A festa rolava solta, quanto mais o tempo passava mais energia os convidados tinham. Kelvin e Ramiro curtiam cada um de sua forma: enquanto Kelvin dançava loucamente, Ramiro se permitia aproveitar a solidão com sua bebida. Sim, solidão, pois até seu companheiro Ademir já tinha marcado presença naquele emaranhado de pessoas.
Ramiro sabia que tinha algo a fazer, não sabia como começar, mas se não tomasse uma atitude agora, não seria nunca e com esse intuito procura o olhar do menor que reluta, mas não consegue resistir ao magnetismo palpável entre eles.
Mantendo a linha visual firme se encaram, quase como num déjà-vu, era agora. Ramiro se aproxima lentamente, deixando o copo vazio em uma mesa qualquer e aos poucos sente o corpo se aquecer, talvez pela tensão ou pela proximidade com a multidão, independente da razão uma coisa é certa, os olhares firmes seguem conectados.
Ao se aproximarem, Kelvin espera qual a próxima atitude do maior que apenas se aproxima de seu ouvido dizendo:
— Precisamos conversar, por favor.- Kelvin acena na direção dos corredores e juntos se afastam da multidão.
Ao notarem que o som estava a uma altura em que não precisavam mais gritar para se ouvir, pararam, um de frente para o outro. Kelvin aguardava pacientemente o maior iniciar a conversa.
— Olha, eu te deixei falar, agora é minha vez okay, só me escuta- puxa o ar e solta arrumando a postura como se algo o incomodasse.
— Aquela noite, olha, não sei qual era o seu plano, eu nem queria estar lá para ser sincero, mas Rodrigo insistiu que era dever do padrinho e eu não podia negar. E tava tudo bem, mas aí você chegou e bagunçou tudo...- o menor se prepara para falar, mas é interrompido.
— Me deixa terminar por favor. Como dizia você mudou tudo, no dia seguinte eu te via em tudo lugar, você estava nos meus sonhos, na minha casa, no trabalho e agora você tá aqui. Vou entender se não quiser ter mais nada comigo, mas não consigo fingir que nada aconteceu.- finalizou
Kelvin olhava o outro com os olhos arregalados, de todas as coisas que esperava ouvir, não achava que chegaria a esse ponto. Sabia que o rapaz a sua frente estava certo sobre não ter como dinheiro serem estranhos, mas também não podia colocá-lo em sua vida dessa forma, tinha muita coisa em jogo.
— Olha, me desculpa mais uma vez, não quero soar rude e muito menos insensível, a última coisa que queria era bagunçar sua vida. Como já disse não quero confusão para mim, e se com uma noite tudo isso já aconteceu acho melhor evitar.- diz em um quase sussurro, naquele momento toda autoconfiança de
Kelvin tinha ido embora.— Não, não tô te pedindo em casamento. Eu só não quero que você suma. Você que decide, quer apenas fodas? A gente fode. Quer apenas conversa, a gente conversa. Quer uma conversa no meio da foda? A gente faz, mas não some, por favor.- Ramiro usava todos os argumentos que seu cérebro conseguia criar e ao fim conseguiu arrancar um breve sorriso de Kelvin.
Vendo que essa é uma vitória, ele continua:
— Vamos fazer uma coisa, me dá... Não melhor eu te dou meu número e você pensa, no seu tempo aí você me liga para dar uma resposta, pode ser?- finalizou com um sorriso erguendo as sobrancelhas de forma otimista.
Kelvin viu o maior lhe entregar um cartão contendo um número de telefone.
Relutantemente pegou o papel e no momento sentiu rapidamente o toque do maior em seus dedos, se afastando quase que automaticamente. Contente com o fim da conversa, dessa vez é o maior que se retira deixando Kelvin com seus pensamentos.
POV RamiroPosso ter feito papel de trouxa? Talvez. Mas não podia deixá-lo se afastar de mim assim, aquela presença que em uma noite me causou um rebuliço, precisava dele nem que fosse apenas com simples oi's.
Volto para festa e finalmente vejo Rodrigo falando com Ademir e aproveito para parabenizá-lo:— Olha só se não é o mais novo casado da cidade.- digo lhe dando um abraço meio bagunçado, acho que ele já bebeu um pouco demais.
— Ihhhh olha aí o fujão, sinceramente cara, preciso colocar um GPS em você, já tava perguntando para o coroa aqui onde o bebezinho dele tinha se metido.
Pelo visto o nome fujão vai me perseguir por um bom tempo, mas sei que as escapadas foram por uma boa causa e faria elas de novo se fosse preciso.
— Vou mostrar pra você quem é o coroa- ouço Ademir cair nas provocações do outro.
— Afinal, e o casinho de sábado, que fim deu? - Rodrigo diz e no mesmo momento Ademir me encara num questionamento silencioso, consigo ler o "fodeu" em seus olhos.
— Ah, cara, deu em nada, nunca mais vi acredita.- Uso toda habilidade artística pra fazer a melhor cara de desconsolado que pude.
No mesmo momento encaro Ademir que entende o recado e me ajuda na mentira:
— Poxa, sinto muito, viu, quem sabe numa próxima, às vezes a pessoa pra você tá do seu lado né.
Consigo sentir a alfinetada sucinta que ele me manda, e o fuzilo com o olhar, Rodrigo complemente alheio a nossa 'discussão' se afasta de nós pra voltar pra pista.
— TÁ FICANDO LOUCO? Quer causar mais problema pra mim? Custava só seguir o roteiro?- Ademir me fita e nega.
— Não, não quando nesse roteiro você termina sozinho.
Decido explicar o desfecho da conversa para Ademir outra hora, por enquanto torço pra que minhas palavras façam efeito no coração e na mente de Kelvin.
POV Kelvin
Aproveitando o momento abro espaço pra dizer o quão gato aquele cara é, benza Deus, as bochechas dele estavam rubras, um misto de álcool com a euforia em que ele me fazia aquela proposta. Queria tanto pular nele, mas não podia, usei todo meu autocontrole para pegar o cartão e ele se retira, me deixando aqui com as pernas bambas. Ele não sabe como aquela cara de cão perdido mexe comigo. Se Berenice estive aqui já estaria surtando.
— Eu vi seu Kelvin. - Pulo de susto com a mão no peito
— Tá louca, Berenice, quer me matar do coração.
— Louca? Eu não, mas aquele lá tá doidinho por você - diz insinuando que viu nossa aproximação anterior e continua:
— Qual é Kelvin, o homem tá desesperado por você, deixa de ser frio, dá uma chance pelo menos.
— Não, Berenice, já disse. Não é momento pra isso, tá tudo muito confuso ainda. E pra piorar nem tive tempo de falar com a Luana, como explicar pra ela que causei o climão da festa dela, que eu sumi com o padrinho porque resolvi me pegar com ele numa festa?- exclamo descontrolado
Na intenção de evitar qualquer problema maior preferimos encerrar a conversa, entendo a preocupação dela comigo, mas a última coisa que precisamos no momento é de mais decisões tomadas de cabeça cheia e com o álcool falando mais alto.
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Ramiro Neves está AMANDO
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ℭ𝔞𝔰𝔲𝔞𝔩 - 𝔎𝔢𝔩𝔪𝔦𝔯𝔬
Fanfiction"Que depende do acaso, que ocorre por acaso; fortuito, eventual." Ramiro Neves, possui sua realidade na palma de suas mãos, confortável com a vida que tem e fazendo da solidão sua amiga, numa casualidade da vida vê em Kelvin Santana, um ponto de enc...