10. Emanuelle

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Ele sinalizou para que ela se sentasse e a encarou com curiosidade. Já havia visto membros do povo do vento antes, fossem Nebulae, Venti, Ventanti, mas nunca um deles lhe tinha parecido tão sólido.

Emanuelle por outro lado parecia ter perdido a voz. Se antes estava ansiosa por aquele encontro, agora que estava ali, na frente daquele homem, mal conseguia raciocinar. Ele pareceu perceber o nervosismo dela porque sorriu amigavelmente e ofereceu pra ela um copo de licor.

- Eu particularmente acho que licor é sempre um bom jeito de se começar uma conversa. Por que, você queria conversar comigo?
- Porque eu estou morrendo. -as palavras saltaram da boca dela como se tivessem vida própria, ela mesma parecia chocada de ter falado isso tão espontaneamente.- Poção da verdade! -ela se levanta, claramente ofendida e acusa:- Você drogou esse licor!
- Respectivamente, Não e sim. -ele termina o seu copo dando um único gole e sinaliza na direção da cadeira.- Porque não volta a se sentar, Emanuelle? Posso te chamar de Emanuelle?
- Pode. -diz ela voltando a se sentar, mas claramente confusa e desconfiada.- Se não me deu poção da verdade o que havia na minha bebida?
- Em nossas bebidas, jamais serviria algo para você que eu não estivesse bebendo também. Respondendo a sua pergunta, coloquei algumas gotas de poção pra relaxar. Achei que tanto eu, quanto você poderíamos ter uma conversa mais produtiva se estivéssemos menos tensos.
- Realmente foi uma ideia boa. Desculpa pelo surto, faz semanas que não consigo manter a cabeça no lugar, por isso estava tentando fazer contato com você.
- E conseguiu através do meu irmão Ramon.
- Sim, quando eu peguei os rastros do que ele procurava na dark web, foi só uma questão de ter contatos nos lugares certos para conseguir o suficiente pra ter o que barganhar com ele.
- E sua barganha foi conseguir falar comigo?
- Sim.
- Porque? -ele pergunta novamente enquanto encara a visita, analisando-a dos cabelos cinza-tempestade, aos olhos azuis-elétricos, da pele clara, a aparência anêmica que agora que ela está relaxada se torna mais evidente.- Você disse que o motivo para querer falar comigo é porque você está morrendo, não é mesmo?
- Sim.

Sua voz sai baixa e cansada. Sem nenhum traço do desdém, da fúria ou da coragem que havia demonstrado até o momento.

- Você acha que eu posso te salvar, é disso que se trata?
- Eu sei que você pode me salvar, mas não é esse o motivo pelo qual vim atrás do senhor.
- Então qual foi? -ele pergunta, tentando disfarçar a impaciência na voz.
- Eu sei que deve querer uma resposta rápida e direta, mas confie em mim quando digo. Só vai conseguir realmente acreditar nos meus motivos se ouvir minha história
por completo.
- Não tenho nada contra uma longa história, desde que ela valha a pena ser ouvida.
- Ah pode ter certeza de que essa vai valer. -diz ela abrindo o primeiro sorriso desde que começou a falar com o Blackword.

Balthazar se ergueu da cadeira em direção ao decantador e depois de uma análise breve, retornou ao mesmo lugar de mãos vazias. Depois de ficar com uma expressão
pensativa por alguns segundos, com um gesto de mãos ele faz surgir em cima da mesa duas tigelas uma delas cheia de ovos de codorna e a outra com torresmo frito entre ambas um copo de vidro com palitos de dente e um potinho com molho rosé. Ao lado
de cada tigela uma garrafa de cerveja gelada, esperava suando.

- Sempre prefiro ouvir uma boa história, acompanhado de bons petiscos. Me acompanha?
- Sem dúvida.

Diz ela pegando um dos torresmos mergulhando no molho, dando uma mordida e fazendo descer com um belo gole de cerveja. Encarando o anfitrião, ela percebe que não pode mais enrolar, então suspira e o encara profundamente.

- Essa é a história da minha vida, você não vai entender no começo, mas espero que até o final você já seja capaz de ver a verdade.

"Minha mãe era uma Ventanti, uma amazona do ar, mas ela cometeu um erro. Um erro que custou a ela tudo que ela tinha.

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