Rajadas de vento se chocavam contra as paredes de madeira da cabana emitindo algumas vezes um som aconchegante semelhante a um assovio quando o vento tremia as janelas, o vidro livre de cortinas nos dava a visão da imensa floresta que aproveitava a escuridão da noite para esconder os segredos do seu interior.
Entre a floresta e a cabana estava o magnifico lago congelado que era convidativo aos olhos por sua beleza, o lago trazia a qualquer um que o observasse o desejo de correr e deslizar por sua extensão como uma criança certamente faria se tivesse a oportunidade.
Eu com certeza passaria a maior parte do meu dia ali se minha vida não fosse dominada pelo desanimo e o cansaço, mas, ainda espero poder em algum momento aproveitar essa pista de gelo que tenho a apenas alguns metros.
O vento aproveitava também para soprar os flocos de neve do chão fazendo uma cortina de pontos brancos sobrevoarem pelo ar por toda a cidade, agora a nevasca estava bem mais próxima de tomar os arredores e o clima que já estava frio se tornaria literalmente congelante.
Ironicamente, enquanto a parte de fora da cabana estava de congelar os dedos, aqui dentro a temperatura se tornava cada vez mais acalorada, talvez isso fosse o fato das três doses de whisky estarem se misturando com o vinho que eu tomei a uma hora atrás.
Agora Cristopher e eu permanecíamos sentados lado a lado no pequeno sofá, nossa brincadeira já se estendia por mais ou menos uns quarenta minutos e contra minha vontade nossas perguntas se assemelhavam a de uma criança de sete anos que não para de falar e te questiona coisas aleatórias.
A verdade é que tenho em minha mente perguntas o suficiente para preencher duas páginas inteiras e posso garantir que em nenhuma delas eu quero saber qual é a bebida preferida do detetive, mas, sempre que planejo esclarecer uma de minhas curiosidades sobre este homem é como se as palavras ficassem presas em minha garganta e no final estou realmente descobrindo que ele adora cappuccino de chocolate com um pouco de chantili por cima.
Acho que no fundo só estou com medo de parecer intrometida demais, tenho receio que minha pergunta o incomode e que isso faça a gente voltar a estaca zero onde cada um fica do seu lado e quase não conversamos. Não é isso que quero ter com Cristopher, não precisamos ser grandes amigos que fazem tatuagem juntos ou coisa do tipo mas eu me sentiria melhor se fossemos no mínimo mais próximos um do outro.
— Acho que agora é a sua vez — avisei com um sorriso divertido em meu rosto — Me faça uma pergunta, detetive
— Tudo bem, me deixe pensar — sua feição se tornou seria como se estivesse pensando em algo muito importante — Tirando os seus pais, obvio, do que você mais sente falta na vida?
Pisquei algumas vezes enquanto digeria a sua pergunta, finalmente estávamos saindo do nível criança de sete anos para algo mais serio. Minha mente por alguns segundos perdeu sua sintonia quando tentei imaginar qual seria a melhor resposta.
— Não consigo especificar, acho que sinto falta de tudo — respirei fundo enquanto encarava o copo em minhas mãos com uma dose amarelada do whisky — Sinto falta dos meus hobbies, do meu trabalho, da convivência com meus amigos e dos planos aleatórios que sempre formávamos para os fins de semana
— Interessante — murmurou — Porque você se afastou tanto de tudo dessa forma? Seu pai não ficaria feliz vendo que a filha largou toda a vida que tinha para correr atrás de um assassino
— Primeiramente, você não pode fazer duas perguntas seguidas — o repreendi fazendo o mesmo dar de ombros e soltar uma risada abafada — Segundo, de acordo com nossas experiências recentes é meio obvio que não estou correndo atrás de um assassino e sim ele quem está me perseguindo, não acha?
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Em Meio Ao Mistério
Mistero / ThrillerO que você faria se em menos de uma semana a sua vida alegre, divertida e animada fosse roubada por um assassino misterioso que ninguém consegue descobrir quem é? Como se sentiria sabendo que esta no meio de uma caçada e a presa é exclusivamente vo...