Dor

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Não me lembro muito bem de como ou quando peguei no sono. Só sei que, quando me dei por mim, pude ouvir os gritos.

Eram gritos de dor e desespero. Gritos que suplicavam para que aquilo acabasse. Que parasse de vez.

E eu conhecia aquela voz.

- Khaotung! - chamei.

Nada.

- Bom dia pra você também.

Acordei em um pulo. Minha garganta estava apertada e, se meu coração ainda batesse, ele estaria acelerado. Eu podia sentir meu interior totalmente agitado e olhei em volta.

- Cadê o Khaotung?! - perguntei, vendo Mark passar na minha frente, indo em direção à cozinha. Ele me olhou confuso e foi então que minha ficha caiu.

Louis, que ainda estava sentado ao meu lado e, agora, levantava a cabeça antes repousada em meu ombro, esfregava o punho em um dos olhos, emburrado.

- Você me acordou com o seu chilique - resmungou com um bico.

Ohm, que havia me dado o bom dia debochado quando acordei, tinha a mesma expressão contrariada e eu suspirei, cansado.

- Desculpa, gente... eu tive um pesadelo.

- Tudo bem - Ohm respondeu, se levantando e sumindo, deixando cheiro de amêndoas no ar.

Então já havia anoitecido. Encostei meu pé no chão e ele estava curado. Aquela era a primeira notícia boa em dias.

Fui pro meu quarto e estava indo em direção ao banheiro quando Gun surgiu na minha frente, me fazendo soltar um gritinho nada másculo pelo susto.

- Que susto, idiota - reclamei, colocando a mão sobre o peito.

- Que pesadelo você teve?

- Tá ouvindo atrás das portas agora? Como você sabe que tive um pesadelo?

- Eu sei de tudo. Eu sou o demônio. Literalmente. Agora desembucha.

- Não foi nada. Eu só ouvi uns gritos.

- Que gritos?

- O que isso te interessa, hein? - questionei e ele revirou os olhos, estressado.

- Não tenho tempo pra isso agora, First. Anda. Era o Khaotung?

- Eu... não sei - menti.

- Você acha mesmo que tem como mentir pra mim? O filho do Pai da Mentira? - riu debochado e cruzou os braços sobre o peito - Você conseguiu ver alguma coisa?

- Não. Eu só ouvi. Foi igual quando eu tava desmaiado na maca ontem. Ouvi ele gritando e parecia estar com dor. Por que eu fico tendo esses pensamentos?

- Não são pensamentos. O Khaotung tá se comunicando com você - falou como se fosse óbvio e meus olhos quase saltaram das órbitas - Mas não acho que seja intencionalmente. Acho que ele nem sabe que é capaz disso.

- Mas como?! Nós nem temos esse poder. No máximo conseguimos sentir quando o outro está em perigo ou se aproximando. Não conseguimos falar um com o outro mentalmente.

- Vocês não. O Khaotung sim.

- Mas ele nem se transform-- SERÁ QUE TRANSFORMARAM ELE?! - berrei e Gun se sobressaltou, me encarando com raiva em seguida.

- Não surta, sua bicha doida. Duvido que eles o transformariam.

- Por quê?

- Bom, eu preciso ir.

Fez menção de sumir, mas tratei de segurar no seu pulso, o mantendo ali.

- Você não vai fazer isso comigo de novo! - falei firme enquanto olhava nos seus olhos e Gun sustentou meu olhar.

In a different life - FirstKhaotungOnde histórias criam vida. Descubra agora