Blackword

5. Marcas

Morgana está macerando as fatias do caule e o caldo em uma tigela quando ouve os passos vindo do escritório. ela vira a cabeça e encara Balthazar encostado no batente da porta.

- Como está o ferimento?
- Seja lá qual for o veneno que It Akashiro usa em suas flechas é forte e desconhecido. a pele e os músculos da minha caixa torácica só terminaram de se regenerar agora a pouco.
- E nada de braço?
- Lauren acha que nesse ritmo ainda vai demorar 1 ou 2 dias para ele se restituir por completo.
- E ela?
- Está no laboratório estudando meu braço e o tecido envenenado.
- Você sabe, que seja lá quem estiver por trás de It Akashiro, não irá desistir, né?
- E nada de novidade nesse sentido, né?
- Não. Depois que você iniciou o protocolo de pânico, Ramon buscou vocês e depois foi extrair a lacraia maligna, quando ele voltou com ela, eu voltei lá, mas não havia nada. Era uma rua comum sem nenhum traço de combate por ali.
- E a história só melhora… -ele se senta visivelmente cansado.- Acha que ela vai aceitar o convite da Sari?
- Não faço ideia. Nós a criamos para ser uma mulher independente, Balthazar. Temos que confiar que ela fará as escolhas certas.
- Isso foi uma indireta?
- Você sabe que ainda tem muito para conversar com a Gabriela, né?
- Sei, mas uma coisa de cada vez.
- Cabeça de sangue, careca, vocês precisam ver isso.

Os dois se assustam com a voz de Ramon, que gesticula para os dois se levantarem logo. Os três entram no escritório e Ramon põe a mão sobre o brasão da família fazendo com que a estante se divida em duas, revelando o elevador panorâmico privativo.

Eles entram e descem até a área térrea. Lauren está parada em frente a dois grandes monitores, um com a imagem da flecha e o outro exibia diversas composições químicas.

- Estive revendo as cenas na área da luta e obviamente não achei nada, mas com Argo ativo pude remover a interferência mística e consegui isso. -diz Ramon guiando eles até um monitor pausado.

Ele reproduz o vídeo ao apertar um botão. Na cena, um esquadrão composto por 7 pessoas cobertas por armaduras cinzas, o único ponto colorido é o símbolo que todos carregam na lateral do ombro esquerdo: dois ossos negros cruzados sobre uma rosa azul.

A única exceção é a marca naquela, que parece ser a líder deles. Enquanto os seis soldados usam capacetes com viseiras, ela não usa nada sobre a cabeça. O símbolo na lateral do ombro esquerdo dela diferentemente do deles é composto por uma rosa vermelha cruzada sob um único osso negro.

- Dois soldados junto a líder saíram com o corpo de It imobilizado em um tipo de maca tecnológica, outros dois cuidaram da restauração da loja e os dois últimos, da restauração da rua.
- Alguma coisa com o rosto da líder?
- Não, Balthazar, chamei vocês aqui só para verem a tropa robocop e as marcas no ombro. -ele revira os olhos impaciente.- conheçam a Srta. Marisa Xavier Gregório.

A imagem no monitor é chocante para dizer o mínimo. Na tela, a imagem mostrada, é a de um rosto seriamente torturado: enquanto a metade esquerda permanece normal, o lado direito está intensamente carbonizado, a maior parte da carne exposta, o olho vítreo atravessado por uma cicatriz diagonal que termina no nariz. O cabelo negro está cortado em estilo militar, seu olho esquerdo é de um tom castanho-escuro e apesar da aparência ela parece contente.

Ela digita algo em um pequeno aparelho, instantaneamente todos somem e logo em seguida carros e pedestres começam a transitar normalmente pela rua.

- Essa sua cara não tá feliz. Por quê?
- Isso é tudo que temos. -Ramon suspira irritado.- São todos fantasmas, inclusive a madame Duas-caras. Apesar de termos a origem dela.
- Mostra.

Ramon digita alguns códigos e na tela surge uma cena terrível. a mesma garota, só que um pouco mais nova: os cabelos até os ombros, o rosto com medo, os braços amarrados para trás, as pernas presas nas pernas das cadeira. Ela olha diretamente para a câmera enquanto fala:

- Meu nome é Marisa Xavier Gregório, eu tenho 17 anos. Pai, se você estiver vendo isso, faça o que ele manda, ou ele vai me matar. -ela começa a chorar.- Me salve, por favor!

O vídeo avança e uma mensagem em amarelo neon anuncia: "SEU TEMPO
ACABOU, DR. GREGÓRIO. AGORA VEJA SUA FILHA PAGAR O PREÇO PELA SUA ARROGÂNCIA."

Ela implora por piedade, se debate fazendo a cadeira retinir contra o chão. Na tela, uma lâmina alaranjada aparece, a mão faz um corte diagonal da testa ao nariz cegando um dos olhos dela e depois a pressiona contra o lado direito do rosto da vítima.

- O vídeo continua por horas, até ela se libertar das cordas e matar o torturador. -Ramon desliga a tela enquanto fala.- Isso foi há 7 anos. Depois disso, ela sumiu durante 28 meses, quando reapareceu foi como mercenária.
- E as marcas?
- Ela sempre usou. Se tem algum significado oculto, está realmente bem escondido.
- Sente-se, Balthazar.

Ele obedece a ordem de Morgana e revira os olhos ao ver ela se aproximar com uma seringa cheia de um líquido esverdeado. Ela não fala nada, antes de inserir a agulha no
pedaço restante do braço amputado.

Balthazar grita, enquanto o braço se regenera de uma vez só, saindo por completo da ferida dele. Ele olha surpreso do braço para a seringa.

- O que em nome dos Deuses é isso?! -Lauren deixa as telas para trás de si e pega a seringa da mão de Morgana.- Sério, Morg, o que você fez?
- Eu vinha elaborando isso, já havia algum tempo. Um restaurador celular, mas não conseguia estabilizá-lo. Hoje chegou o ingrediente que eu estava esperando: Caldeirão de bruxo.
- Você usou o cogumelo todo?!?!
- Claro que não! Tá louca? Apenas o talo, infundido a poção já pré-criada.
- Não estou menosprezando isso, mas temos de ter foco. Lauren, vá para as ruas, alguém em algum lugar, deve saber de algo sobre esse grupo, essa marca, essa mulher ou sobre o ataque de hoje.
- Okay.
- Mano, preciso dos seus dons cibernéticos e Morg, continue a investigação sobre o veneno na flecha de It Akashiro. Me avisem de qualquer novidade, eu…
- Você vai descansar, Balth. -Morgana fala.- Você gastou muita energia, amanhã você se mete.
- Eu sofri um atentado, minha filha quase morreu, tenho que agir!
- Desculpa, Balthazar.

Antes que ele possa falar algo, Lauren pega uma seringa e crava nas costas dele. Ele tenta se virar, mas cai inconsciente em meio a eles.

- Ele vai agradecer quando acordar. -Ramon fala o jogando por sobre o ombro.- Vão fazendo as coisas. Vou jogar ele na cama e aí eu vou fazer minha parte.
- Vamos nos falando então.
- Ramon, Morg, não percam o contato.
- Ok.
- Fechado.