24: Imagens do passado

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    Após deixar Cristopher sozinho no quarto para ir atrás de uma toalha molhada para limpar seu sangue aproveitei para bisbilhotar sua casa apenas para passar o tempo e não precisar olha-lo por enquanto, a vergonha era tanta que se eu pudesse enfiar minha cabeça no chão eu certamente faria, talvez mais tarde eu me esconda em meio aos montes de neve e nunca mais saia durante o inverno.

   Não me preocupei com o andar de baixo pois já o conhecia então comecei abrindo a primeira porta do corredor no lado direito encontrando uma mine sala dividida com a cozinha por um balcão de mármore, modelo semelhante aquelas chamadas "cozinhas americanas". Quando se entrava no cômodo encontrava primeiro a cozinha e no fundo perto da janela estava a sala que possuía apenas um pequeno móvel servindo de apoio para a televisão e dois sofás, o cômodo era pequeno mas com moveis e utensílios dos mais modernos possíveis em sua maior parte possuindo tons escuros entre preto, cinza e branco trazendo no final um ar de chique, era de se esperar se levarmos em consideração a postura do detetive.

   Indo para a primeira porta no lado esquerdo fui consumida por uma onda de curiosidade quando encontrei a mesma trancada, após pensar um pouco acreditei que deveria apenas ser um escritório onde Cristopher guarda as informações de seus casos selecionados, com a frustação de não ter uma tour completa pela sua casa fui até a última porta do lado esquerdo que já estava aberta.

   Encontrando o banheiro senti uma preocupação quando o espelho que deveria estar acima da pia se encontrava agora multiplicado em pedaços pelo chão, gotas de sangue manchavam a pia assim como os pedacinhos de vidro jogados, talvez Cristopher tenha esmurrada o espelho e esse foi o primeiro barulho que ouvi na cabana que me assustou. Voltando a observar o cômodo me surpreendi ainda mais quando encontrei a enorme banheira, meu Deus, eu queria tanto me jogar ali dentro com a água em uma temperatura quentinha quase de se ferver legumes e aproveitar o resto da noite assim.

   Aproveitando para adiar ainda mais o momento de encarar o detetive depois do que aconteceu comecei a juntar cuidadosamente os cacos do espelho para que ninguém se machucasse e os coloquei em um cantinho para que quando sóbrio Cristopher os descartasse corretamente dentro de uma caixa, pelo menos por enquanto ninguém pisaria em algum pedaço e se machucaria.

   Quando vi que já não tinha mais o que fazer para evitar voltar para ele peguei dentro do armário ainda no banheiro uma toalha limpa e a enfiei embaixo da torneira ligada a encharcando completamente para ajudar a limpar o sangue.

   Respirei fundo algumas vezes antes de sentir a tensão voltar para meus ombros quando entrei no quarto bagunçado encontrando Cristopher sentado na beirada da cama assim como eu havia o deixado quando saí, sua cabeça abaixada me permitia ver apenas um pouco do olhar triste que ainda ocupava sua feição. Meu coração se apertou novamente pela tristeza de vê-lo assim, mas ao mesmo tempo eu me sentia com raiva por ter sido usada para uma fantasia da mente dele.

   No fundo eu sei que a culpa não é necessariamente sua já que o álcool esta consumindo sua consciência e é completamente compreensível o desejo de ver e falar com sua falecida noiva. Apenas quem já perdeu alguém que amava incondicionalmente sabe o desespero de querer vê-la mais uma vez e a culpa por acreditar que poderia ter feito algo para evitar sua partida.

   Cristopher deixou claro que ainda a amava e o álcool o fez delirar, não é correto, mas pensando bem se torna compreensível, mesmo assim, não queria ter sido usada para isso, confesso que depois do que aconteceu entre nós dentro do meu antigo guarda-roupa imaginei mil formas de como seria o nosso primeiro beijo, mas em nenhum momento pensei que seria enquanto ele imagina que eu sou a sua ex.

   Confesso também que a frustação em meu coração é enorme por idiotamente desejar que sua declaração de amor feita enquanto me olhava nos olhos tivesse sido dedicada a mim.

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