29: Café quente

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    Parei em frente a porta de madeira com pequenos quadrados em vidro permitindo que o interior pudesse ser visto perfeitamente, a biblioteca, ou seja lá qual outro nome Cristopher dá a esse lugar, estava silenciosa e calma, com as luzes apagadas e sem nenhum sinal de que alguém estava ali.

  Antes de chegar conferi pela rua que apenas uma luz no andar de cima estava acesa e mapeando o lugar em minha mente tive a certeza que a claridade vinha da cozinha/sala de estar. Minha principal missão agora era de fugir o máximo possível do par de olhos azuis. 

   Existe uma grande possibilidade de que ele nem se lembre do que aconteceu devido a sua situação, mas, eu não consigo esquecer do toque macio de seus lábios aos meus nem sequer por dez minutos. 

   Não imagino como seria uma conversa entre nós sobre o que aconteceu, o tremendo constrangimento que eu sentiria, primeiro por estar completamente errada por ter deixado que ele me beijasse mesmo tendo ciência do quão bêbado e vulnerável ele estava naquele momento, segundo por ter descoberto coisas intimas de sua vida desta forma, sabendo também que provavelmente ele nunca me contaria sobre. 

   Sai de meus pensamentos quando me dei conta de que já estava a tempo demais parada em frente a porta, em meio a rua deserta. Graças ao frio intenso as três horas da tarde e a quantidade excessiva de neve que esta caindo deixando a todos preocupados, os comerciantes foram obrigados a fechar seus comércios mais cedo para se proteger. 

   A linda cidade turista no inverno esconde por baixo da branca e bonita neve a tristeza e decadência que nossa cidade enfrenta nesse período, com a circulação de trem interditada não conseguimos receber suprimentos, do mesmo modo que não conseguimos exportar a produção feita pela fabrica, deixando nossa renda baixa por toda a estação.

   Mas, graças a um bom planejamento gerado pela prefeitura local, conseguimos nos organizar e nos manter até o ultimo dia onde uma grande comemoração é feita na praça da cidade para agradecer a chegada da primavera. 

   Livrei minhas mãos do par das calorosas luvas de couro e retirei do bolso o molho de chaves, assim que ouvi o destrancar da porta me enfiei para dentro do cômodo sentindo o forte cheiro das incontáveis paginas de livros invadir o meu nariz.  

   Varri o local com os olhos agradecendo por realmente não haver ninguém ali, uma pequena quantidade de luz iluminava o topo da escada e o confortável silencio chegava aos meus ouvidos parecendo que ninguém além de mim estava na casa. Talvez Cristopher ainda estivesse dormindo ou vegetando na cama com uma baita ressaca. 

   Não estava afim de conferir seu bem estar então atravessei o cômodo com os passos mais largos e rápidos que eu conseguia usar. Sem demora sai pela segunda porta e entrei na cabana sentindo as batidas de meu coração aceleradas, como a aflição de alguém que esta realmente fugindo.

   Joguei meu casaco e as chaves sobre o sofá junto do livro que eu lia durante a madrugada apenas para passar o tempo sem surtar, espero terminar de lê-lo antes que Cristopher dê falta em sua prateleira. Retirei o par de botas deixando que meus pés ainda cobertos por meias aproveitassem a sensação gostosa de tocar o piso de madeira.

   Caminhei até a cozinha em busca de preparar algo quente, um café cairia bem agora.

   Retirei as coisas do armário e comecei a preparar a bebida, enquanto esperava a água ferver observei através da janela o lago congelado que dava inicio a floresta. As folhas verdes que antes possuíam as grandes arvores estavam agora tomadas por uma camada branca de neve, assim como tudo ao seu redor, quando se observa atentamente nota-se que o inverno trás um ar de tristeza, escondendo todas as lindas e vibrantes cores que as flores e jardins costumam possuir, tudo agora se torna preto e branco por alguns meses. 

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