Ele

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Eu não podia acreditar.

Nem nos meus sonhos mais insanos e absurdos eu já imaginei algo assim acontecendo.

Não sei quanto tempo fiquei encarando aquela aparição na minha frente até que senti um tapa estalado na minha nuca e a ardência acendeu dois alertas na minha cabeça:

Um: eu estava muito mais sensível, percebi isso desde a náusea.

E dois: todos estavam me encarando esperando a resposta de uma pergunta que eu não ouvi.

- First?! - ouvi a voz de Off ao meu lado e o encarei, ainda meio confuso - O Gun tá apresentando os amigos dele - então segurou forte no meu pulso, como se fosse um aviso - Seja educado - falou entredentes e eu franzi o cenho pra ele antes de encarar Gun novamente.

- Bom, como eu ia dizendo, esses são meus amigos, Earth, ele é calouro também - o menino que antes estava de frente pra gente sorriu e eu me forcei a retribuir - E este bonitão aqui se tornou veterano nesse semestre e, ao que tudo indica, vocês são calouros dele - avisou e riu de uma piada que eu não captei.

E nem me importei em captar. Eu já não ouvia mais nada do que Gun falava porque era Khaotung quem estava ali.

Eu tinha certeza.

Sua aparência estava um pouco diferente, a começar pelas suas roupas modernas e o cabelo. Meu Khaotung tinha os fios mais curtos e a franja lisa sobria toda a sua testa, lhe dando um ar de doçura e inocência. Mas, agora, suas mechas estavam mais compridas, bagunçadas e penteadas pros lados, deixando apenas alguns fios mais curtos caírem na testa. Ele até parecia mais velho.

Mas era o meu Khaotung.

A dor em meu coração e o calor que eu sentia em minhas bochechas não me deixavam negar.

Era ele.

Antes eu que pudesse me impedir, minha mão ergueu e tocou seu rosto - algo que era tão comum entre nós dois. Mas então ela foi afastada por um tapa e eu fui recebido com um semblante de puro desagrado.

Khaotung não havia gostado do que eu fiz.

- Khaotung... - falei baixo e sua expressão foi de irritada pra confusa.

- Quem é Khaotung? - ele perguntou e foi então que minha ficha caiu - Meu nome é Ray. Eu te conheço, por acaso?

Arregalei meus olhos e segurei minha mão que ele havia acabado de estapear pra longe, a trazendo pra perto do meu peito e me sentindo constrangido com a cena que eu mesmo havia acabado de montar.

Khaotung não se lembrava de mim. E sequer se lembrava dele mesmo.

Meu coração voltou a doer, agora uma dor ruim, e um nó se formou em minha garganta. O homem que tinha a aparência quase totalmente fiel a do amor da minha vida desviou o olhar de mim e eu senti todo gostinho de pouca vida que saboreei naqueles poucos minutos me abandonando novamente.

- Gun, vamos embora - ouvi sua voz dizer e tranquei o maxilar.

Sua voz era exatamente a mesma também.

- Ray, não seja mal educado. Não foi assim que eu te criei - Gun resmungou e se virou pra mim novamente com um sorriso - Então, First - chamou e eu me forcei a encará-lo - Na sexta-feira vai ter uma festa no bloco de artes e comunicação social. Você, como calouro, deveria vir. O Ray pode te ajudar a se enturmar com os outros calouros e veteranos - indicou e, apesar de eu não estar interessado em nada daquilo, a menção ao novo nome de Khaotung fez algo apitar na minha cabeça e eu apenas a balancei afirmativamente.

In a different life - FirstKhaotungOnde histórias criam vida. Descubra agora