48: Cômodo extra.

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     Meu coração acelerado batia em meu peito de forma tão intensa que eu podia senti-lo pulsar em minha pele fria, meus dedos ansiosos agarravam de forma firme a jaqueta de couro do detetive que permanecia paralisado à minha frente. Ao tocar em suas costas pude sentir o subir e descer de uma respiração pesada, junto de seus músculos tensos, talvez pela temperatura gelada da madrugada, ou talvez pela tensão que o momento nos proporcionava.

   Ainda a alguns metros de distância da pequena cabana solitária em meio a floresta, estava ele, a silhueta masculina e paralisada ao lado de uma árvore coberta por neve, com uma roupa preta que cobria seu rosto sem deixar que víssemos até mesmo o tom de sua pele. Em sua mão uma pistola prateada chamava a nossa atenção pelo brilho intenso.

   Por mais que eu não conseguisse ver qualquer mínimo detalhe de seu rosto, eu podia ter a certeza de que ele sorria enquanto nos observava.

   Meu estômago formigava pela ansiedade, trazendo emoções que se misturaram por incansáveis seis semanas de espera. Onde durante todos esses dias eu permaneci sentada no pequeno sofá, observando pela janela à espera de que em algum momento ele aparecesse e viesse até mim. Torcendo para que um dia chegasse as respostas de minhas milhares de perguntas.

   Eu o esperei como uma boa esposa aguarda a chegada de seu marido após um longo dia de trabalho. Esperei como uma criança animada que contava os segundos para a chegada de seu pai à mesa onde todos reunidos tomam o café da manhã. E humilhantemente esperei como um animal de estimação que esta sozinho em casa, torcendo para que a qualquer momento seu dono abra a porta e possa brincar um pouco.

   Mas agora, estando aqui a alguns metros de distância, tudo o que eu conseguia sentir era angústia. A ansiedade por minhas respostas estava sendo deixada de lado para que a ansiedade por medo de que Cristopher se machucasse se tornasse maior.

   Se eu estivesse sozinha com certeza minha vontade seria de chamar o homem desconhecido para entrar e tomar um café enquanto me dá explicações para depois atirar em minha testa. Mas agora, Cristopher Turner está entre nós, e eu nunca me perdoaria se ele fosse ferido por minha culpa.

— Cristopher — sussurrei apertando ainda mais meus dedos entre o couro escuro, sentindo que a qualquer momento o tecido se rasgaria — Por favor, vá embora

— Pra que? Pra você se matar da forma mais humilhante possível? — sua voz ríspida saía baixa, deixando que o vento carregasse suas palavras

— Eu não quero que você se machuque, por favor, me deixe falar com ele enquanto você corre para a cidade.

— Por mais que eu te odeie agora, não posso perder minha honra e deixar você se matar de forma tão fácil assim — suspirou — Eu prometi ao seu pai...

   Sua frase não foi terminada, deixando um ar de curiosidade se misturar com a dor de lembrar que eles eram "amigos". Talvez Turner saiba coisas sobre minha família que eu nunca sonharia em saber, talvez meu pai tenha lhe confessado segredos que eu não possa saber, mas que mesmo assim me envolvam em algo maior.

— Eu não quero que você se machuque — soltei sua jaqueta vendo o pequeno amassado causado pelo aperto de meus dedos se destacar entre o couro

— Tarde demais pra falar isso depois de tudo em que eu me meti por sua causa.

   Suas palavras amargas me atingiam como facas afiadas, rasgando os pequenos espaços de minha pele que ainda não sangravam. Eu podia sentir o amargor em sua voz, o arrependimento de um dia ter me conhecido.

   Eu não poderia culpá-lo ou julgá-lo. Se tudo for verdade esse tempo todo ele apenas tentava me proteger, fazendo o possível e impossível para me manter em segurança. Talvez a pedido do meu pai ou apenas por esse ser o seu trabalho.

Em Meio Ao MistérioOnde histórias criam vida. Descubra agora