Poucas coisas na minha breve vida me fizeram tão feliz quanto a risada de Khaotung.
Antes de conhecê-lo, meus sons preferidos eram o da corrente do rio, dos pássaros cantando em uma manhã de primavera e dos grilos durante uma madrugada úmida de verão. Todos esses eram sons que me traziam paz, me ajudavam a relaxar e até mesmo a dormir.
Diferente do que acontecia quando ouvia Khaotung rindo. Sua risada era o mais belo e perfeito som que meus tímpanos já contemplaram, mas ela não me relaxava. Pelo contrário, fazia meu interior se remexer, acordava as borboletas no meu estômago e injetava uma pequena dose de adrenalina no meu sangue. Eu me sentia agitado, porém feliz como nada no mundo poderia me fazer. Eu nunca fui um cara muito engraçado, mas eu me esforçava ao máximo pra poder arrancar dele uma risada bem gostosa, que chegava a doer sua barriga.
Porém, o equivalente oposto disso era quando ele sentia dor. Khaotung era muito sensível. Qualquer coisa que lhe fosse dolorosa, arrancava um grito dele que chegava a partir meu coração.
Da mesma forma que eu me sentia com as forças renovadas pela sua risada, eu as perdia quando ele gritava de dor.
Diversas vezes Khaotung quase me matou de susto com os seus gritos e, quando eu corria desesperado para socorrê-lo, era apenas um corte superficial que ele havia feito enquanto limpava a lâmina que usava para cortar as pragas que, às vezes, cresciam em sua plantação de morangos. E, mesmo achando um exagero todo aquele escândalo, eu o ajudava colhendo algumas ervas medicinais e fazendo uma pastinha para passar sobre o minúsculo ferimento. E então, eu era recompensado com o seu sorriso - que, vale ressaltar, era minha visão favorita no mundo - e com seus beijos, que eram meu ato preferido de toda a vida.
Resumindo, tudo que eu gostava de ver, ouvir e sentir estava relacionado à Khaotung.
Tudo era pra ele e por ele.
Não foi diferente quando senti o gosto do seu sangue.
Assim que eu rompi a pele fina de seu pescoço com as minhas presas, sequer senti suas mãos puxando meu cabelo porque minha mente estava totalmente focada no líquido morno e doce - seu sangue não era ferroso, era doce, como o melhor dos néctares. Ele passou pela minha garganta me trazendo vida. Era como se eu estivesse vivo novamente, graças ao sangue dele.
Envolvi o corte com a minha boca e suguei, tomando mais um gole. Tudo que faltava para eu sentir e amar em Khaotung era seu gosto e, agora, eu o estava sentindo.
Nada poderia ser melhor.
Nada me faria parar.
Eu precisava de mais.
Gemi e senti meu pênis endurecendo dentro da minha calça. Jamais um sangue tinha me excitado daquela maneira. Lambi o corte, o fechando e mordi novamente, atingindo, agora, outra veia. Foi então que o ouvi. Baixo, não sabia se pelo medo ou falta de forças, mas ouvi o grito de dor de Khaotung.
O brilho avermelhado dos meus olhos se apagou no mesmo instante e minhas presas se retraíram. Eu estava dentro das minhas faculdades mentais novamente e me afastei em tempo de ver o olhar assustado de Ray antes dele desabar, sem forças.
- Fir... - sussurrou e ergueu sua mão pra tocar no meu rosto, mas ele não alcançou e caiu.
Em meio ao meu estado de pânico, minha única reação foi segurar em seu pulso e puxá-lo em direção à cama antes que ele atingisse o chão.
Seu corpo caiu mole sobre os meus lençóis brancos, enquanto seu sangue ainda escorria da segunda ferida que eu abri.
- Não... - minha voz saiu falhada em meio ao horror que eu sentia com aquela visão.
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In a different life - FirstKhaotung
VampireFirst é um vampiro que jamais conseguiu superar a perda do seu único e verdadeiro amor mesmo depois de séculos da sua morte.