Capituko 10 - Negociacao

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A festa rolava solta, quanto mais o tempo passava mais energia os convidados tinham. Kelvin e Ramiro curtiam cada um de sua forma: enquanto Kelvin dançava loucamente, Ramiro se permitia aproveitar a solidão com sua bebida. Sim, solidão, pois até seu companheiro Ademir já tinha marcado presença naquele emaranhado de pessoas.

Ramiro sabia que tinha algo a fazer, não sabia como começar, mas se não tomasse uma atitude agora, não seria nunca e com esse intuito procura o olhar do menor que reluta, mas não consegue resistir ao magnetismo palpável entre eles.

Mantendo a linha visual firme se encaram, quase como num déjà-vu, era agora. Ramiro se aproxima lentamente, deixando o copo vazio em uma mesa qualquer e aos poucos sente o corpo se aquecer, talvez pela tensão ou pela proximidade com a multidão, independente da razão uma coisa é certa, os olhares firmes seguem conectados.

Ao se aproximarem, Kelvin espera qual a próxima atitude do maior que apenas se aproxima de seu ouvido dizendo:

— Precisamos conversar, por favor.- Kelvin acena na direção dos corredores e juntos se afastam da multidão.

Ao notarem que o som estava a uma altura em que não precisavam mais gritar para se ouvir, pararam, um de frente para o outro. Kelvin aguardava pacientemente o maior iniciar a conversa.

— Olha, eu te deixei falar, agora é minha vez okay, só me escuta- puxa o ar e solta arrumando a postura como se algo o incomodasse.

— Aquela noite, olha, não sei qual era o seu plano, eu nem queria estar lá para ser sincero, mas Rodrigo insistiu que era dever do padrinho e eu não podia negar. E tava tudo bem, mas aí você chegou e bagunçou tudo...- o menor se prepara para falar, mas é interrompido.

— Me deixa terminar por favor. Como dizia você mudou tudo, no dia seguinte eu te via em tudo lugar, você estava nos meus sonhos, na minha casa, no trabalho e agora você tá aqui. Vou entender se não quiser ter mais nada comigo, mas não consigo fingir que nada aconteceu.- finalizou

Kelvin olhava o outro com os olhos arregalados, de todas as coisas que esperava ouvir, não achava que chegaria a esse ponto. Sabia que o rapaz a sua frente estava certo sobre não ter como dinheiro serem estranhos, mas também não podia colocá-lo em sua vida dessa forma, tinha muita coisa em jogo.

— Olha, me desculpa mais uma vez, não quero soar rude e muito menos insensível, a última coisa que queria era bagunçar sua vida. Como já disse não quero confusão para mim, e se com uma noite tudo isso já aconteceu acho melhor evitar.- diz em um quase sussurro, naquele momento toda autoconfiança de
Kelvin tinha ido embora.

— Não, não tô te pedindo em casamento. Eu só não quero que você suma. Você que decide, quer apenas fodas? A gente fode. Quer apenas conversa, a gente conversa. Quer uma conversa no meio da foda? A gente faz, mas não some, por favor.- Ramiro usava todos os argumentos que seu cérebro conseguia criar e ao fim conseguiu arrancar um breve sorriso de Kelvin.

Vendo que essa é uma vitória, ele continua:

— Vamos fazer uma coisa, me dá... Não melhor eu te dou meu número e você pensa, no seu tempo aí você me liga para dar uma resposta, pode ser?- finalizou com um sorriso erguendo as sobrancelhas de forma otimista.

Kelvin viu o maior lhe entregar um cartão contendo um número de telefone.

Relutantemente pegou o papel e no momento sentiu rapidamente o toque do maior em seus dedos, se afastando quase que automaticamente. Contente com o fim da conversa, dessa vez é o maior que se retira deixando Kelvin com seus pensamentos.
   
    POV Ramiro

Posso ter feito papel de trouxa? Talvez. Mas não podia deixá-lo se afastar de mim assim, aquela presença que em uma noite me causou um rebuliço, precisava dele nem que fosse apenas com simples oi's.
Volto para festa e finalmente vejo Rodrigo falando com Ademir e aproveito para parabenizá-lo:

— Olha só se não é o mais novo casado da cidade.- digo lhe dando um abraço meio bagunçado, acho que ele já bebeu um pouco demais.

— Ihhhh olha aí o fujão, sinceramente cara, preciso colocar um GPS em você, já tava perguntando para o coroa aqui onde o bebezinho dele tinha se metido.

Pelo visto o nome fujão vai me perseguir por um bom tempo, mas sei que as escapadas foram por uma boa causa e faria elas de novo se fosse preciso.

— Vou mostrar pra você quem é o coroa- ouço Ademir cair nas provocações do outro.

— Afinal, e o casinho de sábado, que fim deu? - Rodrigo diz e no mesmo momento Ademir me encara num questionamento silencioso, consigo ler o "fodeu" em seus olhos.

— Ah, cara, deu em nada, nunca mais vi acredita.- Uso toda habilidade artística pra fazer a melhor cara de desconsolado que pude.

No mesmo momento encaro Ademir que entende o recado e me ajuda na mentira:

— Poxa, sinto muito, viu, quem sabe numa próxima, às vezes a pessoa pra você tá do seu lado né.

Consigo sentir a alfinetada sucinta que ele me manda, e o fuzilo com o olhar, Rodrigo complemente alheio a nossa 'discussão' se afasta de nós pra voltar pra pista.

— TÁ FICANDO LOUCO? Quer causar mais problema pra mim? Custava só seguir o roteiro?- Ademir me fita e nega.

— Não, não quando nesse roteiro você termina sozinho.

Decido explicar o desfecho da conversa para Ademir outra hora, por enquanto torço pra que minhas palavras façam efeito no coração e na mente de Kelvin.

    POV Kelvin

Aproveitando o momento abro espaço pra dizer o quão gato aquele cara é, benza Deus, as bochechas dele estavam rubras, um misto de álcool com a euforia em que ele me fazia aquela proposta. Queria tanto pular nele, mas não podia, usei todo meu autocontrole para pegar o cartão e ele se retira, me deixando aqui com as pernas bambas. Ele não sabe como aquela cara de cão perdido mexe comigo. Se Berenice estive aqui já estaria surtando.

— Eu vi seu Kelvin. - Pulo de susto com a mão no peito

— Tá louca, Berenice, quer me matar do coração.

— Louca? Eu não, mas aquele lá tá doidinho por você - diz insinuando que viu nossa aproximação anterior e continua:

— Qual é Kelvin, o homem tá desesperado por você, deixa de ser frio, dá uma chance pelo menos.

— Não, Berenice, já disse. Não é momento pra isso, tá tudo muito confuso ainda. E pra piorar nem tive tempo de falar com a Luana, como explicar pra ela que causei o climão da festa dela, que eu sumi com o padrinho porque resolvi me pegar com ele numa festa?- exclamo descontrolado

Na intenção de evitar qualquer problema maior preferimos encerrar a conversa, entendo a preocupação dela comigo, mas a última coisa que precisamos no momento é de mais decisões tomadas de cabeça cheia e com o álcool falando mais alto.
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Ramiro Neves está AMANDO

ℭ𝔞𝔰𝔲𝔞𝔩 - 𝔎𝔢𝔩𝔪𝔦𝔯𝔬 Onde histórias criam vida. Descubra agora