O Menino Lobo

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"Homens, hoje será uma noite crucial para nossa aldeia. Iremos caçar essa besta sem alma. Não prometo uma batalha fácil, pois apenas Deus sabe o que essa criatura é capaz de fazer. Contudo, posso assegurar-lhes uma morte honrada em nome do nosso Senhor Jesus Cristo ou uma vitória gloriosa que eternizará seus nomes na história."

Paragus

A velha senhora, com cabelos prateados que reluziam como a lua, fechou as janelas e portas de sua encantadora loja. O sol continuava a derramar sua luz nas ruas tranquilas do subúrbio de Rahova, mas ela, com um olhar enigmático, decidiu criar sua própria luz. Cuidadosamente, ela acendeu velas aromáticas que emprestaram um toque mágico ao ambiente. Organizou seus cristais nas prateleiras de madeira polida, dispostos próximos a uma mesa redonda e convidou Bruna e seus amigos a se reunirem ao seu redor.

ㅡEstou vendo que trouxeram o quadro. Podem colocá-lo sobre a mesa, se desejarem. ㅡ instruiu a anfitriã. Seus olhos perspicazes observavam as expressões curiosas nos rostos dos presentes. ㅡ Por favor, sentem-se.

Ela, ansiosamente, esfregou as mãos enquanto contemplava o quadro sobre a mesa. Com cuidado, acendeu mais algumas velas ao seu redor, e as chamas dançantes iluminavam parcialmente os rostos dos quatro jovens que se acomodavam, cheios de expectativa, em seus assentos, observando a senhora com veneração.

Então, com uma voz rouca, porém suave e envolvente, a anciã começou a transportá-los para um mundo de mistérios e magia...

― Há mais de mil anos, nas sombras do vilarejo de Rasnov, no condado de Brasov, desenrolou-se a lenda do menino lobo. Raul, com um sorriso irônico, indagou: ― Menino lobo?

A velha mulher, aguardando a quase crise de risos de Raul passar, respondeu com serenidade: ― Sim, o menino lobo. Posso começar a contar?

Varrendo os olhos pelos outros integrantes do grupo, que permaneceram em silêncio, ela prosseguiu: Pois bem, a história se desenrola a partir de um triste episódio na vida de um homem chamado Zarbon.

Zarbon, um homem de quase 30 anos, ainda solteiro, dedicava seu tempo à árdua tarefa de cuidar das vinhas de seu senhor e de sua mãe envelhecida. Reservado e avesso às festas e tabernas da aldeia, Zarbon era conhecido por sua timidez e pela economia de palavras.

A vida dele tomou um rumo solitário quando seu pai faleceu, deixando-o sozinho com a mãe doente. Enquanto seus irmãos buscaram escapar da vida penosa que levavam como servos de um nobre sem escrúpulos, Zarbon permaneceu, dedicando-se aos campos e às necessidades da mãe. O caçula de sete irmãos, com três irmãs já casadas e três irmãos perdidos pelo mundo.

Diante da situação, os vizinhos e alguns amigos se apressaram em arranjar-lhe uma noiva após a morte do pai. Argumentavam que Zarbon precisava de uma esposa para auxiliá-lo, cuidar de sua mãe e das tarefas domésticas, além de lhe proporcionar filhos que pudessem dar continuidade ao trabalho nas terras.

Assim, Zarbon conheceu uma jovem e ficou encantado com ela. O casamento foi marcado para o mês seguinte. No dia da cerimônia, a noiva, Zangya, deslumbrava em um vestido vermelho adornado com flores campestres no cabelo. Zarbon, mesmo vestindo sua melhor roupa, repleta de remendos, exalava uma limpeza e frescor notáveis, especialmente para a ocasião.

Após a cerimônia, os recém-casados dirigiram-se para a modesta casa de Zarbon, acompanhados pelos poucos convidados que tinham para celebrar as bodas. O dia prometia ser perfeito, entretanto, algo inesperado e sombrio estava prestes a acontecer. Lorde Freeza, senhor de Zarbon, invocou o seu direito senhorial, reivindicando o ato de desflorar a noiva antes mesmo do próprio marido.

A Maldição - Uma Herança SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora