CAPÍTULO 41

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-Lyra! - Alguém gritou.

As garras de sombra iam se desfazendo. Lento demais, no entanto.

Lento o bastante para o parasita se banquetear. Seu pavor o saciando e recuperando.

Aquilo não deveria ser possível. Ele estava preso. Encarcerado no fosso em sua alma. Aquele lugar onde o vento não podia alcançar. Onde a brisa não fazia seu sangue vibrar. Então, como...?

Como está fazendo isso?

-Lyra! Ei! Ei! - A voz repetia e repetia seu nome sem parar.

Você não pode correr. Dizia aquela voz de seus pesadelos, a cada pronúncia de seu nome, a cada segundo que seu domínio se desfazia sobre ela.

- Está tudo bem. Olhe para mim, Lyra.

E  seus olhos estavam abertos, mas ela não o via. Não via nada além da escuridão plena.

- Olhe para mim, Linda. Olhe para mim.

Me ajuda, ela disse, mas sua boca não se mexia.

Por favor, me ajuda.

Então sua visão foi clareando mais e mais e agora ela o via e, ainda assim, não via.

Não era ela.

O pavor a deixou sem ar, mas seus pulmões ainda funcionavam. Seus olhos se arregalaram, mas na verdade piscavam com calma.

Os olhos de Azriel estavam fixos nela, brilhando de preocupação, mas ainda sérios e atentos.

- Lyra?

- Oi. - alguém respondeu.

Alguém com a mesma voz que a sua e tão diferente quanto. Fria, sombria e contente.

Não, não, não, não! Por favor!

Seus lábios se moveram em um sorriso que - outros- achariam ser de felicidade, talvez alívio, mas ela sabia ser de vitória.

Fazia anos que aquilo não acontecia. Anos em que ela o manteve sobre rédeas tão curtas que quase podia esquecer que existia.

Agora, as paredes da cela iam surgindo aos poucos ao seu redor. Paredes escuras como tudo o mais quando se tratava do parasita.

Sua vez..., ele sussurrou.

As sobrancelhas de Azriel se franziram devagar e seus olhos percorreram seu rosto como se buscassem algo.

-Lyra...

O sorriso em seu rosto crescia, nem mesmo se importando com os pontapés e murros que ela dava nas paredes de sua mente. Ignorando seus gritos cada vez mais furiosos.

Ela viu quando Azriel tomou seu rosto entre suas mãos, mas não as sentiu. Não sentiu nada.

Estava quebrando. Se perdendo como ocorrera tanto tempo atrás.

Não, não por favor. Ela choramingou para o parasita e a porta da cela estava se fechando. Tão devagar...

- Lyra. - A voz de Azriel soou mais como um estalo ao seu redor.

Seus olhos dispararam para cima, para aqueles castanhos que pareciam tão distantes.

O sorriso no rosto dela começou a desfazer e ela sentiu ao longe uma pontada de preocupação do parasita.

Ela - na verdade, ele - tentou se afastar do toque do macho a frente e Azriel os segurou com mais força.

- Lyra. Estou aqui.

Tudo parou por um instante. O parasita, a porta da cela, seu desespero... Então, ela tomou uma respiração profunda e lenta e fechou os olhos.

O ar voltou aos seus pulmões e quando reabriu os olhos, sentiu crescer, a sensação de medo, que não era seu.

Logo ali, na sua frente, passando pelas grades da pequena janela de sua cela e, em seguida, pela pequena abertura da porta, estava um fio dourado. Comprido e brilhante. Iluminando seu cárcere e o caminho para fora.

Com toda a sua força, ela escancarou a porta daquela cela. Ignorou os gritos e ameaças do parasita. Ignorou o arranhar de suas garras contra sua mente e se jogou contra os braços de Azriel.

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