49: Discussões

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    O silencio acolhedor era interrompido apenas pelos passos pesados do perseguidor que nos procurava na cabana acima, pela direção ele se movia entre os cômodos, nos procurando, nos caçando como um bom predador atrás de suas presas.

   A adrenalina em meu corpo passava conforme os segundos perturbadores, com isso minhas pernas começavam a fraquejar, tremendo como se a carne em meu corpo se transformasse em gelatina, me obrigando a sentar em uma das poltronas de couro marrom. A maciez do estofado me recebeu de forma acolhedora, minhas costas se apoiaram e finalmente meus ombros que já estavam rígidos relaxaram.

   Meu olhar curioso vagou pelo cômodo, acumulando mais perguntas a cada centímetro. Nossa iluminação fraca vinda apenas de velas não me permitia ter a perfeição de detalhes, mas o pouco que via já me deixava encantada. As paredes possuíam um tom de azul claro, todos os moveis eram de madeira e os estofados seguiam um padrão de couro amarronzado. As paredes quase não eram vistas já que estantes com livros ocupavam todo o lugar.

   Os sofás ao centro acompanhavam uma pequena mesa de apoio, alguns cadernos estavam espalhados sobre ela, junto a uma garrafa de whisky e um copo um pouco empoeirado. Ao lado das duas portas e no canto da parede estava uma escrivaninha, mais cadernos estavam espalhados ali, junto de algumas caixas de arquivo. Ao lado da escada de madeira que nos trouxe até aqui, um armário com portas em vidro guardava garrafas de vinho, champanhe e mais whisky.

   Obviamente o lugar era frequentado por alguém, o cheiro não era nada parecido com poeira ou mofo, o que me surpreendia devido as centenas quantidades de livros nas prateleiras, talvez eu demorasse o resto da vida se tentasse ler todos. O aroma do ambiente se parecia com hortelã, mas não de uma forma forte e enjoativa, e sim como algo leve e doce, o que estranhamente trazia uma sensação confortável apesar da situação e do escuro.

— Acha que ele já foi? — a voz de Turner saiu em um tom baixo, me roubando dos pensamentos ao qual eu me afundava 

— O que? 

— Os passos, acabaram — seu olhar estava preso na escada, talvez esperando que o perseguidor aparecesse ali a qualquer momento — E a porta foi aberta e logo em seguida fechada 

— Não sei — me encolhi ainda mais na poltrona, desejando que o tecido me absorvesse — Precisamos subir para ter certeza

— Você fica aqui — começou a subir os degraus — Eu aviso se estiver tudo bem 

Não! — me opus levantando em segundos e indo até ele — Eu vou primeiro, é a mim que ele quer, se ainda estiver lá encima virá atrás de mim, isso da tempo de você sair e ir embora o mais rápido que conseguir 

   Seu rosto virou em minha direção lentamente, seu olhar pesado transparência raiva, seus dedos ficaram brancos devido a força usada para segurar no apoio da escada.

— Qual é a porra do seu problema? — sua voz amarga entrava em meus ouvidos fazendo meus pelos se arrepiarem com o aperto que aumentava em meu coração — Ficou maluca de vez depois de ficar em uma cabana no meio do nada por muito tempo?

— Diga se estou errada Cristopher, você sabe que desde o inicio ele quer a mim, você estar aqui é apenas uma consequência do destino — meu tom era firme, torcendo para que assim ele entendesse que eu tinha razão — Vá embora antes que se machuque, fuja enquanto ele vem atrás de mim

É? Então quer que eu vá embora e deixe você aqui pra ser esquartejada e sabe-se lá mais o que ele planeja fazer com você e finja que esta tudo bem? — seu corpo se afastou da escada vindo em minha direção coberto por irritação 

— Eu não quero que se machuque por minha causa — sussurrei quando os centímetros estavam poucos o suficiente para que ele me ouvisse bem 

— Porque não parou pra pensar assim antes de bater na porra da minha porta? — seus passos para frente me faziam recuar, meu corpo encolhia com cada palavra que saia de sua boca — Porque não se sentiu assim antes de me meter em tanta confusão? Antes de bagunçar toda a porra da minha vida?

— Cristopher... eu...

— Acredite, se arrependimento matasse, uma hora dessas eu já estaria em decomposição no cemitério da cidade — minhas costas se chocaram na parede, e mais uma vez Cristopher me encurralava enquanto despejava palavras acidas encima de mim

— Por favor eu...

— Todas as escolhas que essa sua cabecinha de vento acredita estar certa apenas prejudica outras pessoas, você já parou pra pensar o que fez em mim e no seu amiguinho Bryan? Tem noção de como suas atitudes mudaram a porra de nossas vidas?

— Para com isso Cristopher — pedi, sentindo a ardência em meus olhos pelas lágrimas

— Tudo o que você fez foi nos deixar preocupados — seu corpo a cada segundo parecia se tornar maior enquanto o meu apenas se encolhia contra a parede 

— Eu não tenho culpa de nada que aconteceu — encarei seus olhos que agora estavam avermelhados pela raiva que incendiava em sua pele — Não é como se eu tivesse escolhido passar por tudo isso

— Até seu pai estaria vivo se não tivesse ido atrás da filhinha querida dele, maldita foi a hora em que eu não o arrastei para longe enquanto dava tempo.

— Para! — pedi em tom alto, com certeza se alguém está lá encima vai nos ouvir agora

   Meu corpo sendo consumido por todas as palavras escorreu até o chão, meus soluços presos em minha garganta finalmente saíram, as lágrimas escorriam pelo meu rosto como cachoeiras sem fim. Talvez meu pai ainda estivesse vivo se tivesse ido embora, ele morreu porque quis se despedir de mim, esperou até me ver mais uma vez, talvez finalmente me contasse o que estava acontecendo antes de fugir, mas... Ele morreu porque estava ali, comigo

   Minha culpa, minha culpa, minha culpa, minha culpa.

   Eu o matei, eu o matei, eu o matei, eu o matei. 

— Quer saber? — Cristopher suspirou, afundando os dedos entre os fios escuros de cabelo e os puxando para trás — Eu vou sim embora, você quer ficar aí? Então fique, sozinha

   Seus passos apressados voltaram para a escada, começando a subir os degraus para ir embora.

— Já que você quer tanto, espero que ele encontre você Emilly, espero que ele venha até aqui e faça o que tanto planejou para sua família — seu desejo era sincero, o ódio em sua voz transparência em cada letra — E se por acaso ele me encontrar pelo caminho e algo acontecer comigo, espero que saiba e assuma toda a culpa que você tem por me meter nisso, meu sangue estará em suas mãos, lembre-se disso até o ultimo suspiro de sua vida

   O ranger da pequena porta ecoou por todo o lugar. Mais uma vez eu estava sozinha, sendo possuída por todas as palavras que me cortavam como facas afiadas, os gritos se apertavam em minha garganta, a ansiedade agora me consumia outra vez. 

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⏰ Última atualização: Nov 01 ⏰

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