Tortura

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Como já era de se esperar, lutar contra um demônio não foi nada fácil. Muito menos contra um que tinha ligação direta comigo. E, se levar em consideração que eu já era ruim em luta corporal, então só podia dar em desastre mesmo. Namtan conseguia prever cada um dos meus movimentos. E, quando não apenas esquivava deles - como eu esperava que ela iria fazer - ela revidava.

O canto do meu lábio ardia com um corte que, até agora, não havia cicatrizado, minhas costelas doíam dos chutes e cotoveladas que eu havia tomado e meus punhos e braços tremiam e suavam, já não aguentando mais desferir socos que nunca atingiam seu alvo.

- Bora,, First - ela falou após desviar de mais um soco sem a menor dificuldade - Sabe que pode fazer melhor do que isso!

Eu rosnei e saltei na direção dela tentando acertar um chute na sua barriga, mas Namtan segurou meu tornozelo com as duas mãos e me girou no ar, me fazendo cair de cara no chão. Meu queixo estalou e eu tinha certeza de que tinha rachado um pedaço do meu dente. Fechei os olhos com força e afundei meus dedos na terra como garras. Atrás de mim, o vento começou a soprar com força e eu ouvi a risada aguda dela.

- Vai começar a apelar já? - provocou.

Senti toda raiva me dominando junto com a frustração de não conseguir acertar sequer um golpe e usei aquilo pra me levantar, mesmo com todo o meu corpo dolorido. Olhei por sobre o ombro e tudo que eu via era vermelho. Meus olhos brilhavam e minhas presas se duplicaram, não se projetando apenas meus caninos, como o par de dentes na frente deles. Eu queria dilacerar a garganta de alguém de tanto ódio.

Encontrei o olhar de Namtan e ela sorriu satisfeita, me chamando com o indicador. Bufei e me virei já com a minha perna esquerda erguida, pronto pra lhe acertar um chute que ela interceptou com o antebraço, mas eu continuei indo pra cima, dando chutes diretos e cruzados, os quais ela continuou rebatendo. Mas, dessa vez, eu não estava golpeando aleatoriamente. Quando a encurralei contra o muro e Namtan percebeu, eu lhe dei um sorrisinho antes de erguer minha perna direita com o joelho contra o meu peito e esticá-lo, dando um chute com a sola do meu pé na direção da sua barriga.

No entanto, meu pé atravessou o muro já que Namtan submergiu no chão no exato momento em que eu a acertaria.

- Quem tá apelando agora?! - questionei e arranquei meu pé do muro em tempo de girar o corpo e vê-la surgindo do chão na minha frente.

Então, segurei em seu pescoço e a atirei contra o tronco grosso da árvore que tinha ao nosso lado. Antes que ela sumisse novamente, enterrei meu joelho na sua barriga e depois dei um soco no seu queixo, abrindo o canto do seu lábio como ela havia feito comigo mais cedo. Sangue negro escorreu pelo canto da sua boca.

Estava prestes a finalizar aquilo, quando Namtan se segurou no galho acima de si e se ergueu, me dando um chute no peito com os dois pés e me arremessando pra longe.

Assim que bati com a cabeça no chão, me senti totalmente zonzo e cobri o rosto com o braço, incomodado com a claridade que surgiu de repente.

- Acabou por hoje, neném - ouvi sua voz dizendo e me esforcei pra abrir os olhos.

O sol havia nascido. Era por isso que as dores, que já estavam fortes, agora pareciam insuportáveis.

Namtan me estendeu a mão e eu a peguei, aceitando a ajuda pra levantar. Olhei em volta e franzi o cenho por não ver mais ninguém ali.

- Todos já entraram pra dormir - ela explicou e eu a encarei.

- Por que não avisaram?

- O Mark te chamou, mas você tava absorto demais na batalha pra parar. O Gun achou melhor não interromper.

In a different life - FirstKhaotungOnde histórias criam vida. Descubra agora