CAPÍTULO 15

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Azriel estava treinando com Cassian na Casa do Vento quando notou que havia algo errado. As sombras estavam agitadas a todo momento desde que viu Lyra pela primeira vez, então, ele havia passado a ignorar seus movimentos atrapalhados e nada discretos,como deveria ser.

Ele estava concentrado no treino, lançando uma sequência de golpes no irmão, na tentativa de ganhar uma vantagem, mas, como sempre, Cassian parecia invencível. O general não poderia ser facilmente abalado e derrotado. Ainda que, Azriel pudesse ser, de certa forma, arrogante o bastante para dizer que havia chances de ele chegar perto disso. 

Quando Cassian retomou o controle na luta e iniciou a própria sequência de ataques sobre ele, Azriel estava pronto. Focado e preparado para cada impacto. Conseguiu defender os primeiros golpes com perfeição. O som de metal se chocando se espalhava pelo lugar, combinado as risadas do irmão, e dele próprio, vez ou outra.

Foi então que Azriel sentiu. Um desconforto se espalhando por seu corpo, a princípio. E então, haviam...puxões em seu estômago. Como uma corda tencionando seu corpo.

A sensação era tão anormal e estranha que ele se distraiu o bastante para abaixar sua espada. Cassian só teve segundos para notar o ato e desviar a própria espada. Azriel sentiu ao longe um ardor ao longo do antebraço, onde a lâmina do irmão havia raspado. 

Ouviu Cassian xingando, ao mesmo tempo em que os puxões se intensificaram e as sombras se amontoaram em seus ombros, fazendo com que soltasse os próprios xingamentos.

-Que merda é essa? - explodiu Cassian, mas quando tentou se aproximar as sombras dispararam em sua direção, mantendo-o longe.

Azriel estava tão perdido quanto o general. Aquilo era algo novo e completamente estranho. Os puxões não traziam dor, mas eram fortes e desconcertantes o suficiente para impedi-lo de pensar com clareza. As sombras rodopiavam ao seu redor em um enxame de escuridão, chiando e murmurando palavras apressadas e desconexas.

Cassian chamava seu nome e continuava tentando se aproximar, mas ele não deu atenção. Algo estava muito errado, mas como de costume, suas sombras deveriam saber o que era. Então, se esforçou para entender o que diziam. "Perigo", "Captura", "Salvar" essas foram as únicas palavras que pôde entender. Vagas demais para fazer algum sentido.

Sua mente disparou para a cidade, para Rhys, Feyre, Nestha, Elain, Mor, Amren, Nyx.

Nenhum deles estava ali no momento, poderiam estar em perigo, ou talvez a cidade inteira, mas caso o fosse, Cassian já deveria ter notado algo, Rhys teria os avisado.

Alarmado, Azriel se forçou a controlar as emoções por tempo suficiente para gritar para Cassian:

-Cassian, tem algo de errado! Vá atrás dos outros!

-É claro que tem algo de errado, olhe para você! Se houvesse algo com os outros Rhys já...

-Cassian, vai logo!

Azriel ouviu os passos do irmão e em seguida o som de suas asas. Se houvesse um problema Cassian poderia resolver até ele descobrir um jeito de parar esse surto do próprio corpo. 

Como as sombras não demonstravam sinais de que estavam se acalmando, Azriel começou a cantar. Murmúrios baixos o bastante para que apenas elas ouvissem. Depois de alguns minutos, finalmente, elas pareciam começar a se acalmar. As mesmas palavras de antes eram repetidas sem parar. Ele forçou o controle sobre elas, ordenando que dissessem o que havia de errado.

Palavras diferentes foram ditas "Neblina", "Porto", "Senhora". Cada vez mais confuso, ele tentou buscar alguma conexão entre as palavras. Alguém estava em perigo, algo envolvendo o porto talvez...Quem? Quem precisa de ajuda? ele tentou perguntar.

Sussurram algumas outras palavras e então outras e então, mais baixa do que todas, uma palavra, um nome, chamou sua atenção.

"Lyra"

O nome ecoou em sua mente. Como um estalo ele entendeu o que precisava fazer. Imediatamente as sombras se dispersaram. Azriel correu pela varanda da Casa e saltou pelo parapeito. 

De longe, conseguia enxergar o porto, alguns navios começavam a se afastar da costa, outros permaneciam ancorados.

Em algum lugar ali, Lyra estava em perigo. Os puxões se mantinham, ficando cada vez mais fortes e insistentes, mas ele estava ocupado demais para entender a extensão de tudo aquilo. O por quê de seu corpo, o seu ser, estar tão ligado aquela feérica. Distraído demais para questionar o medo que rondava o fundo de sua alma, a raiva, por pensar no que poderia estar acontecendo, se ela estaria ferida...

Ele só esperava que não fosse tarde demais para alcançá-la.

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