CAPÍTULO 52

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- Aonde estamos indo, papai? - perguntei enquanto andávamos rápido em direção a floresta.

O sol já havia sumido do céu há um bom tempo, mas, apesar de estar bem escuro, ela conseguia enxergar muito bem tudo a sua volta.

Papai segurava minha mão enquanto andávamos.

Antes de lhe responder, ele parou e rapidamente a pegou nos braços.

A menina então olhou para o rosto do pai. Seus olhos estavam fixos na estrada e ele se manteve calado o tempo todo. Nem mesmo respondendo sua pergunta.

Talvez estivesse zangado...

-Por que está zangado, papai?

Mais uma vez, ele nada disse.

-Papai? - ela chamou e ele, de novo, nada disse.

Lágrimas começaram a empoçar em seus olhos, embaçando sua visão. O medo e o receio começaram a tomar conta dela. O que aconteceu? Porquê ele não responde?

Devagar ela apoiou o rosto sobre seu ombro. As lágrimas escorriam agora.

Papai emitiu um som estranho, que a fez se erguer para olhá-lo.

Suas sobrancelhas se abaixaram e ele apertava os dentes com força.

- Papai? - Dessa vez, suas mãos apertaram ao seu redor e, lentamente, ele virou os olhos para ela.

- Des...desculpa...minha...princesa.

Ela não sabia porquê ele se desculpava e, muito menos, sabia o motivo de parecer ser tão difícil para ele dizer aquelas palavras.

Algumas lágrimas caíram sobre as bochechas dele e rapidamente ela esticou as mãos para as secar.

-Tudo bem, papai -ela murmurou - Vai ficar tudo bem.

Ele ainda a observava e seus passos pareciam lentos agora.

Papai parecia se esforçar contra algo que ela não podia ver. Será que estava doente?

- Xiii... -ela sussurrou aquele som que mamãe usava para acalmá-la sempre que precisava.

Mais uma vez, ela deitou sobre o ombro do pai e com as mãos pequenas afagou suas costas. Esperando que fosse o bastante para fazê-lo melhorar.

Papai não disse mais nada e em pouco tempo voltou a caminhar para dentro da floresta, seus braços ainda a apertavam, no entanto.

Seu calor, o silêncio e o balançar contante de seu caminhar, rapidamente a embalaram em um sono tranquilo.

○◇ • ◇ ○◇•

Vozes desconhecidas a despertaram. Papai a apertava em seus braços e tremia sem parar.

Quando ergueu os olhos ela percebeu que ele estava chorando.

Abrindo e fechando a boca varias vezes até conseguir dizer algo.

-Por favor! -ele disse. Sua voz ainda continuava estranha. Rouca e chorosa. Parecia ter dificuldade em dizer qualquer coisa - Por...favor!... não...

Ele não olhava para ela, mas sim para um grupo de homens estranhos parados alguns passos a frente.

Com medo, ela se agarrou mais ao pescoço do pai, mas sem deixar de observá-los.

Haviam quatro deles. Três usavam armaduras como as dos soldados que rondavam a cidade e um - que se mantinha no meio deles- estava coberto por um manto preto com capuz que não deixava nada de si a vista.

Ele soltou um longo suspiro e então apontou para um dos soldados a sua esquerda, que logo veio até nós. Ele ergueu os braços em minha direção, mas papai me apertou mais ainda, sem permitir que me levasse.

O medo agora vinha contudo. Seu coração disparou em seu peito e as lágrimas recomeçaram.

- Não. - ela disse - Papai, eu não quero ir!

No entanto, o soldado a agarrou e puxou para si. Se esforçando para desfazer o aperto de seu pai sobre ela.

- Por favor! - ele ainda murmurava.

-Não! Papai! Papai! Não quero!

O soldado, então, com um grunhido frustrado arrancou-lhe do colo do pai e a segurou contra si.

Não importava o quanto ela tivesse esperneado e gritado. Ele não a soltou. Papai continuou parado até que o homem encapuzado estalou os dedos. Seus soldados se adiantaram ao mesmo tempo em que papai avançou.

Gritando seu nome e implorando para que parassem. Ele agora não parecia mais estranho. Esperança inundou seu pequeno coração e ela gritou.

Ele a salvaria. Papai não deixaria ele a levar.

Entretanto, quando papai se jogou em sua direção, os soldados o cercaram. Espadas erguidas em direção a ele. Ainda assim, papai não parou.

Ele se esquivou e gritou e empurrou aqueles homens. Até que começaram a brigar.

Papai derrubou um dos soldados, então o outro, com a espada erguida se jogou sobre ele.

Os olhos arregalados de papai miraram os dela e ela parou de gritar.

Não entendeu o que aconteceu. Não percebeu a espada enfiada em seu peito. Estraçalhando seu coração imortal.

Contudo, algo dentro dela parecia saber que não o veria nunca mais. Ele não a salvaria. Não lhe tomaria nos braços. Eles não voltariam para casa.

Quando papai caiu no chão, nenhum dos soldados tentou ajudá-lo. Eles apenas o deixaram ali, caído.

As lágrimas lavavam suas bochechas e caíam sobre a terra.

Seus gritos deixaram sua garganta dolorida. Ainda assim, os soldados não a soltaram. O homem encapuzado, nada disse. Ele apenas estendeu a mão sobre ela e um calor estranho subiu por seu corpo, silenciando os gritos e o choro, fazendo-a adormecer.

○◇ •◇ ○◇ •


Eles adoraram a dor que a lembrança lhe causou. Suas sombras cresceram mais e mais, abafando seu corpo e sua presença.

Ela nem mesmo sabia que, em algum lugar em seu inconsciente, aquela memória se mantinha.

A última vez que viu seu pai de sangue.

O medo, a dor e a saudade servindo-lhe de banquete para seus paladares perturbados.

Chiando e gargalhando eles a rondaram. Essências corrompidas e maliciosas golpeando toda e qualquer parte de sua mente. Tentando suprimir suas vontades, sua existência.

Com um grito atormentado ela se encolheu, retornando -contra a sua vontade- às lembranças que lhe doíam a alma.

Corte de Estrelas e SegredosOnde histórias criam vida. Descubra agora