01 - LAZULI

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Lazuli se perguntava se as questões da sacerdotisa Margareth Tyrell iriam se prolongar por mais tempo. A velha de rosto enrugado como uma uva passa andava de um lado para o outro com uma bengala em mãos. Lazuli conhecia bem aquela bengala. Não sabia o tipo de madeira, mas conhecia sua pele arder após os golpes da sacerdotisa a cada vez que errava alguma coisa.

Dessa vez não foi diferente.

— Espero que se lembre muito bem a não bocejar enquanto estiver nas minhas aulas!

À mão de Lazuli foi em direção ao seu ombro esquerdo, que ardia como fogo.

— Não irei esquecer... — Disse puxando o ar entre dentes, tentando regular a respiração.

Margareth fez um "tsk" e voltou a questionar a garota com suas perguntas recorrentes e chatas. Mesmo sem provas, Lazuli podia jurar que as perguntas eram feitas de maneira muito específica.

— Onde fica a capital governada pela família Crow?

— Na costa oeste de Eldar. Porto do Corvo. — Respondeu tão rápido que nem deu tempo de um silêncio se formar.

— Qual é o continente mais próximo de Eldar?

— Orseus. Terras de areias e de culturas extravagantes...

O ar ruiu quando a bengala acertou seu ombro direito.

— Não perguntei o tipo de terreno e cultura. Preste atenção no que eu disser, Lazuli.

Os olhos de Lazuli ardiam quase pondo as lágrimas para fora. Queria chorar, apenas queria chorar em paz. Mas se a sacerdotisa não tolera choro. Lazuli soube disso da pior forma possível quando era mais nova. A respiração ficou trêmula e a visão embaçada. O nó na garganta quase a sufocou.

— Diga o nome dos nossos deuses... — deu uma pausa que causou nervosos a Lazuli. — E seus papéis. — Acrescentou.

— Illuvine, Deus da Luz e da Pureza; Fillren, Deus da Guerra e da Honra; Amalteia, Deusa do Amor e da Natureza...

A testa de Lazuli se franziu, forçando-a a pensar no nome dos outros cincos que sobraram. Ela se esforçou muito para que viesse algum nome, mas quando um nome estava se formando na ponta de sua língua, a bengala foi de encontro às suas costas.

O som da madeira se chocando contra as costas de Lazuli não foi mais grotesco que o ruído que escapou da boca da princesa.

— Você deveria saber o nome dos deuses até de trás para frente. Tanto que estuda e não aprende nada. Vergonha, Lazuli Alastair. Vergonha!

— Eu só esqueci! — Justificou de rosto quente, quase chorando, ela deixou as costas eretas.

— Se esqueceu é porque não estudou o suficiente! Se você estivesse em algum evento sobre os deuses em um templo cheio de sacerdotes, queria ver qual seria a sua desculpa. Você falaria que simplesmente esqueceu?

— não... — Lazuli disse baixinho.

— Como é?

— Não! — Aumentou a voz.

A raiva queimava nas entranhas de Lazuli, como se fosse algum desejo gritante que pedia para ser posto para fora. Passou pela cabeça dela pegar alguma das cadeira ali presente e jogá-la na sacerdotisa. Não faria isso, claro. Lazuli é boazinha demais para fazer mal a alguém, fisicamente e emocionalmente. Então se contentou em apenas imaginar essa cena enquanto apertava as mãos com força o suficiente para sentir as mãos unidas. Só não sabe se é suor ou sangue.

Margareth ficou ali esbravejando e praguejando por minutos. Sua voz, alta e esganiçada, causava dor de cabeça a Lazuli. Ela nunca desejou sair dali sem dar satisfação tanto quanto agora. Porém o silêncio tomou conta da sala rapidamente quando alguém bateu na porta. Lazuli sentiu a presença de alguém que fosse salvá-la.

SANGUE SOBRE A NEVEOnde histórias criam vida. Descubra agora