Blackword

21- Pela minha família

Andar pelo mundo conectada às emoções dos outros, é como caminhar em uma estrada feita de marshmallow, cheia de buracos e calombos. Se apoiando em paredes feitas de algo, pouco mais sólido do que nuvens.

Quando o feitiço que trouxe Ramon de volta se concretizou, Morgana passava 24 horas por dia conectada às emoções alheias. Sem controle, equilíbrio ou paz. Demorou 15 anos, mas ela controlou cada aspecto de sua habilidade. Aprendeu a se desconectar, a obter noções da origem de cada sentimento, como induzi-los, anula-los e como usá-los para criar outras coisas.

Ao estar ali, em frente a dois inimigos. Ela esperava sentir raiva, pensamentos traiçoeiros, mas na verdade ela não sentia nada.

Apenas uma fria e sólida determinação vinda de ambos. E isso, acima de tudo, é o que dá a ela certeza de que existe um plano por trás do que eles fingem estar fazendo. A perda de Baltazar é um peso, que Morgana sabe estar afetando todos na família.

Só que para ela é diferente. É como passar pela perda de Ramon, tudo de novo e a sensação, o desespero são sufocantes, quase pesados demais para aguentar. Distraída pelas suas reflexões internas, é com atraso de uma fração de segundo que ela percebe a mudança emocional em seus inimigos e esse atraso quase custa a cabeça dela.

A esfera no topo do cetro de Judas começa a brilhar e pulsar, enquanto envia correntes de energia púrpura para dentro do corpo de Amaya, que tem como única reação um misto entre grunhir e gemer de dor.

- Até que enfim!- diz o Marechal estalando pescoço e começando a andar na direção deles.- Não estava mais aguentando o tédio de ficar parado.
- Vocês mentiram para nós.- Ramon acusa irritado.
- Vocês mentiram para vocês mesmos. -diz o Marechal sorrindo.- Realmente achou que o antigo mestre torturador do inferno iria simplesmente oferecer uma solução pacífica onde todos saem ganhando? De todos aqui, você, Ramon, é quem deveria conhecer melhor os hábitos daqueles que vivem no poço.
- Chega de conversa, Marechal. -Marisa anda até a frente e com um estalar de dedos joga cada um dos três para um canto diferente da caverna.- Nós temos nossas ordens. Matar os Blackword's e qualquer um que se ponha no caminho do plano ou você se esqueceu disso?
- Eu não me esqueci de nada, criança.
- Melhor assim.

Ela ergue os braços e no chão a escuridão começa a engrossar. Como se ela estivesse se transformando em outra coisa: piche, óleo, alcatrão ou algo mais escuro e definitivamente mais nocivo do que qualquer uma dessas coisas.

A misteriosa substância cobre todo o corpo da capitã Gregório de maneira que ela fica semelhante a uma estátua de obsidiana. É possível sentir no ar que algo de certa maneira invisível, está acontecendo.

Não apenas o que quer que seja que o cetro está fazendo com o corpo de Amaya, mas algo está ocorrendo com a própria Marisa. Em seu coração tudo que Morgana consegue pensar é. "Tomara que tenha dado errado. Tomara que ela esteja morta."

Como se pudesse ouvir os pensamentos dela, nesse mesmo momento a estátua explode em milhões de fragmentos. Quando a poeira assenta é possível ver que não há ninguém no local. Antes que Morgana possa deixar o alívio se espalhar por ela, Marisa surge do chão se erguendo da mesma substância que a havia recoberto. Só que ela está diferente.

Ela veste uma regata, uma calça justa e botas. Todas elas feitas de couro preto. Em seu cinto duas facas longas, uma de cada lado da cintura, mas a mudança mais chocante sem dúvida é a estética. Sua pele está branca como a de alguém que nunca viu a luz do sol. Ela está completamente careca, seus lábios estão roxos quase negros, a parte do seu rosto que antes estava queimada, agora está coberta por uma camada negra lisa, como uma versão da máscara do fantasma da opera, seu olho está multifacetado como um caleidoscópio e translúcido como um diamante.