CAPÍTULO 55

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Azriel

Aquela devia ser sua décima inspeção nas barras de sua cela. Elas não eram feitas de aço comum, mas sim de algum material levemente brilhante, de cor roxa e azul escuro. Perceber isso não mudou exatamente nada. Elas não eram mais frágeis que o aço. Isso para não dizer que pareciam muito mais resistentes.

Ele entendeu, porém, que provavelmente elas eram o motivo de estar sem seus dons. Tal qual as pedras que Hybern utilizou para prender Rhys.

Fora isso, ele não havia descoberto mais nada. Não haviam brechas naquela prisão. Nada lhe fornecia possíveis maneiras de fuga. Com o espaço escavado em pedra e as grades super resistentes ele estava muito e totalmente ferrado.

     ○◇•◇○◇ •

Os gritos começaram algumas horas atrás. Horas em que sua paciência fora drenada e o desespero falou mais alto. Chocando o aço dos grilhões contra as barras da cela ele rezava para conseguir danificá-las ao menos um pouco, mas nada se alterou.

Seus braços pareciam prestes a cair, os ossos vibravam e os músculos reclamavam a cada segundo em que insistia naquilo.

Eram gritos de uma mulher. Gritos de dor que pareciam não ter fim e aquilo o estava enlouquecendo. Sua mente fazia questão de lhe fornecer imagens de torturas que um dia ele causara.

Ele precisava sair dali. Precisava achar Lyra.

Então, simplesmente, tudo ficou em silêncio. Deveria se sentir aliviado, os gritos cessaram, mas isso poderia significar tantas coisas!

Agora, minutos -ou talvez horas- desde que o último eco dos gritos o alcançou, ele ainda se mantinha empenhado em causar algum dano nas barras. Os grilhões feriram sua pele e havia sangue escorrendo por seus braços, endurecendo em suas roupas.

Azriel continuou assim, até que um dos guardas apareceu. Ele parecia jovem demais para estar ali. O uniforme talvez fosse um número maior do que o ideal.

Ele não deu tempo para que o rapaz se esquivasse. No momento em que o feérico apareceu, seus olhos esbugalhados fixaram-se no que Azriel tentava fazer e no sangue que escorria sob os grilhões. Então, ele ficou ali parado. Foram poucos segundos até que percebesse seu erro, mas foi o bastante para que o Mestre Espião pudesse esticar os braços e agarrar seu uniforme.

Seu rosto já estava sendo prensado nas grades quando o guarda começou a falar:

- EI! EI! EI! - disse desesperado. Azriel arrancou o elmo de sua cabeça e o afastou levemente para tomar impulso, precisava apagá-lo antes que os outros guardas decidissem verificar o motivo de toda essa comoção.

- Espera, Azriel! AZ, SOU EU!

Talvez fosse devido a surpresa de aquele estranho usar seu nome e seu apelido quando nenhum dos outros deram indícios de saberem, mas Azriel parou, mantendo o rapaz a poucos centímetros de colidir com aquela pedra roxa.

Ele observou os olhos castanhos aos poucos se tornarem azuis-acinzentados. Os traços masculinos dando lugar a delicada feição feminina.

- Sou eu, Az. - Feyre sussurrou - Calma, calma.

Feyre estava ali. A sua frente.

Ele a afastou com um pouco mais de força do que pretendia, o que a fez cambalear para trás, as peças do uniforme grande demais para ela entortando pelo movimento.

Talvez tivesse enlouquecido de vez.

- Az? - ela chamou enquanto se aproximava mais uma vez das grades.

Isso era impossível, certo? Apenas um metamorfo poderia fazer algo do tipo. Vestir uma pele que não era sua, moldá-la ao seu corpo como se não passasse de uma fantasia e Feyre não era um deles...

Mas havia recebido parte dos poderes de metamorfose do Grão-Senhor da Primaveril e, apesar de nunca ter visto o feérico usá-lo dessa forma, já vira a própria Feyre usá-lo ao se passar pela sarcedotisa tempos atrás...

- Az, preciso tirar você daqui. - declarou ao escolher uma das dezenas de chaves do molho preso em sua roupa- Não temos muito tempo e pode ser, na verdade com toda certeza é, muito arriscado o que precisamos fazer, mas...

- Você precisa achá-la - ele pediu em meio a respiração ofegante.

- O quê? - ela questionou.

- Lyra. - Agora seu nome lhe doía mais que qualquer ferimento- Feyre, você precisa achá-la. Não sei onde ela está! Como ela está, o que pretendem fazer e isso se já não fizeram. Precisa encontrá-la.

- Mas Az, eu não posso. Preciso tirar você...

- Não! - ele a cortou, disparando em sua direção e a impedindo de abrir a porta- Não saio daqui sem ela.

Feyre o encarava com uma expressão aflita. A mão apertada no cabo da espada em seu quadril.

- Por favor. Por favor, Feyre. Preciso ajudá-la.

- Se eu for, vai demorar bastante para poder voltar e não sei se consigo tirar nós três daqui... - ela murmurou, os olhos dançando sobre o nada como se pudesse ver cada passo que precisaria tomar -Az, eu posso te tirar daqui e nós podemos voltar para buscá-la depois...

Ele sacudiu a cabeça com violência. Sem chances. Não mesmo.

- Encontre-a e tire-a daqui. Eu me viro depois.

- Se eu fizer isso eles não vão mais ter utilidade para você! E o que vão fazer depois, Az? Por favor...

-Por favor, eu quem peço! Vá,Feyre, vá. Você já está aqui há muito tempo, eles vão começar a suspeitar. Encontre-a, por favor.

-Não! Az... - sua Grã- Senhora sacudia a cabeça sem parar, desesperada para tirá-lo dali, mas ele não mudaria de ideia.

As chances de o rei desse lugar desconhecido apenas aceitar sua fuga eram pequenas demais para arriscar. Devia saber o que o ligava a Lyra ou não teria feito aquela criatura de pesadelos o carregar até ali.

Grandes eram as chances de ele estar ciente de seu laço -ainda que adormecido- e se assim fosse, ele só estava sendo mantido ali como uma segurança de ter Lyra em suas mãos. Claro que tudo isso supondo que ela o consideraria tanto quanto era esperado para manter um plano desses.

Ele precisou de mais algumas tentativas para fazer Feyre sair dali. Por sorte -ou graças a Mãe- ninguém mais desceu ali.

Agora só lhe restava esperar e planejar. Haviam tantas coisas que poderiam dar errado...mas ele confiava em Feyre, se alguém poderia tirar sua parceira dali era ela. Então, Lyra estaria segura, sua família não deixaria que a levassem novamente.


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