- Aonde estamos indo, papai? - perguntei enquanto andávamos rápido em direção a floresta.O sol já havia sumido do céu há um bom tempo, mas, apesar de estar bem escuro, ela conseguia enxergar muito bem tudo a sua volta.
Papai segurava minha mão enquanto andávamos.
Antes de lhe responder, ele parou e rapidamente a pegou nos braços.
A menina então olhou para o rosto do pai. Seus olhos estavam fixos na estrada e ele se manteve calado o tempo todo. Nem mesmo respondendo sua pergunta.
Talvez estivesse zangado...
-Por que está zangado, papai?
Mais uma vez, ele nada disse.
-Papai? - ela chamou e ele, de novo, nada disse.
Lágrimas começaram a empoçar em seus olhos, embaçando sua visão. O medo e o receio começaram a tomar conta dela. O que aconteceu? Porquê ele não responde?
Devagar ela apoiou o rosto sobre seu ombro. As lágrimas escorriam agora.
Papai emitiu um som estranho, que a fez se erguer para olhá-lo.
Suas sobrancelhas se abaixaram e ele apertava os dentes com força.
- Papai? - Dessa vez, suas mãos apertaram ao seu redor e, lentamente, ele virou os olhos para ela.
- Des...desculpa...minha...princesa.
Ela não sabia porquê ele se desculpava e, muito menos, sabia o motivo de parecer ser tão difícil para ele dizer aquelas palavras.
Algumas lágrimas caíram sobre as bochechas dele e rapidamente ela esticou as mãos para as secar.
-Tudo bem, papai -ela murmurou - Vai ficar tudo bem.
Ele ainda a observava e seus passos pareciam lentos agora.
Papai parecia se esforçar contra algo que ela não podia ver. Será que estava doente?
- Xiii... -ela sussurrou aquele som que mamãe usava para acalmá-la sempre que precisava.
Mais uma vez, ela deitou sobre o ombro do pai e com as mãos pequenas afagou suas costas. Esperando que fosse o bastante para fazê-lo melhorar.
Papai não disse mais nada e em pouco tempo voltou a caminhar para dentro da floresta, seus braços ainda a apertavam, no entanto.
Seu calor, o silêncio e o balançar contante de seu caminhar, rapidamente a embalaram em um sono tranquilo.
○◇ • ◇ ○◇•
Vozes desconhecidas a despertaram. Papai a apertava em seus braços e tremia sem parar.
Quando ergueu os olhos ela percebeu que ele estava chorando.
Abrindo e fechando a boca varias vezes até conseguir dizer algo.
-Por favor! -ele disse. Sua voz ainda continuava estranha. Rouca e chorosa. Parecia ter dificuldade em dizer qualquer coisa - Por...favor!... não...
Ele não olhava para ela, mas sim para um grupo de homens estranhos parados alguns passos a frente.
Com medo, ela se agarrou mais ao pescoço do pai, mas sem deixar de observá-los.
Haviam quatro deles. Três usavam armaduras como as dos soldados que rondavam a cidade e um - que se mantinha no meio deles- estava coberto por um manto preto com capuz que não deixava nada de si a vista.
Ele soltou um longo suspiro e então apontou para um dos soldados a sua esquerda, que logo veio até nós. Ele ergueu os braços em minha direção, mas papai me apertou mais ainda, sem permitir que me levasse.
O medo agora vinha contudo. Seu coração disparou em seu peito e as lágrimas recomeçaram.
- Não. - ela disse - Papai, eu não quero ir!
No entanto, o soldado a agarrou e puxou para si. Se esforçando para desfazer o aperto de seu pai sobre ela.
- Por favor! - ele ainda murmurava.
-Não! Papai! Papai! Não quero!
O soldado, então, com um grunhido frustrado arrancou-lhe do colo do pai e a segurou contra si.
Não importava o quanto ela tivesse esperneado e gritado. Ele não a soltou. Papai continuou parado até que o homem encapuzado estalou os dedos. Seus soldados se adiantaram ao mesmo tempo em que papai avançou.
Gritando seu nome e implorando para que parassem. Ele agora não parecia mais estranho. Esperança inundou seu pequeno coração e ela gritou.
Ele a salvaria. Papai não deixaria ele a levar.
Entretanto, quando papai se jogou em sua direção, os soldados o cercaram. Espadas erguidas em direção a ele. Ainda assim, papai não parou.
Ele se esquivou e gritou e empurrou aqueles homens. Até que começaram a brigar.
Papai derrubou um dos soldados, então o outro, com a espada erguida se jogou sobre ele.
Os olhos arregalados de papai miraram os dela e ela parou de gritar.
Não entendeu o que aconteceu. Não percebeu a espada enfiada em seu peito. Estraçalhando seu coração imortal.
Contudo, algo dentro dela parecia saber que não o veria nunca mais. Ele não a salvaria. Não lhe tomaria nos braços. Eles não voltariam para casa.
Quando papai caiu no chão, nenhum dos soldados tentou ajudá-lo. Eles apenas o deixaram ali, caído.
As lágrimas lavavam suas bochechas e caíam sobre a terra.
Seus gritos deixaram sua garganta dolorida. Ainda assim, os soldados não a soltaram. O homem encapuzado, nada disse. Ele apenas estendeu a mão sobre ela e um calor estranho subiu por seu corpo, silenciando os gritos e o choro, fazendo-a adormecer.
○◇ •◇ ○◇ •
Eles adoraram a dor que a lembrança lhe causou. Suas sombras cresceram mais e mais, abafando seu corpo e sua presença.Ela nem mesmo sabia que, em algum lugar em seu inconsciente, aquela memória se mantinha.
A última vez que viu seu pai de sangue.
O medo, a dor e a saudade servindo-lhe de banquete para seus paladares perturbados.
Chiando e gargalhando eles a rondaram. Essências corrompidas e maliciosas golpeando toda e qualquer parte de sua mente. Tentando suprimir suas vontades, sua existência.
Com um grito atormentado ela se encolheu, retornando -contra a sua vontade- às lembranças que lhe doíam a alma.
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Corte de Estrelas e Segredos
FanfictionLyra e seu irmãozinho têm vivido uma vida nômade, fugindo de assassinos que os perseguem implacavelmente. Em sua busca por segurança, eles chegam a Velaris, uma cidade mágica banhada pela luz estelar. Determinada a recomeçar, Lyra se vê dividida en...