CAPÍTULO 54

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Seu "quarto" tinha um cheiro constante de vômito e lágrimas. Ela podia jurar sentir o cheiro do próprio medo. Degustava em sua língua, mais do que algumas vezes por dia, o sabor de seu desespero.

Seus carrascos particulares amavam todas aquelas sensações. Faziam festa para a sua crescente covardia e sentiam prazer a cada vez que ela implorava por sua piedade.

Vez ou outra ela imagina ser capaz de ouvir alguns sussurros. Como se as sombras de Azriel buscassem por uma resposta sua.

Ela não sabia onde ele estava e os demônios odiavam quando ela pensava nele. Passavam horas afogando suas lembranças em relação a ele. Se esforçavam para expurgá-lo de sua mente e quando não conseguiam a torturavam com mais e mais lembranças de seu passado. Memórias que lhe incapacitavam tão bem quanto um verdadeiro anestésico ou veneno. Era nessas horas de vulnerabilidade que eles apagavam qualquer traço do Mestre Espião.

Atualmente, ela conseguia visualizar o par de seus olhos castanhos brilhando contra alguma luz em algum lugar que ela não conseguia lembrar. As vezes, haviam flashs de suas asas encouraçadas. Com certa dificuldade, podia se lembrar do calor de suas mãos contra seu corpo e, com muito menos frequência, havia o eco de sua voz. Seu nome sendo dito várias e várias vezes.

Lyra, esse era seu nome.

Cada vez que se lembrava ela fazia questão de repeti-lo. Como uma oração e uma âncora que a mantinha ali em sua própria mente.

Os seus parasitas chiavam e se contorciam de raiva. Murmurando o nome do Encantador de Sombras como se fosse uma maldição, mas pararam de repetir suas poucas sílabas quando entenderam que aquela era outra âncora que a mantinha ali.

Azriel, sua âncora, sua salvação e seu parceiro, ainda que, ele nunca o tenha admitido.

Quando se lembrava disso todo sentimento era abafado pelo arrependimento. Ela queria ter dito à ele que sabia. Queria ter implorado para que a perdoasse pelo seu silêncio e apenas esquecesse. Desejava fingir que vivia uma vida simples e comum e apenas pedir para que ele se tornasse parte dela.

Ela o veria de novo?

Quem? Eles sussuraram e ela se encolheu. Não queria esquecer.

Quem você queria ver? Insistiram.

Rodeando sua mente com aqueles tentáculos de sombra. Chicotes de perversão que não deixavam nada passar batido.

Ela tentou protegê-la, sua memória dele. Seu nome, sua voz, as sensações que lhe causava, mas em segundos tudo se foi...

Quem você queria ver?  Sussurraram.

O que? Ela perguntou.

Havia alguém que você queria ver?

Talvez houvesse ou não...? Quem ela queria ver?

Eu...eu não sei.

Suas risadas faziam seu coração disparar e se encolher. Ela nunca se acostumaria com o quão erradas pareciam.

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