Em Meio Ao Mistério

37: A Nossa Noite

    Pela cabana, um cheiro gostoso de bolo de baunilha com cobertura de chocolate recém feito se espalhava por todos os pequenos cômodos se misturando com o aroma forte de café quente. A noite lá fora parecia demorar mais que o habitual para terminar, e isso estava sendo algo favorável para mim e o detetive.

   No quarto/sala ao lado da cama e sobre o criado mudo o relógio digital mostrava com números em vermelho que agora era quatro e vinte e cinco e isso nos indicava que havíamos passado boa parte da madrugada acordados, conversando bobagens, rindo, contando histórias aleatórias de nossas vidas e tendo a brilhante ideia de fazer um bolo para o nosso café da manhã.

   Agora, com o ar gelado da madrugada se infiltrando pelas paredes de madeira da cabana não nos restava outra opção a não ser buscar calor embaixo dos cobertores sobre cama, com o passar dos segundos estávamos aconchegados um aos braços do outro, aproveitando a temperatura quente que emanava de nossos corpos, ironicamente sem roupa.

   Como isso chegou a acontecer? Sinceramente nem eu mesma faço ideia de como tudo mudou e nos fez parar aqui, mas tenho a certeza que se alguém nos falasse a uma semana atrás que agora estaríamos aqui e assim com toda a certeza eu teria nomeado este ser como o mais louco do mundo.

— Porque não tenta voltar a dormir? — Cristopher perguntou em um tom baixo afundando seus dedos entre meu cabelo para um carinho aconchegante nos fios bagunçados — Seus olhos parecem tão cansados

— Já perdi o sono — assumi afundando minha cabeça entre a curvatura de seu pescoço encarando as linhas finas das tatuagens que se espalhavam por seu peitoral nu — Sou acostumada a ficar acordada por mais tempo que o normal

— Precisa parar de tomar remédios para se dopar — desceu sua mão para minhas costas fazendo meus pelos se arrepiarem com o deslizar de seus dedos sobre minha pele — Viu como facilitou que eu entrasse aqui sem você perceber?

— Se eu não tomar posso chegar até a três dias sem dormir — puxei o ar com certa força sentindo o cheiro do resquício de seu perfume que ainda impregnava em sua pele — Mesmo sem querer eu me forço a toma-los

— Porque não consegue dormir? — senti seu queixo se apoiar no topo de minha cabeça — O que te incomoda tanto Emilly?

— Tenho medo — assumi em um sussurro encarando a movimentação quase imperceptível das cortinas em frente a janela acima da mesa redonda — Meu corpo se acostumou a ficar em estado de alerta, isso me impede de relaxar a mente porque qualquer mínimo barulho me faz acreditar que ele está me observando no canto do quarto

— Estou aqui com você agora — me apertou levemente em um meio abraço deixando um rápido beijo em minha testa — Não vou deixar que ele te observe pelos cantos, volta a dormir

   Não consegui conter o sorriso espontâneo que se formou em meus lábios e por um segundo me vi perdida em meio a uma guerra intensa. Internamente a razão e a emoção estavam travando uma batalha para decidir qual seria a líder de minhas escolhas e ações.

   De forma mais brusca a razão me dava tapas no rosto para que eu voltasse a realidade e entendesse de uma vez por todas que isso era um erro. Que a minha relação com Cristopher deveria ser somente profissional e esse deslize que ocorreu entre nós não podia ser dado continuidade. Era mais do que óbvio que seu coração era ocupado somente por sua ex esposa e que nunca uma exceção seria disponibilizada para mim.

   A história deles parece ter sido intensa demais, e quem seria eu para tentar ocupar o lugar dela?

   Por outro lado, a emoção me fazia ferver a cada toque de seus dedos em minha pele, a cada beijo, a cada abraço, a cada palavra carinhosa e cuidadosa que ele direcionava a mim. Meu coração estava em suas mãos me fazendo querer mais e mais dessa sensação que ele estava me proporcionando.