérioOnde histórias criam vida. Descubra agora