CAPÍTULO 17

615 89 1
                                    

Azriel nunca esteve tão fora de controle de suas emoções como naquele momento. Havia disparado pelo céu de Velaris, as sombras chiando e rodopiando ao redor de suas asas e seus braços. 

Em algum momento do percurso, Cassian e Rhysand se juntaram a ele. Não teve muito tempo- nem controle suficiente de sua mente - para explicar o que estava acontecendo,mas os irmãos pareciam notar que havia algo errado e não precisaram de muito para segui-lo aonde quer que fosse.

A verdade é que nem mesmo ele sabia, exatamente, para aonde ir. Sentia aquele puxão invisível e insistente. Implorando para que fosse mais rápido, mas sem mostrar o caminho. As sombras foram suas principais guias. Fornecendo palavras soltas. Nomes, lugares, descrições. O suficiente para fazê-lo chegar as docas. 

Mas em que navio ela estava? Naquele momento havia cerca de uma dúzia de embarcações aportadas na cidade e ele podia ver mais três ao longe, no mar. A ansiedade tomou conta dele. Pediu que os irmãos se espalhassem, para que assim fosse mais fácil encontrá-la.

Aterrissou no convés de vários dos navios ali. Sempre enxuto com as palavras. Não poderia perder tempo e contava que, quando chegasse na embarcação certa, as sombras lhe dessem o aviso.

Sua paciência estava esgotando. Já havia passado tempo demais e Lyra poderia estar em qualquer lugar. Talvez até mesmo já estivesse no meio do oceano, partindo para algum lugar ao longe. Ainda assim, era a ideia de que estivesse, de alguma forma, sendo ferida que o fazia perder a cabeça.

Ele teria tempo o bastante depois para tentar entender o que tamanha preocupação por uma fêmea, que nem mesmo poderia dizer que conhecia, queria dizer.

Havia se tornado um amontoado de nervos e rosnados quando Rhysand sussurrou em sua mente que havia a encontrado. O navio em questão estava desaparecendo no horizonte.

Mais uma vez Azriel se viu cortando os céus o mais rápido que pudesse. Já imaginava como faria os responsáveis pagarem, caso a tivessem machucado.

As sombras dispararam a sua frente, quase o impedindo de enxergar. Ainda mais ansiosas que ele.

O navio era simples, mas não tanto a ponto de pertencer a um pescador qualquer. Fora escolhido, provavelmente, para manter a descrição e ainda oferecer o conforto certo para os tripulantes.

As tábuas úmidas rangeram e estalaram sob seu peso. O que quer que Rhysand estivesse discutindo com os tripulantes foi esquecido. Azriel viu alguns deles engolindo em seco, outros se encolheram e houveram aqueles que se afastaram um passo ou dois.

Ele não sabia ao certo se as reações eram devido a sua reputação ou se transparecia tanta raiva quanto sentia. Não fez diferença para ele quando as sombras vibraram e murmuram em ansiedade. Algumas se dispersando até o centro do navio, onde havia um alçapão que deveria levar aos cômodos abaixo.

Rhys dava avisos e conselhos em sua mente, mas pareciam meros chiados sobre o sussurro alto de suas próprias sombras.

A porta de madeira se abriu com força sobre suas palmas.

O lugar não passava de um cubículo escuro e úmido. Havia dois machos feéricos a sua frente. Ambos armados com espadas,mas o que prendeu sua atenção foi algo atrás deles.

Bem no centro do quarto, sentada e amarrada em uma cadeira de ferro,com os olhos vendados, estava Lyra. Tão calada e imóvel quanto o possível, mas Azriel podia ouvir as batidas aceleradas e ritmadas de seu coração. A forma como pareciam pulsar em sua própria mente.

Como uma cena distante demais ele percebeu os lábios de um dos machos se mover. Devia estar falando com ele, provavelmente, tentando se explicar ou negociar algo. Mas não fazia diferença. Ele mataria os dois se não a soltassem naquele exato momento.

Corte de Estrelas e SegredosOnde histórias criam vida. Descubra agora