CAPÍTULO 2

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A tão desejada noite de sono foi um fiasco. Se cochilei por alguns minutos foi muito. Em comparação, felizmente, Graham dormiu a noite toda e quando os primeiros raios de sol surgiam o pequeno já estava desperto.


-Bom dia, amorzinho.
-Hm... bom dia- murmurou o pequeno, suas mãozinhas cobrindo os olhos verdes como os meus.


Bem, era melhor parar de fazer hora e irmos logo. Com um impulso me coloquei de pé e busquei uma troca de roupa apresentável. Assim que estava pronta, peguei algumas roupas para Graham e enchi a banheira.


-Vamos lá dorminhoco. Hora do banho.


O pequeno se aproximou choramingando e arrastando os pezinhos.

Uma vez prontos descemos até o saguão. O lugar estava vazio com exceção de um jovem desconhecido bocejando atrás do balcão.


-Com licença, pode me ajudar?
-Ãh? Ah sim claro, o que precisa?
-Sei que está cedo, mas teria algo pronto para comermos?
-Ah, é vou olhar para você.
-Obrigada.


Meio cambaleando e arrastando os pés o feérico partiu. Graham passeava pela sala sem um interesse especifico quando o rapaz retornou.


-Aqui está. Café da manhã de hoje: café e bolo.
-Está ótimo, obrigada novamente.
-De nada, senhorita.


Caminhei até uma mesa próxima, precisava comer e sair logo se quisesse ter tempo suficiente para buscar um trabalho.


-Venha Graham, vamos comer.


Apesar de ainda ser cedo, as ruas estavam movimentadas, mais uma vez me surpreendendo com a diversidade de espécies. Havia grão-feéricos, feéricos "inferiores" de todas as formas e alguns outros seres.

Além disso eram todos muito educados, desejando bom dia com sorrisos ou, se tratando dos mais mal-humorados, um aceno cordial.

Velaris é uma cidade que vem ganhando fama aos poucos, sua beleza e diversidade são os recorrentes temas de conversa nos restaurantes em que trabalhei como garçonete, além disso, apesar de estar recebendo cada vez mais turistas, aparentemente, seus governantes mantém regras rígidas e a segurança é impecável. Esses foram os principais motivos para escolher vir para cá.

Nos últimos tempos sentir segurança e paz tem sido difícil para meu irmão e eu. Chegamos a pouco tempo, mas posso notar sinais de tudo pelo que Velaris é aclamada o que me faz sentir um grande alivio, foi a decisão certa afinal.

Ao decorrer do dia, Graham e eu andamos por um bom tempo, observamos algumas lojas, perguntei em alguns lugares se tinham alguma vaga de trabalho ou se sabiam onde havia uma. Nos indicaram dois lugares, mas infelizmente -como imaginei- buscar trabalho com uma criança nos braços não passa muita credibilidade.

Quando o sol chegou em seu ápice ainda andávamos por aí. Talvez devêssemos voltar para a pousada para comer algo. Poderia procurar mais a tarde...

-Ah, olá! – cumprimentou uma voz feminina alegre atrás de nós. Olhos castanhos e um sorriso gentil, Sevenda acenava enquanto caminhava até nós.

-Olá, diga "oi", Graham.

-Oi!

-Oi, pequenino. Como vão vocês?

-Bem e você?

-Muito bem, obrigada. Estão dando um passeio?

-Mais ou menos – não custava perguntar...- Bem...por um acaso, sabe de algum lugar que precise de alguém para trabalhar?

-Está procurando emprego...?

-Sim.

-Hm...gostaria de poder ajudar, mas não me lembro de alguém que esteja precisando...Se souber de algo irei te avisar, ainda está naquela estalagem?

-Ah, sim, continuarei lá por um tempo, obrigada Sevenda.

-Bem, preciso ir agora. Boa sorte a vocês dois.

-Obrigada. Até mais.


Suspirando comecei o caminho de volta a estalagem.



*¨¨*   *¨¨*


-Olha, olha! -Graham apontava em direção ao rio que cruzava a cidade.

-O que foi? – questionei, não notando nada demais, quer dizer, com certeza era uma vista esplêndida, mas não acho que foi isso que prendeu sua atenção.

-Ele tem asas!

Sobre o rio havia uma bela ponte cheia de pessoas caminhando ou observando as águas sob eles e nessa ponte havia duas belas feéricas, uma de cabelos loiros e a outra, de cabelos castanhos-dourado, sorria para o pequeno feérico em seus braços.

O garotinho tinha a pele morena e em suas costas asas semelhantes as de um morcego. Graham que caminhava de mãos dadas a mim disparou em sua direção.


-Ei, Graham! Espere!


Desviando de todos com a agilidade de seu corpinho de criança, meu irmão chegou rapidamente até as estranhas, já eu, por tentar alcança-lo, acabei trombando mais de uma vez em pessoas diferentes e quanto mais eu avançava mais longe parecia estar.

Quando enfim, desvencilhei-me de todos Graham estava conversando com as feéricas e o garotinho alado.

Ele estava seguro, mas meu coração ainda martelava em meu peito, meu corpo parecia perder as forças pelo susto e adrenalina, o medo tomando conta e a impaciência também. Quando me aproximei o suficiente, sem aviso peguei Graham em meus braços.

-Ah! Lyra!

-Me desculpem por isso -disse às feéricas.

-Lyraaa- choramingou meu irmão.

-Pode parar, rapazinho! Nós vamos ter uma conversa muito séria depois. Quase me matou do coração, Graham!

-Olha só, você não pode correr assim da sua irmã, pequeno- repreendeu a feérica de cabelos loiros. Que aliás, era deslumbrante. As duas eram realmente lindas.

-Sinto muito por isso. Desculpa atrapalhar vocês, já vamos embora.

-Não se preocupe com isso, não foi nada – disse a feérica com a criança.

-A gente não pode brincar? – perguntou o pequeno feérico alado para, o que acredito ser, sua mãe.

-É, deixa, Lyra! Por favooorr.

Graham me encarava fazendo beicinho e com os olhinhos marejados.

-Esse truque não vai funcionar, mocinho! – sussurrei a reprimenda recebendo um choramingo em resposta. -Sinto muito, mas precisamos ir agora. Perdão, mais uma vez, pelo incômodo.

-Não foi incômodo algum- afirmou a feérica de cabelos castanhos. Olhando para o seu filho uma vez antes de olhar para Graham disse:

-Vamos deixar a brincadeira para outra hora, meninos.

Curvando-me levemente com um sorriso agradecido parti, mais uma vez, em direção a estalagem com Graham choramingando e fungando em meu ombro.

Corte de Estrelas e SegredosOnde histórias criam vida. Descubra agora