Ela encara a mãe, levantando a sobrancelha com incredulidade. Depois de tudo que havia acabado de ouvir sobre ela, sua mãe era a última pessoa com quem Gabriela queria falar.
- Sério? O que mais você pode ter para me dizer? Mais algum caso com outro dos parentes do meu pai? Ou tem mais alguma coisa sobre a qual obrigou eles a guardarem segredo?
- Óbvio, agora eu sou a grande vilã.
- Tamires de Melo Cordeiro, Santa Padroeira da castidade e pureza. -Ela pronuncia irônica e revirando os olhos.
- Achei que você pensava que o que uma pessoa faz do próprio corpo fosse apenas da conta dela.Gabriela suspira incrédula e põe a mão na testa tentando se conter. Ela se ergue e encara a mãe.
- Jura que você vai descer tão baixo? Não sei por que me surpreendo, isso é a sua cara. Você sabe muito bem que o problema não é o seu número de parceiros sexuais. Você traiu meu pai com o irmão dele! Você o forçou a me esconder as coisas!
- Eu sou sua mãe! -Tamires também se levanta, furiosa agora.- E você vai passar a agir de acordo.
- Você disse que tinha algo para me dizer. O que é? -pergunta Gabriela impaciente.
- Seu pai é um tolo, mas é um tolo cheio de inimigos poderosos. Ser filha de Balthazar Blackword é uma sentença de morte. Corra para longe, Gabriela. Pelo seu bem.Dizendo isso, ela deixa o terraço. Diversas dúvidas ocupam a mente de Gabriela. O que fazer agora?
- Gabriela Blackword?
- Depende de quem pergunta.
- Alguém capaz de te ajudar. -a garota de cabelo rosa arrepiado para o lado, sorri.- Pode me chamar de Sari. Sou uma fada.
- Claro que é. -ela ri sem humor.- Imortais, híbridos e agora… fadas.
- Você parece estar tendo um dia daqueles.
- Esse deve ser o eufemismo do século.
- Sari X'Challa. -a voz de Baltazar ressoa pelo terraço.- Faz o que…? 300 anos?
- Balthazar Blackword. 278, na verdade.
- Posso saber ao que devo a sua visita?
- Vim falar com a sua filha, Balthazar.
- Pai, eu pedi para ficar sozinha.
- Eu sei, mas depois que Tamires desceu daqui e saiu do apartamento batendo a porta. Achei que poderia estar querendo companhia.
- Obrigada pela preocupação, mas eu tô bem.
- Okay. Tchau, Sari.
- Tchau, Balthazar.Ele desce, deixando as duas sozinhas. Sari pousa ao lado de Gabriela as duas no guarda-corpo, olhando as luzes da cidade abaixo delas.
- Fale o que quiser dos humanos, mas eles são capazes de Maravilhas.
- Meu pai te chamou de…
- Meu nome completo, Sari X'Challa. -ela faz um gesto de indiferença com a mão.
- O que você quer comigo?
- Estou reunindo um grupo e gostaria de ter você nele.
- Ok. Agora eu tenho certeza de que você está arrumando algo. O que você poderia querer com alguém que acabou de descobrir a existência de magia?
- Em primeiro lugar, o seu nível de conhecimento não determina seu nível de poder. Em segundo, você não acabou de descobrir a magia. Só acha que sim. Do que você está falando? Até hoje de manhã magia, para mim, se reduzia a livros e séries.
- Isso é o que te fizeram acreditar. -ela senta no guarda corpo e com seus olhos prateados sonda o rosto da Blackword.- Você parece esperta. Acha realmente que cresceria com alguns dos seres mais mágicos da atualidade e não perceberia nada?
- Está dizendo que apagaram a minha memória?
- Não. Você foi enfeitiçada para sempre que enxergasse magia, transformasse aquilo em outra coisa. Seu pai desfez esse encanto hoje. Amanhã pela manhã você lembrará de coisas que nem imaginava ter esquecido.
- Como pode saber disso?
- Ilusões e alucinações são algumas das especialidades do povo faerie. Não à toa, seu pai usou meu pó de fada para te enfeitiçar há 10 anos aproximadamente. -ela puxa um
cartão do decote e entrega para Gabriela.- Esteja nesse endereço no dia e horário indicado caso esteja interessada em saber mais da proposta. Caso seus olhos não
sirvam de passaporte, mostre o cartão.Dizendo isso, ela se joga de costas do guarda-corpo, se transforma em uma esfera de luz negra e sai cortando o céu noturno. Gabriela tinha visto e ouvido tanta coisa em tão pouco tempo, que nem reagiu ao ver aquilo.
Isso mudou ao chegar na cozinha. Ela levou um susto, Morgana estava colocando em cima da mesa um cogumelo gigante: o talo de um azul fluorescente e o chapéu preto com pintas vermelhas. a ruiva vira para ela e sorri, enquanto procura uma faca.
- Nossa senhora dos agrotóxicos, o que é isso?
- Caldeirão de bruxo, é um cogumelo gigante muito raro. Cada uma das partes dele têm características especiais. Esse aqui tem 106 cm. -diz ela dando um tapinha no chapéu do cogumelo e puxa o facão.- E esse é pequeno, hein. Chegou em um momento bem oportuno.Ela começa a cortar o caule em diversas rodelas. Por dentro, a carne do talo azul brilhante é de uma coloração branco-esverdeado e libera um líquido grosso de coloração verde-clara.
- Oportuno porquê?
- Seu pai e a Lauren, cuidam dos avanços tecnológicos na empresa. Na verdade coisas ainda mais avançadas que simples tecnologia. Genética molecular, terapia genética e
hibridização entre tecnologia e magia para citar algumas delas.
- Você só pode estar de sacanagem. -ela diz rindo.- Como assim?
- a Blackword empreendimentos é mais do que uma empresa de medicamentos. Por trás disso, nós quatro mais alguns cientistas brilhantes e de extrema confiança fazemos todo tipo de experiências em busca de desenvolver avanços em todas as áreas possíveis.
- Eu acho que eu não aguento mais nenhuma revelação por hoje. -ela ri.- Mentira. Onde o cogumelo gigante entra nessa história?
- Como eu dizia, Balthazar e Lauren cuidam da parte tecnológica, seu tio Ramon, trabalha com desenvolvimento de novas energias e eu mexo com a botânica: ervas,
fungos, cogumelos, plantas, flores, poções e frequenciamento. O talo do caldeirão de bruxo tem propriedades únicas, que podem fazer dele o ingrediente faltante do meu mais recente experimento.
- Nossa, isso é surpreendente.
- Ok, agora vai dormir Gabriela.
- Normalmente eu discutiria, mas estou esgotada. Beijos, Morg.Ela se levanta e começa a subir as escadas, quando Morgana a chama novamente.
- Aqui. -ela puxa um punhal e entrega para a mais nova. O cabo é composto por dois tentáculos entrelaçados feitos de bronze e uma lâmina levemente curvada em tom prata.- Caso resolva aceitar o convite da olhos de moeda amanhã, leve isso. Liga de titânio, sal e ferro. Feita especialmente para fadas.
- Está querendo que eu mate ela?
- Estou querendo que você esteja preparada. O mundo é maior e mais perigoso do que você pensava.
- Ok, Obrigado, Morgana.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Blackword
FantasiaFamília, segredos, poder, dinheiro, magia. Gabriela Blackword, sempre soube como era ser diferente. fosse a tensa relação entre os pais separados, fosse o fato de que o relacionamento dos Tios, sempre foi liberal demais, fosse a cor unica dos olhos...