12. Choque

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Eles estavam chocados. Algo raro, principalmente os três mais velhos, afinal com toda sua história de vida é difícil haver algo que não já houvessem visto. O mais chocante, porém, é o corpo estirado de Balthazar no centro do círculo. Pálido, com um grande corte na garganta, estirado em uma poça do próprio sangue cor de chumbo.

- Isso é impossível. -fala Morgana chocada.- Mais de mil anos... Fogo, lâminas, magia... não pode ser.

Ela cai ajoelhada e estende a mão sobre o corpo, sem tocá-lo. Ela encara Emanuelle com lágrimas escorrendo pelo rosto e antes que fale algo, sob as mãos dela o corpo se desfaz em um pó cinzento, do qual emana um leve brilho.

- Explica tudo agora. -a voz de Lauren é como uma lâmina.- Ou vou fazer você desejar a morte.

Enquanto ela fala, se move em velocidade sobre-humana, ao fim da frase ela está segurando Emanuelle pelo pescoço e a pressionando contra a parede.

- Você não entende…

Ao invés de deixar a adolescente terminar a frase. Ela aperta um pouco mais o pescoço de Emanuelle e a ergue do chão, arrastando as costas dela contra a parede.

- Acho que você não está me levando a sério! -Os olhos da híbrida começam a mudar. Suas pupilas começam a se assemelhar às de um felino, o tom de cobre se espalha para o resto do globo ocular e as veias nas laterais dos olhos se ressaltam. Além disso, suas unhas crescem e em sua boca oito caninos se destacam maiores e mais afiados que o normal.- Última chance, garota.
- Para tia Lauren. -a voz de Gabriela quebra o silêncio da sala.- Meu pai não ia querer isso.
- Seu pai... -a voz de Lauren treme, enquanto ela se vira para a sobrinha postiça com lágrimas nos olhos e o rosto de volta ao normal. Em um tom de voz baixo e perdido ela pergunta para a mais nova.- Como isso pode ser verdade?
- Isso é uma pegadinha. -diz Ramon olhando ao redor.- Vocês não se tocaram disso? O velho tá sacaneando a gente.
- Não. -Emanuelle diz ainda erguida pelo pescoço. Ela olha para os quatro, para aquela família destruída e se questiona se a vida dela vale toda esta dor.- Isso é bem real.

Lauren solta Emanuelle, que encara sem graça cada um deles. A família da qual ela deveria fazer parte, mas havia acabado de destruir.

- Balthazar Blackword era o meu pai.
- Tá bem, agora eu mato ela.
- Lauren! -a voz de Morgana não demonstra nenhum sentimento. Como se ela estivesse robotizada.- Chega disso.

Ela anda até a sala, se joga em uma poltrona e conjura uma garrafa de uísque. Os outros se sentam no sofá e nas poltronas espalhados pelo cômodo. Todos estão abalados, mas os três mais velhos estão pior, é como se eles estivessem envenenados ou paralisados de alguma forma.

- Queria que fosse um pesadelo. -diz Gabriela.- Papai te amou muito, sabe disso, né?
- Sim.
- Peraí, você tá levando a sério essa história de "ele é meu pai."?
- Não é uma história. -fala Morgana bebendo direto do gargalo.- Bem vinda a família, desculpa não ter uma recepção melhor. Curte um whisky?

Emanuelle não responde, ao invés disso. Vai até a geladeira e pega um copo de água. Ela senta e sabe que está sendo observada pelos outros quatro, mas a verdade é que ela nem sabe o que está sentindo exatamente.

Logo após a mãe ter morrido, ela encontrou o pai, descobriu que ele era exatamente o que ela havia ouvido a vida toda e agora ele está morto como consequência por ter salvo a vida dela.

- Fui eu. Não sei como, mas é por minha culpa.
- Amor. De alguma forma o amor que ele sentia por você tornou possível que ele fizesse o impossível. -Morgana olha na direção de Emanuelle, mas é como se olhasse através da garota.
- Você sabe disso, como? -pergunta Ramon.- Aliás, porque você acredita nela, Gabriela?
- Porque eu ouvi os dois conversando. Eu conheço bem o meu pai então sabia que aquele café era um truque. Eu fingi beber e estar desmaiada. Depois que ele me deixou lá, transformei uma boneca pra se tornar uma cópia minha e invisível desci pra ouvir o que ele estava falando.
- Então você sabe...
- Que você é filha do meu pai com uma ventanti, amaldiçoada desde que estava na barriga da sua mãe. Mãe essa, que morreu recentemente? Sim, eu sei.
- Sua mãe era Rosalie, né? -Ramon fala encarando a recém-descoberta sobrinha.
- Como você sabe o nome dela? -agora é Emanuelle que pergunta surpresa.
- Você não parece ter mais de 17 anos e a última ventanti com quem Balthazar ficou nesse tempo foi ela. -Ramon olha para o rosto dela como que procurando algo.- Realmente você parece com ela, mas o olhar é sem dúvida dele.
- Aliás, Rosalie foi a última pessoa com quem ele se envolveu, além de vocês. -diz Lauren.- Faz sentido, ele amava aquela mulher. Lembra, Morgana?
- Sim. Foi ela que impediu ele de desmoronar quando descobriu sobre a Tamires. -ela põe a garrafa vazia na mesa e se ergue, enquanto encara Emanuelle.- O amor dele por você era o mesmo tipo de amor que ele sentia por cada um de nós aqui nesta sala. O mesmo que sentiu pela sua mãe e que um dia sentiu pela sua, Gabriela. -ela põe a mão no ombro de Emanuelle e elas se encaram, ambas com os olhos laranjas brilhando, por causa das lágrimas.- Não faço ideia do que ele fez, mas sei que foi o fato de amar você que permitiu te salvar.
- Ele mal me conhecia!
- Ele pode não ter te visto crescer, mas sabia que você existia. -Lauren fala em voz baixa.
- Como assim?! -Os quatro perguntam em uníssono.
- Ele sabia da gravidez de Rosalie, mas logo em seguida ela sumiu. Por mais que procurasse, nunca encontrou rastro dela ou da criança. Ele chegou a pensar que estivessem mortas. Por isso quando afirmou aquilo eu me enfureci.
- Ótimo. Ele me encontrou e em menos de duas horas morreu! Eu só queria conhecê-lo. E agora, por minha causa, ele se foi pra sempre.
- Talvez não para sempre.

Gabriela fala em voz alta, enquanto em seguida fica movimentando o lábios sem fazer som.

- Tá tudo bem aí, Gabriela?
- Aham, irmãzinha. -ela sorri.- Tudo está perfeito.
- Acho que a Gabs deu defeito. -fala Ramon movendo-se devagar.
- Choque emocional, já vi isso em sobreviventes guerras. -fala Morgana .
- Calem a boca vocês dois. -Gabriela encara eles, se ergue e põe as mãos sobre a mesa.- Eu sei um jeito de trazer o papai de volta.

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