CAPÍTULO 33

423 65 5
                                    


Poucos sabiam a extensão dos dons concedidos pela sombras. A teia complexa e perfeita para fazer dele e tantos outros Encantadores de Sombras perfeitos espiões e torturadores.

A furtividade era o fator básico e característico, mas aquele que Azriel mais gostava e admirava era o que lhe permitia sentir coisas que outros não podem.

Talvez os daematti, como Rhys e Feyre, possam, ao entrar na mente de alguém, absorver e distinguir sentimentos, mas ele não precisava desse dom.

Suas sombras em essência sentem cada mínima mudança corporal, provam o sabor das mentiras e a textura das emoções e, consequentemente, ele acaba ciente delas também.

Na maior parte do tempo, ele evita adentrar essa área específica. Emoções são inconstantes e há pontos específicos que as diferem uma das outras. Em resumo, é cansativo tentar entender cada uma delas.

Decorou, entretanto, os mais básicos e necessários para seus serviços à Corte: medo, mentira, ódio e ansiedade.

A esperança, porém, tem um sabor doce e exala calor. Quase como o sol depois de longos dias de chuva ou uma xícara de chá nos meses de inverno.

Havia um bom tempo em que ele havia decidido bloquear esse dom quando está perto de Lyra.

Com medo demais de descobrir seus sentimentos e nada disposto a invadir sua privacidade diante deles.

Mas ela estava quieta demais, distraída. A atenção fixa no local onde os garotos brincavam, e ele se viu curioso.

Ansioso para saber o que ela pensava, nem mesmo percebeu que havia aberto aquela janela até que uma grande bola de neve feita de medo, ansiedade, angústia e esperança o acertou com força.

Aquela parte em seu âmago que repuxava e se debatia incontrolável, quando próximo dela, pareceu despertar com tudo.

Seu coração martelava em seu peito e havia algo em sua mente implorando para que ele agisse contra a causa desses sentimentos infelizes.

Ele a observou.

O leve tremular dos lábios cerrados, as sobrancelhas se franzindo quase imperceptívelmente, a mão direita apertando o braço da cadeira e por fim, aquele suspiro que exalava sua angústia.

-Lyra? -ele chamou, aflito por tirá-la daquele sentimento.

Seus olhos verdes correram até ele. Arregalados e confusos. Brilhando como nunca, mas dessa vez estavam encobertos pela tristeza.

Estendeu a mão até a dela. Sua palma a cobrindo por inteiro, em um encaixe perfeito.

Não sabia o que dizer ou o que fazer. Como impedir que sofresse pelo o que quer que a estivesse torturando.

Então, apenas ficou ali, os dedos apertando sua pele clara na esperança de reconfortá-la.

Fingiu voltar a atenção para os outros, mas estava unicamente atento a fêmea ao seu lado. Cada respiração e movimento. Notou seu olhar preso em suas mãos unidas e o leve rubor em suas bochechas.

Adorável.

Acima de tudo, esperou com afinco para que aqueles sentimentos a deixassem, mas eles não sumiram, apenas se abrandaram.

A quanto tempo insistiam em se agarrar a ela?

O que seria necessário para expurgá-los?

****

Ainda mantinham as mãos unidas quando, enfim, a comida foi servida.

Lyra só se desvencilhou quando Graham se juntou a mesa.

Corte de Estrelas e SegredosOnde histórias criam vida. Descubra agora