Plano

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Desnecessário dizer que eu e Namtan passamos mais de uma hora ouvindo o sermão de Gun sobre o quão irresponsáveis e inconsequentes nós éramos e como ele iria bani-la de volta pro inferno por ter me ajudado no meu plano imbecil.

- Gun, isso não é justo! - tentei me impor e fui arremessado contra a parede.

Meus ossos já estavam quase virando pó e, naquele momento, eu tinha certeza que havia fraturado, pelo menos, três costelas e deslocado meu ombro.

- Chega - Namtan se levantou, empurrando o pulso de Gun pra baixo e o afastando de mim, se colocando entre nós dois - Eu sou mais velha e mais poderosa que você. Não se esqueça disso.

Vi os olhos de Gun escurecendo quando ele os estreitou pra ela.

- Essa é a minha missão - avisou - Você só pôde se meter porque eu permiti. Não pode chegar e achar que--

- Achar que o quê? - ela cresceu pra cima dele e eu arregalei os olhos.

Se os dois resolvessem assumir suas reais formas ali, eu estaria fodido porque já não tinha forças e nem poderes pra me sustentar.

Poderia até morrer.

- Não se preocupa, First - ouvi Namtan dizer, ainda de costas pra mim - Nada de ruim vai acontecer com você enquanto eu estiver aqui.

Senti um alívio imediato com aquilo. Ela sempre me fazia sentir seguro. Era a primeira vez que alguém sem ser Khaotung tomava minhas dores e me protegia daquela forma. Mix me protegia, mas raramente ficava do meu lado em alguma discussão.

- Não estou aguentando ver esse seu lado, Namtan - Gun ralhou - Você nunca se importou tanto assim com um vampiro.

A vi dando de ombros.

- Ele foi meu primeiro - explicou - E é o mais poderoso e que me dá mais orgulho. Tanto sua força quanto sua determinação são admiráveis. Isso sem contar o amor incondicional que ele sente por cada um dos que o cercam. É uma jóia rara que eu pretendo defender. E vou ajudar ele sim, mesmo que um pivete como você não queira cooperar.

Pisquei algumas vezes, totalmente chocado com a resposta dela, sentindo um aperto no peito e uma vontade enorme de chorar. Mas era de emoção. Nunca alguém ressaltou tantas qualidades sobre mim, principalmente depois que eu havia me transformado e virado aquela criatura amarga e sem ânimo pra nada.

Com muito esforço, ergui minha mão e toquei em seu ombro. Namtan virou o rosto pra me encarar e me ajudou a desgrudar da parede, passando o braço pela minha cintura e me abraçando de lado.

- Vamos te levar pra cama pra você se recuperar e descansar.

- Espera - pedi e encarei Gun - Deixa ele entrar na minha mente.

Namtan me encarou, surpresa.

- Tem certeza? - questionou e eu assenti.

- Quero que ele veja com os próprios olhos o que eu vi.

Ela suspirou e tocou dois dedos na minha têmpora. No mesmo instante, a expressão de Gun foi de contrariado pra surpreso e, então, horrorizado.

Eu assenti, sentindo meus olhos arderem só com as lembranças.

- O que é isso... - falou com um fio de voz e encarou Namtan, que apenas abaixou a cabeça - Por que estão fazendo isso? Faz parte das experiências deles?!

- Gun, eu... - engoli em seco, pois só pensar naquilo já me dava vontade de voltar naquele lugar e matar cada um deles com as minhas próprias mãos - Não acho que estão apenas testando o Khaotung - consegui expor em palavras e ouvi quando ele soltou o ar pela boca.

In a different life - FirstKhaotungOnde histórias criam vida. Descubra agora