PRÓLOGO

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A neve caía lentamente pela floresta enquanto a cidade ao longe queimava e sua fumaça subia aos céus. Juntando-se as espessas nuvens que copiam flocos de neve naquela madrugada. Milena, a rainha daquele reino que virava cinzas, corria ofegante entre as árvores longe de qualquer trilha que poderia levá-la para a segurança de algum castelo menor pelas redondezas. Mas ela sabia que não poderia seguir pelas estradas. Eles a achariam e a matariam. 

Milena se lamentava por não poder defender seu castelo. Tudo aconteceu tão rápido que ela não teve tempo para quase nada. Apenas pegou sua filha no colo, enrolou-a completamente com uma coberta de lã e se despediu de Marko, seu marido, seu rei. Milena o viu indo para a luta, tão determinado quanto nos seus dias de glória, mas ela tinha visto e sentido o medo que emanava de Marko. Aquela era a última vez que se viriam, ambos sabiam disso. 

Agora, fugindo de seus inimigos, Milena tenta procurar alguma forma de proteger a filha em seu colo, que era um bebê de poucas semanas de vida. Isso era ruim, não só por ela ter que cuidar das duas, mas isso indicava que não poderia lutar como antes. 

Maldito seja. Praguejou. Maldito seja o rei Taya. 

Taya, um homem que, em um momento, foi motivo de admiração e respeito. E pensar que ele se tornaria o completo oposto: um homem para temer e odiar. Milena sabe que foi ele que combinou esse ataque. Ela sonhou com isso, sentiu isso. Os deuses a avisaram de todas as maneiras. Mas ela não prestou a devida atenção a esse aviso. 

Estúpida. Pensou, com a culpa martelando em seu coração. Estúpida, estúpida, estúpida! Eu não mereço ser chamada de Favorita dos Deuses. 

As sombras ao redor dela começaram a ficar densas. Eles estavam chegando. Os cavaleiros da Guarda do Corvo estavam vindos em seus robustos cavalos negros como a noite. Cavaleiros vestindo armaduras escuras como carvão, com o corvo roxo ornamentado em seus peitos. Milena tinha que correr mais rápido para ficar longe deles, mas suas pernas já protestavam pelo cansaço, seus pulmões queimavam com o ar frio que entrava pelas suas narinas. 

Estranhamente a bebê que Milena segurava não resmungava ou reclamava de alguma forma. Estava quieta, mas acordada. Possivelmente estranhando o balançar da corrida de sua mãe, mas era pequena demais para compreender o que estava acontecendo. 

Um trote começou a se aproximar cada vez mais, cavando na neve conforme se aproximava de Milena. Um arrepio percorreu a espinha da rainha. Ela se moveu para o lado para o lado, mas a neve a fez escorregar. Caindo de costas, ela arquejou seu ar fugir de seus pulmões. Uma flecha se cravou em uma árvore no instante seguinte. 

O cavaleiro se aproximou com uma besta nas mãos. Milena estremeceu ao sentir a malícia homicida no homem. 

— Ela está aqui! — Ele gritou avisando aos outros, mas logo se virou para Milena com um olhar sombrio. — Vossa majestade. 

Milena se colocou de joelhos. 

— Vá a merda! — Disparou. 

— Mesmo nesta situação, continua com a língua afiada. — Ele riu de maneira baixa e abafada por causa do elmo. — Vamos ver se isso vai continuar quando eu cortar sua língua. 

O guarda desembainhou um punhal prateado e se aproximava cada vez mais. 

Milena não poderia deixar de prolongar a luta. Não era uma situação favorável para que ela lutasse para se divertir como a anos atrás. Ela tinha a vida de uma filha para tomar conta além da própria. 

Milena se concentrou e seus olhos brilharam como estrelas distantes. Quando o soldado deu mais um passo, uma força invisível jogou-o contra uma árvore. Milena usou sua magia bruta para acabar com seu inimigo. A armadura do soldado se pressionou contra seu corpo. Ele caiu no chão, manchando a neve com seu sangue. 

SANGUE SOBRE A NEVEOnde histórias criam vida. Descubra agora