CAPÍTULO 38

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Seu coração estava prestes a parar. O som reverberando em seus ouvidos impedindo-a de ouvir qualquer outra coisa.

Ela tentou se afastar, mas o desespero a fez tropeçar e cair de bunda no chão. Entretanto, nada a impediu de se arrastar para mais e mais longe.

Nada a impediu...além de uma estúpida parede.

Aquela coisa iria devorá-la.

Nada se compararia aquilo. Ela precisava correr, precisava fugir, precisava...

Em um piscar de olhos - literalmente - a coisa havia sumido. Levando consigo a escuridão que tomou a área.

Ela olhou para os lados, buscando qualquer sinal, qualquer rastro ou dica de para onde aquilo havia ido e acabou se deparando com os olhares confusos e assustados dos civis ao redor.

Pessoas que ela nem havia se lembrado que existiam até o momento.

-Você está bem? -perguntou uma feérica. Sua pele verde musgo brilhando ao sol e seus olhos completamente negros arregalados.

Se ela estava bem?

-Você viu para onde aquela coisa foi? - Lyra perguntou olhando ao redor novamente.

Havia realmente desaparecido.

-Que...Que coisa, querida? - a voz da feérica estava baixa e suave e Lyra se sentiu incrivelmente envergonhada, porque ela parecia falar com uma criança. Uma criança assustada. Era isso o que parecia?

- Você não viu? - ela não esperou a resposta da feérica ao continuar- Estava ali! Naquele beco, ali! E...e tinha asas enormes e...e garras enormes também...Você viu, certo?

A feérica olhou para as pessoas ao redor. Alguns riam e continuavam seu caminho, outros pareciam curiosos de mais para se mover e uns poucos a olhavam com uma mistura de pena e solidariedade. Agiam como se ela estivesse fora de si. Como se ela fosse louca e não fizessem ideia de como lhe dizer que: " Olha, você está alucinando, querida."

Mas não estava. Ela não estava alucinado. Não era maluca e muito menos precisava de pena. Aquela coisa era real, não uma invenção de sua mente...Certo?

Mais rápido do que se achava capaz, Lyra se colocou de pé. Ao inferno que ficaria ali passando vergonha.

Então, fez o que qualquer outra pessoa faria.

Saiu andando sem falar nada.

Ao fundo a feérica de olhos negros a chamava e ela fez questão de ignorar.

Como podem não ter visto? Estava lá! Bem na frente deles, a vista de qualquer um - qualquer um- que tivesse olhos e fosse capaz de enxergar!

Mas talvez realmente não pudessem ver. Talvez fosse coisa da sua mente...

Você não pode correr...

Sussurrou algo bem, mais bem no fundo de sua mente. Uma memória, que ela fez questão de guardar naquele cofre escuro e assombrado em sua própria cabeça.

O frio tomava, aos poucos, seus membros inferiores. Arrepiando a sua pele daquela forma macabra da qual ela se lembrava.

Ignore, ela disse a si mesma.

Mas ela podia sentir, os tentáculos se prendendo a sua mente. Podia quase ver a escuridão a cercando.

Não é real. Ele não pode mais lhe atingir. Não é real.

Pés estalaram no cascalho a sua frente. O som das asas coreáceas chegando a ela um segundo tarde demais.

Estou morta, ela pensou e ao mesmo tempo: Não estava louca, então!

E se chocou contra a criatura que a perseguia.





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