CAPÍTULO 20

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Lyra estava parada do outro lado da rua da enorme casa do Grão-Senhor. Não foi a beleza do imóvel que lhe fez parar -apesar de realmente ser de cair o queixo. Havia decido deixar para trás todas as incertezas e agir com precisão em cada decisão que fosse tomar, mas parada ali, no lugar em que provavelmente decidiriam se a veriam como inimiga ou protegida, ela se perguntou como seguiria com esse plano.

Não fazia ideia do que diria, como agiria, como reagiria a sentença que lhe dessem. Ela estava por vontade própria indo até seu julgamento.

Deveria pegar Graham e partir. Deveria ter feito isso assim que chegou a estalagem. Não iriam notar até que fosse tarde demais. Seu mestre espião não parecia mais muito inclinado a lhe vigiar.

Porém, em vez disso, passou o tempo acalmando o irmão, contando em partes o que havia acontecido a Sevenda e, por fim, se banhou e caminhou até aqui.

Rhysand havia dado a entender que iria esperá-la, então já deveria ter notado sua presença aqui fora. Ainda assim, ninguém apareceu para levá-la para dentro. Não houve sequer um movimento nas enormes janelas iluminadas por luzes amarelas aconchegantes.

Passou a mão pelo tecido de suas roupas. Alisando dobras inexistentes.

Não havia dito à ninguém aonde estava indo. Apenas pediu para que Sevenda ficasse com Graham por algumas horas e partiu.

Com um suspiro a feérica atravessou até a enorme porta de entrada da casa. Os passos incertos estalando sobre o chão.

Ergueu o punho para bater a porta, mas parou o movimento pela metade quando esta se abriu.

Lyra encarou os olhos castanhos e o maxilar forte do feérico, o cabelo da mesma cor emoldurando a pele morena claro. O General parecia dissecar cada parte dela. Aqueles olhos  semelhantes, em cor, aos de Azriel, brilhavam, se em diversão ou curiosidade, ela não poderia dizer, mas talvez fosse ambos...

- Que bom que chegou, Lyra. Estávamos esperando.

Com um sorriso torto, mas gentil, Cassian abriu ainda mais a porta, dando-lhe passagem.

Hesitou alguns meros segundos até finalmente entrar. Os passos cada vez mais incertos com o destino ao qual a levavam.

Se obrigou a mostrar indiferença, ainda que soubesse que o General podia ouvir cada batida estrondosa e veloz de seu coração. Talvez a sua ansiedade fosse o motivo de tanta diversão em seus olhos.

Ou ele apenas soubesse que destino lhe aguardava e se divertia com sua incerteza.

Que ótimo, ela havia trocado o "talvez" por um outro grande amontoado de incertezas.

Com o semblante neutro -ou pelo menos ela esperava que assim fosse- o seguiu por entre os cômodos da casa.

Paredes haviam sido decoradas com quadros. Uma mistura de perspectivas e sentimentos. Alguns com traços apressados, outros com detalhes vividos e notáveis, mas todos pareciam transbordar significado. Cada qual com sua história.Pequenas lembranças da vida de alguém.

-Nossa Grã-Senhora pintou cada uma delas -contou Cassian, parado ao seu lado.

Ela nem mesmo havia notado que parou de andar. Completamente hipnotizada pelas telas nas paredes.

Não disse nada ao General, nem sabia se deveria lhe dirigir a palavra. Então, quando o macho retomou os passos largos ela apenas o seguiu. Evitando qualquer detalhe que pudesse lhe distrair. Ainda assim, notou o carpete vermelho que se estendia adiante, a mobília de madeira escura, as enormes janelas que pareciam aumentar ainda mais o lugar...

Pararam sob o batente do que parecia ser um escritório. Não enxergou muita coisa até que o General decidiu adentrar o lugar.

Mais uma vez, havia muita mobília de madeira escura, livros espalhados por estantes enormes, tapetes forrando o centro da sala e sobre eles poltronas de couro macio- algumas já ocupadas. Ao fundo da sala havia uma mesa e cadeira com alguns papéis.

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