11. Sangue

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Ela não falou nada. Porém ficou óbvio que o silêncio dela, era a versão dela de uma confirmação. Exibindo uma expressão de choque, Balthazar se levanta da cadeira, anda em direção a estante e lá ele pega uma garrafa cheia de líquido cor de âmbar. Ainda sem pronunciar nenhuma palavra, ele toma um longo gole antes de voltar a sentar-se. Ele coloca a garrafa em cima da mesa e faz um gesto com a mão, incentivando a Emanuelle beber, enquanto divaga.

- O que eu não entendo, é porque ela não veio até mim?
- Ela não explicou, não diretamente, pelo menos. Pelo que eu consegui entender, ela tinha medo. Medo de quê você não a reconhecesse, medo de estragar as lembranças que ela guardava com tanto carinho, com algo que estivesse acontecendo agora na sua vida. Ela também tinha esperança, esperança de conseguir sozinha resolver e salvar a minha vida e a dela se possível.
- Você poderia ter tido uma vida melhor. -ele fala, enquanto encara o nada.- Se eu soubesse... se de alguma maneira eu tivesse descoberto, eu poderia ter te ajudado. Você poderia ter crescido como alguém normal, sem um machado sobre sua cabeça.
- Ela não te culpava. -então ela encara seus olhos novamente.- E eu também não.

Ouvir aquilo, o deixou sem palavras. Não era segredo, que o maior tesouro do mais velho dos Blackword sempre foi sua filha. Defeitos a parte, Balthazar sempre se provou um pai exemplar. Enquanto ouvia a história de Emanuelle, e compreendia pouco a pouco a verdade escondida nela, ele, não conseguiu livrar-se do sentimento de culpa. Culpa por ter abandonado uma filha sua, mesmo que não soubesse da existência dela. Enquanto a história se desenrolava, ele imaginava que esse era o mesmo sentimento que habitava dentro dela. Que ela atribuiu a ele por toda sua vida, a culpa por ter sido abandonada e pelo que havia acontecido com a mãe dela e isso apesar de destruí-lo, era o esperado.

O que ele não esperava era sentir o que sentiu quando ouviu vindo da boca dela que ela não culpava: Um alívio refrescante que fluiu do centro do seu peito, para o resto do seu corpo.

Ele sabia que não teria como repor o que ela já havia perdido, mas ia se esforçar durante cada momento para garantir que ela não tivesse mais falta de nada.

- Você disse que sabe qual é a cura para sua doença. Diga-me e seja lá qual for o obstáculo eu derrubarei por você.
- Sabe, eu pesquisei muito sobre você depois que eu descobri a sua verdadeira identidade. Eu já tinha ouvido falar do grande Balthazar Blackword, claro. -ela diz revirando os olhos.- mas uma coisa é você ouvir falar de um grande mago que descobriu inovações únicas na história da magia. Outra bem diferente é você descobrir que essa mesma pessoa é o seu pai.
- E foi por isso que você conseguiu essa reunião? Para me contar a história da nossa "família"?

Ela ri. Estende a mão na direção da garrafa que envolta por uma fina névoa flutua até ela.

- Não pai. -ela dá um gole da bebida, agora parecendo totalmente desinibida.- Eu marquei essa reunião porque eu queria te conhecer. Porque eu queria que você soubesse a verdade é principalmente, porque eu queria ter certeza do homem que você era.
- Então, isso é um julgamento?
- Não. Eu só queria ter certeza. -ela se ergue da cadeira e vira as costas para ele.- Sabe, a sua hum... Inclinação paterna é bem conhecida no meio dos boatos, mas muita coisa que não é verdade também é. Eu queria ter certeza de que você, você de verdade, era aquilo que me foi dito. Era aquilo que minha mãe viu. Queria ter certeza de que aquilo não era apenas uma ilusão. -nesse momento sua voz soa embargada e tremida.- Eu queria ter certeza antes de dar o próximo passo.
- a sua cura. -um sorriso vai tomando conta de seu rosto, enquanto ele digere a informação.- Sou eu. Quero dizer, meu sangue.
- Sim. Só que antes de usufruir disso queria ter certeza da pessoa que você era.

Ela o encarou com um olhar tão analítico, que se havia alguma dúvida sobre a veracidade na história dela, ela acabou com aquele olhar. Podiam até ter cores diferentes, mas Balthazar sabia reconhecer o próprio olhar.

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