POV Kelvin
Dias depois a vida seguiu naturalmente, os recém-casados foram para tão sonhada lua de mel e nós pobres mortais voltamos ao árduo trabalho. O cartão continuava lá, podia muito bem ter ligado e encerrado essa questão de uma vez, mas a ideia de perdê-lo andava de mãos dadas com a de tê-lo 100% para mim.
Berenice não tocou mais no assunto, apesar de sentir seu olhar perfurando meu corpo todas às vezes que me via no celular.
Recebi algumas propostas de publicidade, uma editora recebeu meu portifólio e queria fazer umas fotos. Minha vida sempre foi regada a arte, dança, música, moda são aonde eu me reconecto comigo mesmo. Minha família nunca aceitou minhas decisões, nunca acreditaram de verdade em mim, então na primeira oportunidade de sair eu saí, com uma mochila nas costas e um sonho na cabeça e claro com muito, muito medo.
Sei que ouço de muitas pessoas que sou jovem demais para me fechar, que devo arriscar, que a vida serve para ser vivida, mas demorei muito para fechar feridas internas que ainda doem e não estou a fim de abri-las.
Decido mais uma vez tentar me concentrar no trabalho, preciso de café, talvez um fardo de energético e 3 barras de chocolate. É isso, preciso de comida. Boa Kelvin, hoje é dia de se reconectar.
Me levanto na intenção de procurar algo para comer já que é quase hora do almoço, porém mudo de ideia.
"Oii Flor, topa almoçar comigo?" - Mando de forma despretensiosa.A mensagem é visualizada quase instantaneamente.
"Claro Kel, tenho novidades. A gente pode se encontrar naquele restaurante de sempre, pode ser?" - Na hora confirmo e vou me arrumar.No caminho até o restaurante penso em como tenho boas amigas, apesar das loucuras diárias sinto que posso contar com todas.
Ao entrar no ambiente, instantaneamente sinto paz, o local era muito bem amplo e arejado, procuro pela mulher de cabelos encaracolados que ao me ver acena.
Ao nos acomodarmos já tratamos de fazer os pedidos e colocar a conversa em dia, flor me conta sobre seu avanço em seu projeto como educadora, a cada conquista que ouço meu coração se enche de orgulho. Após os assuntos sociais se findarem vamos aos pessoais, ao citarmos o casamento ela me confidencia que conheceu um rapaz:
— Mentiraaaa, vai conta mais - não consigo neutralizar minha empolgação.
— Ele é um amor de pessoa, nos vimos na festa e de cara foi química instantânea, estamos conversando aos poucos, ele é um cara maduro, sabe, super responsável, trabalho no ramo do agronegócio, engatamos numa conversa profunda sobre sustentabilidade. - era lindo vê-la falando com tenta empolgação.
— Mas e você Kel, como vai? Sinto muito termos te pressionado naquele dia. É que não esperávamos que você fosse se envolver de cara tão intensamente, e não digo isso de forma repreensiva, pelo contrário, você merece tanto encontrar alguém - o olhar de ternura em minha direção não me permite duvidar de suas palavras.
— Não sei, tanta coisa já aconteceu desde aquele dia, tudo meio que saiu do controle, constantemente o universo parece rir de mim - digo com o coração apertado.
— Serio amigo, vocês estavam tão conectados, sei lá por um momento pareciam que eram os donos do lugar, acompanhar tudo de camarote foi sensacional, ele te encarando, depois se aproximando, os olhares, a dança, o beijo e aí vocês sumiram. E se acha que mudou, eu vi. No dia do casamento o mesmo, tirando o fato que vocês não se beijaram. Ou se beijaram, aí meu Deus, se beijaram??? - nunca vi a flor falar tantas palavras numa única frase misericórdia.
— Não, não nos beijamos e nem vamos mais. Essa história já me deu tanta dor de cabeça e simplesmente prefiro fingir que não aconteceu.
Vejo ela se aproximar mais de mim quase como se contasse um segredo.
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ℭ𝔞𝔰𝔲𝔞𝔩 - 𝔎𝔢𝔩𝔪𝔦𝔯𝔬
Fanfiction"Que depende do acaso, que ocorre por acaso; fortuito, eventual." Ramiro Neves, possui sua realidade na palma de suas mãos, confortável com a vida que tem e fazendo da solidão sua amiga, numa casualidade da vida vê em Kelvin Santana, um ponto de enc...