A Maldição

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A Maldição tinha se concretizado, e o filho do homem que matou um jovem inocente, era agora um lobisomem. A Maldição tinha caído na cabeça de [...], condenando a sua descendência a uma herança selvagem.

A Maldição, uma herança selvagem




ㅡ Mas que injustiça! ㅡ exclamou Bruna num lampejo de indignação.

Os olhos profundos delineados de negro da velha Uranai se fixaram na jovem que havia interrompido sua narração. O peso da tristeza ecoou na voz da jovem, enquanto ela buscava apoio nos olhos de Valentim ao seu lado.

ㅡMe desculpa... ㅡmurmurou ela, com sua expressão refletindo a melancolia da narrativa.

Raul, intrigado, questionou: ㅡMas que maldição é essa então?

Uranai, com um semblante sério, respondeu: ㅡUma maldição terrível!

Os olhos dela por um instante, voltaram-se para o quadro, antes de fixarem-se novamente em Valentim, que mantinha uma impassividade intrigante.

Raul, expressando quase uma revolta em sua feição ㅡBem, agora foram vocês que interromperam a senhorinha aí, eu só resolvi fazer a pergunta depois que ela parou de contar, não venham por a culpa em mim.

ㅡProssiga, dona Uranai, por favor. ㅡ pediu Bruna esforçando-se para se recompor.

O silêncio dominou novamente o ambiente, enquanto todos aguardavam ansiosos pela continuação da história.

ㅡEntão, todos vocês irão descobrir agora que maldição é essa... ㅡ sussurrou Uranai, envolvendo todos numa atmosfera de expectativa.

À medida que os meses passavam, os dias fluíam como um rio incessante na vida dos pais de Ribriane. O casal, outrora mergulhado na sombra da tristeza, encontrou uma nova fonte de esperança com a notícia da surpreendente gravidez de Lucrécia. A senhora, que há tempos não experimentava a dádiva da maternidade desde o nascimento de sua única filha, agora carregava consigo o milagre de uma nova vida.

Acreditando que a benção divina se materializava como resposta à coragem de Paragus, responsável por livrar o mundo da ameaça demoníaca que o assolava, o casal aguardava com alegria o nascimento de seu segundo filho. Contudo, o destino reservava-lhes uma surpresa singular: gêmeos, dois herdeiros varões destinados a perpetuar a linhagem de Paragus.

Os anos se desdobraram com o cuidado e afeto materno dedicados aos gêmeos. Embora fisicamente idênticos, Brolly e Brady revelavam personalidades contrastantes. Brolly, destemido e arrojado, dedicava-se desde cedo à arte da guerra, acompanhando o pai em caçadas e treinos com espadas e bestas - armas medievais. Brady, por outro lado, mostrava-se mais reservado e receoso diante das mesmas atividades.

O orgulho de Paragus concentrava-se em Brolly, enaltecendo sua aptidão para a guerra. Entretanto, nos bastidores, Brolly tornava-se o guardião secreto de seu irmão, auxiliando-o a superar seus medos e instruindo-o em sigilo para evitar o julgamento e os castigos do pai.

Ao passo em que o tempo avançava, os laços entre os gêmeos floresciam em uma relação de amizade e cumplicidade. Contudo, o destino de Brady tornava-se sombrio nas mãos do próprio pai, que o submetia a humilhações e castigos severos, na busca incessante por forjar um homem tão robusto quanto seu irmão.

A repulsa crescente de Brolly pelo tratamento dispensado a Brady tornava-se uma chama oculta de raiva.

Lucrécia, ciente da tempestade que se formava na alma de seu marido, empenhava-se em acalmar o ímpeto de Paragus, uma tentativa fútil de proteger seu filho Brady dos castigos impiedosos. Argumentava que, embora os gêmeos partilhassem semelhanças físicas, suas almas abrigavam gostos e temperamentos distintos. No entanto, as palavras de Lucrécia reverberavam no vazio, incapazes de dissuadir Paragus de sua mentalidade implacável. Seu filho Brady, para ele, tornara-se uma fonte de desonra e vergonha.

A Maldição - Uma Herança SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora