Despertar

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Alguns dizem que a noite é o horário do dia mais perigoso. Assim que escurece, muitas pessoas se apressam pra chegar no aconchego e segurança de suas casas e evitam sair de lá, a não ser que seja estritamente necessário.

Eu, particularmente, discordo.

Pra mim, a noite é um momento de aventuras e descobertas. Enquanto as pessoas estão indo dormir, ou apenas se esconder, criaturas e humanos mais ousados - ou azarados - saem de suas tocas ou esconderijos e se sentem livres pra fazerem o que quiserem.

Descobri muitas coisas desde que passei a trocar o dia pela noite. À princípio não por uma opção, mas uma necessidade. Agora, já me conformei e não me vejo vivendo de outra forma.

Eu amo a noite e, enquanto puder, irei explorá-la. Afinal, era a única coisa que ainda me dava motivo pra continuar existindo.

Podia ouvir o som dos carros passando acelerados pelo asfalto em uma estrada não muito longe de onde eu estava, enquanto caminhava no meio de uma vegetação aberta. Talvez fosse até propriedade de alguém, mas não tinha nenhuma casa à vista e, mesmo que tivesse, ninguém me notaria naquela escuridão.

Eu caminhava olhando pras estrelas, que eram uma das minhas coisas favoritas da noite. O céu ficava tão mais bonito assim, escuro e cheio de pequenas luzes cintilantes. Poderia parecer purpurina, dependendo de quanta iluminação artificial tivesse.

Naquela noite, eu não tinha nada de especial planejado. Apenas saí pra perambular por aí e, talvez, encontrar algum alimento, mas esse não era meu foco.

Comecei a divagar, pensando nas diversas cidades que já visitei daquela mesma forma, quando ouvi um barulho atrás de mim. Eram passos na vegetação e eu sabia que não eram os meus. Agucei minha audição e parei de andar, mas, o que quer que estivesse atrás de mim, continuou. Meu corpo inteiro se arrepiou em alerta e eu fechei minhas mãos em punho, pronto pra me virar quando, de repente, o som parou. Franzi o cenho e fui girar minha cabeça quando um vento passou pelos meus cabelos e uma figura surgiu na minha frente.

- Bu - ele disse com um sorriso torto de lábios grossos e eu revirei os olhos.

- O que você veio fazer aqui, Off? - perguntei irritado por estar sendo perturbado no meu momento de paz.

- Vim te fazer companhia, irmãozinho - deu de ombros.

- Eu não te pedi nada.

- Não interessa. Eu tava entediado, resolvi vir te incomodar.

- Bom trabalho, você conseguiu. Agora pode ir - falei e ele começou a rir.

- Relaxa, First. O que você veio fazer por aqui, afinal? Se veio caçar, ainda está muito perto de casa.

- Eu só vim andar, me distrair um pouco.

- Não veio comer?

- Não era essa minha intenção.

- Que bom porque no mato no meio da madrugada você não vai achar ninguém pra isso.

Dei de ombros novamente.

- Acho que aguento mais uns dias.

- Como você não morre de sede? - seus olhos brilharam em um vermelho vivo, típico da nossa espécie.

- Eu não sou um desesperado de fome igual a você - falei e sai andando.

Lógico que ele veio atrás de mim.

Caminhamos por mais alguns quilômetros em silêncio, até que o ouvi fungando ao meu lado.

- Acho que estamos chegando perto da civilização - comentou e eu suspirei cansado.

In a different life - FirstKhaotungOnde histórias criam vida. Descubra agora