19- História

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- O leal? -a voz de Morgana tem um tom confuso.- Mas não foi ele que...
- Eu gostaria de saber como isso é possível. O inferno não tem o poder de ressuscitar, não verdadeiramente. E você não parece ser uma marionete de couro.

Judas sorri com o comentário e faz uma pequena mesura, agradecendo pelo elogio.

- Não tenho problema nenhum em explicar isso, mas acho que seria melhor antes eu explicar para sua adorável família a minha história, para ficarmos todos na mesma página. Afinal de contas não temos nenhuma pressa, não é mesmo?
- Esse é um dos seus truques, Judas?Ganhando tempo para nos matar?
- Vocês, Blackword, realmente tem uma queda pelo drama, né? Eu não tenho nada contra você ou sua família e eu não pretendo atacar vocês, a não ser que seja necessário. -ele revira os olhos.- Você me fez uma pergunta, mas acho que seria rude da minha parte responder imediatamente, sendo que o resto das pessoas que estão aqui não iriam entender nada. Você tem problema com isso? Ou será que é você quem quer partir direto para o combate, soldado?
- Não me chame assim. -diz Ramon claramente com raiva.
- Então garotas, vocês já devem ter ouvido a versão "oficial" dos fatos: eu traí o nazareno com um beijo, o vendi em troca de 30 moedas de prata e blá, blá, blá. -ele revira os olhos como se estivesse entediado.- Só que não foi exatamente assim que aconteceu. As pessoas me chamam de "o traidor", mas eu te pergunto: como posso ser o traidor de alguém a quem nunca fui leal? Eu desde muito jovem sempre fui apaixonado pelo inferno em toda sua glória. Eu busquei saber mais, aprender mais, eu clamei, clamei e quando o inferno me respondeu, eu celebrei. Quando ele avisou sobre o nazareno, o leão da tribo de judá, mas que também seria o cordeiro alvo como a neve, eu ouvi. Quando ele me disse que eu seria escolhido por ele e que eu deveria segui-lo, eu obedeci. Quando por fim o inferno disse para mim que eu devia entregá-lo aos romanos, eu o fiz.
- A bíblia diz que você se matou logo em seguida a crucificação, por causa de arrependimento. Se você não amava Jesus, então porque..? -Emanuelle começa a perguntar para ele confusa.
- "Porque me arrependi?" a resposta é: Eu não me arrependi. Sim, eu me matei após ter entregue o nazareno e ele ter sido crucificado. Não por arrependimento, mas porque eu não tinha mais o que fazer aqui. Naquela época era ensinado que a vida era o maior presente que Deus havia nos dado e por isso o suicídio era o maior dos pecados. Porque ao cometê-lo estamos renegando esse presente. Estamos menosprezando o valor daquilo que Deus nos deu. Pelo menos é isso o que diziam. Eu me matei porque já tinha cumprido minha missão. Eu me matei porque não me importava com o "presente" de Deus e principalmente, porque queria demonstrar minha máxima lealdade ao inferno. -ele sorri maliciosamente, outra vez.- Foi assim que acabei conhecendo o sol ..., quero dizer o Ramon. Quando ele foi pra guerra e morreu, você deve lembrar dessa época, né ruiva? Sua alma foi lá pra casa.
- Você está enrolando, Judas.
- Eu estou aqui graças a você, Ramon.
- A mim? Do que você tá falando?
- Seu irmão mexeu no equilíbrio quando te trouxe de volta. Ele te puxou por amor, por causa disso o inferno pôde soltar alguém.
- Você. Caçando traidores do seu amado Reino dos condenados.
- Exatamente. Agora vamos deixar as coisas claras. Marechal!

Marisa que até este momento não havia feito mais nenhum som. Deixa escapar um grunhido doloroso entre os dentes que tenta manter fechados.
É como uma ilusão, uma sombra, um reflexo embaçando a imagem dela, mas ao mesmo tempo é como se o rosto dela estivesse se alongando, como se a sombra estivesse se usando essa carne extra para se solidificar.

Ele tem mais de 2 metros, sua pele é preta. Não negra, mas preta como piche, lisa e lustrosa como se fosse uma estátua. Os olhos roxos, como ametistas.

O lado direito do seu rosto é a única exceção a perfeição da imagem. Ele é vermelho como sangue. Pura carne viva e exposta como de um ferimento recém-aberto, do canto da boca ao começo da testa.

Ele veste um imaculado terno branco, com sapatos da mesma cor. Ao lado dele, Marisa está novamente de pé, com a roupa arrumada.

- Você criou os Herdeiros de Caim. -acusa Ramon, olhando para Judas.
‐ Sim. Um jeito de guiar a humanidade e me manter longe dos holofotes. Por isso criei o Marechal, primeiro ele era apenas um construto feito com sombras, magia Infernal e caos. Com o tempo ele evoluiu, mas precisava de vida para viver o que fazia necessário que suas aparições fossem raras.
‐ Até você torturar uma menina de 17 anos para hospedá-lo.

Ao ouvir a afirmação de Morgana, a risada de Marisa ecoou pela caverna.

‐ Eu devo ser uma atriz melhor do que eu penso. -ela olha diretamente para a ruiva e muda para um tom de voz frio e seco.- Eu não fui torturada, querida. O poder do Marechal, sua essência é definida por aquele que o criou. Ele só poderia ser hospedado por alguém que escolhesse isso, alguém leal, assim como nosso mestre. Judas me escolheu. Ele viu em mim potencial, ele me explicou o processo. a dor que eu passaria, os termos a que eu estaria me ligando, mas também o poder que eu ganharia. O vídeo que você viu, era simplesmente uma encenação, precisávamos de algo do meu pai e a situação pareceu perfeita para completar minha conversão e obter o que queríamos. Para infelicidade dele, ele resolveu não ceder. Então tivemos que tomar dele.

Os Blackword's ficam surpresos, pelo prazer com que ela fala sobre o sofrimento que impôs ao pai.

‐ Agora que tudo foi explicado. -Judas fala com sua voz sedosa e envolvente.- Acho que temos um impasse à resolver. A pedra das origens. Nossos dois grupos a querem, como vamos solucionar isso?

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