Peso

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A última coisa que eu precisava era de um sermão. Ainda mais vindo dele. E, muito menos, depois do nervoso que eu tinha acabado de passar. Mas lá estava eu, recuperando meu fôlego enquanto esperava que Off começasse com o seu discurso. Porém, para minha surpresa, ele apenas olhou de mim para Khaotung e se levantou, sentando no colchão ao meu lado e passando a mão pelos cabelos do homem que eu amava em um carinho que eu sabia que costumava ser destinado apenas a mim.

Franzi o cenho, mas achei melhor não falar nada; não queria estragar aquele momento.

- Ele bebeu? - perguntou de repente e eu levei uns segundos pra processar sobre o que ele estava se referindo.

Então neguei com a cabeça, voltando a olhar o rosto adormecido de Khaotung sobre o meu peito.

- Ele tá sentindo os efeitos da transformação - contei - Quando ele acordar, provavelmente vai sentir a dor toda de novo.

- Você sabe o que tem que fazer - falou e cessou o cafuné que fazia em Khaotung, agora olhando nos meus olhos.

Eu suspirei e assenti.

- Dá um tempo pra ele - pedi - Ele precisa processar tudo isso ainda.

- Bom, o problema é de vocês, First - deu de ombros e se levantou - Os caçadores já devem saber da nossa localização. Dar aquela festa foi uma das piores ideias que eu já tive. Mas eu sempre acabo tomando decisões burras quando se trata de você.

- Ai...? - resmunguei fingindo dor pelo que ele havia jogado na minha cara.

- Você sabe que é verdade - disse e bufou - Vou deixar você ter responsabilidade sobre o Khaotung. Você vai cuidar pra que ele se transforme e não morra. Tô confiando em você e espero não me arrepender.

Eu nunca vi Off tão sério sem estar estressado. Ele parecia apenas... cansado. E eu via o esforço que estava fazendo pra confiar em mim.

- Não vou te decepcionar - garanti e ele assentiu, sumindo em seguida.

Quando fui deixado sozinho novamente, me lembrei do homem que eu havia mordido antes de Khaotung entrar em crise. Ele ainda não havia morrido quando o deixei lá...

Um alerta foi acionado na minha mente, me fazendo quase saltar da cama. E eu aconcheguei Khaotung ali antes de voltar pro bar.

Pro meu assombro, a primeira coisa que eu vi foram viaturas de polícia e uma ambulância. Engoli o nó de desespero em minha garganta e implorei a todas as divindades de céu e inferno pra que, pelo menos, aquele homem tivesse perdido sangue suficiente pra estar desacordado.

Me fundi às sombras o máximo que eu pude e me esgueirei até ver mais de perto a parte de trás da ambulância. Ali havia uma maca com um corpo ligado a alguns aparelhos. Suspirei, relativamente aliviado, por perceber que era a minha vítima. Comecei a pensar na melhor maneira de terminar o que comecei quando um grito foi emitido, assustando todos em volta.

Era o homem na maca. Ele se debatia e berrava, em um ataque de pânico que eu jamais havia visto antes.

- SANGUE! ELE ME MORDEU! ELE ME MORDEU E BEBEU MEU SANGUE! - ele berrava e, a cada grito, eu sentia meu próprio interior gelar de desespero.

- Senhor, se acalme - uma enfermeira tentava contê-lo com a ajuda de mais dois, quase sem sucesso.

- EU JURO! ALGUÉM PRECISA ENCONTRAR! ELE É UM MONSTRO! SE ALIMENTOU DO MEU SANGUE E QUASE ME MATOU!

Comecei a entrar em um estado de nervos, pensando no que aquele cara poderia fazer quando estivesse calmo e sóbrio. E eu me sentia impotente porque tinham pessoas demais ali pra eu me aproximar e matá-lo de vez. Ou, pelo menos, apagar sua memória.

In a different life - FirstKhaotungOnde histórias criam vida. Descubra agora