SANGUE SOBRE A NEVE

03 - WENDY

Wendy vasculhava a cabana velha em busca de algum compartimento que guardasse algo. Foi chamada finalmente para uma missão depois de duas reclamando que não fazia nada... embora a missão em questão não fosse como ela queria.

Canino, apelido dado ao homem por conta de seus dentes longos, estava coordenando um interrogatório com um homem que havia sido acusado de roubar algo de valor do rei de Niuvar, Ayro Tarkov. Canino tinha uma aparência nada agradável aos olhos de Wendy. A pele enrugada parecia couro velho, com linhas magras sobre a face dando a aparência de uma caveira. Seus cabelos eram lisos e finos, com diversas entradas na cabeça, mostrando o couro cabeludo rosado pelo sol.

O homem acusado em questão morava em uma pequena cabana velha, quase caindo aos pedaços. Wendy revirava quase tudo que podia em busca do item roubado: uma caixa que guardava ovos. Ovos de dragões velhos quase fossilizados. Wendy soprou uma mecha ruiva, ao olhar debaixo da cama e retornar, sem sucesso. Ela tinha uma pele clara, salpicada de sardas, principalmente o rosto.

Junto à Canino tinham outros dois homens realizando a tortura no acusado, os três juntos sendo conhecidos como o grupo de executores do rei. Caolho e Sussurro. Ambos posto ao lado da cadeira do pobre infeliz, como duas estátuas mais assustadoras que as gárgulas de Fortferro.

一 Não torne as coisas mais difíceis, senhor 一 Canino proferiu, olhando o rapaz de maneira penetrante. 一, apenas diga onde está a caixa e a gente lhe deixa em paz.

一 Eu já disse... 一 o homem cuspiu sangue. Seu rosto estava inchado pelos golpes que levou. Um dos olhos estava fechado e roxo. 一 Eu não sei...

Canino lançou um olhar para Caolho, ele fechou o punho e acertou com tanta força na barriga do rapaz. Wendy sentiu pena. E pensar que ela tem parcela de culpa nisso, com certeza, irá atormentá-la.

一 Já estou perdendo a paciência. Fala logo ou eu deixo meus amigos mostrarem o motivo do nome deles.

一 Caolho vai adorar mostrar. 一 Caolho disse arregalando o olho cinzento dele, com uma grosseira cicatriz atravessando seu rosto.

一 será que eu consigo mostrar como acharam minha cordas vocais nele? eu sou péssimo com lembrança. 一 Sussurro sussurrou numa voz rouca. Wendy ficou curiosa para saber a história para sua voz ter ficado desta forma.

O rapaz começou a arfar.

Wendy parou para olhar.

一 Debaixo do sofá tem um alçapão... a caixa está lá, mas...

Sussurro caminhou até o sofá sem esperar o que o rapaz iria dizer. Acenando para Wendy para que ela ajudasse. Rapidamente, ela se colocou em uma das laterais e se preparou para empurrar. Sussurro cravou suas mãos magras e dedos longos em um dos braços do sofá.

Wendy forçou-se para empurrar. Tinha as pernas magras, mas tinha força suficiente para esse trabalho junto com a força de Sussurro. O arrastar do sofá fez a madeira abaixo gemer.

Então, do assoalho era possível ver o alçapão. Eram três tábuas que não se conectavam com o resto do chão. Isso explica o motivo do sofá em cima. Havia um anel de ferro enferrujado usado para puxar a portinhola.

Wendy se moveu para abrir, mas Sussurro a impediu e a afastou com um empurrão incrivelmente gentil.

Grosseiramente, o alçapão foi aberto e a poeira se espalhou pelo ar. Wendy não tinha alergia, mas o cheiro de mofo a incomodou. Sussurro, começou a tossir e espirrar. Se esforçando para pegar a caixa em meio aquilo tudo de poeira.

一 poderia limpar esses lugares, não?

一 Acho que ele não consegue fazer isso agora, né? 一 Disse Wendy numa tentativa de fazer humor. Estava nervosa e queria aliviar o estresse que sentia.