Cura

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Assim que eu e Mark chegamos na sala, vimos os outros em um semicírculo. Nos aproximamos e eu pude ver alguém sentado no chão.

Era o caçador inexperiente que havia lutado contra mim.

Mix tirou sua máscara e eu reconheci seu rosto no mesmo instante. Era o homem que eu havia me alimentado junto com Khaotung. Quando seus olhos bateram em mim, ele ficou mais pálido ainda e tentou fugir, mas Off pisou na sua mão, o mantendo no lugar. E ele não retirou o pé mesmo com o grito de dor que encheu nossos ouvidos.

Eu nunca me acostumaria com aquilo. Odiava guerras, odiava captura de inimigos, odiava a tortura que era aplicada neles mesmo sendo nossos semelhantes.

- Aonde você pensa que vai? - Off perguntou em seu tom ameaçador.

Diferente de mim, ele adorava aquilo tudo.

Fluke – consegui me lembrar de seu nome – sequer erguia o olhar. Todo seu corpo tremia e ele parecia segurar o choro a todo custo.

- Soltem ele - falei e todos me encararam surpresos, menos Fluke - Soltem ele! - repeti.

- First, não se mete nisso - Off ralhou e eu tranquei o maxilar.

Esperava não ter soado como ele quando briguei com Khaotung mais cedo.

Khaotung...

Respirei fundo, ignorei a dor que eu sentia no meu peito, e afastei todos dali. Off relutou um pouco, mas acabou se afastando também. Então me agachei na frente de Fluke e esperei até que ele erguesse os olhos pra me encarar.

Não aconteceu.

- Não dá pra entender - ouvi Mark comentar ali por perto - Por que ele ficou aqui?

- Eu que lutei com ele - falei, sem tirar os olhos de Fluke - Ele desmaiou.

- Foram embora e simplesmente deixaram ele pra trás?! - Louis se espantou.

- Talvez tenham pensado que ele tinha morrido - Neo argumentou.

De repente, houve uma risada baixa e eu vi que havia sido Fluke. Franzi o cenho e o observei melhor. Não era uma risada feliz, mas amargurada.

- Vocês não sabem mesmo contra quem estão lutando, né? - falou antes de erguer o rosto e me encarar - Os caçadores são treinados pra serem totalmente frios, calculistas e sanguinários. Não importa quem vá morrer no processo, se for levar vampiros consigo, deve ser feito.

Ouvi alguém soltar o ar em surpresa atrás de mim e imaginava ter sido Louis ou Ohm, mas eu não conseguia tirar os olhos de FLuke. Ele estava diferente. Algo faltava ali.

- Os que são derrotados pelos sanguessugas não merecem rendição ou perdão. São fracos e devem morrer pelas mãos dos próprios demônios - continuou e eu não pude evitar de arregalar os olhos.

Aquele homem parecia estar no princípio de um surto. Sua face estava desfigurada em dor e agonia, mas não era dor física, ele parecia lutar contra algo que estava dentro dele. Seus olhos piscavam fora de sincronia, seu rosto estava banhado em suor e ele ainda tremia muito. O que eu achava que era medo, agora parecia ser outra coisa.

- Eles me deixaram pra trás porque eu não passei no teste. Eu perdi pros enviados do mal, então eu mereço servir de refeição para que eles se ergam e deem uma luta digna contra os meus superiores - então seu olhar, que estava vazio e direcionado em um ponto além de mim, se focou nos meus olhos e aquilo me fez sentir um arrepio por todo o corpo.

Foi quando entendi o que havia acontecido com aquele homem. Sua alma havia deixado seu corpo. Ou estava deixando, eu não sabia dizer, mas ele estava perdendo sua humanidade. Seu corpo parecia uma casca que começava a apodrecer e eu podia sentir o cheiro ruim de seu sangue doente.

In a different life - FirstKhaotungOnde histórias criam vida. Descubra agora