Kelvin e Ramiro se encaravam, não como um desafio, muito menos com raiva, apenas se olhavam.
Kelvin estaria mentindo se dissesse que estava calmo, pelo contrário estava pirando. Mas a presença do maior era intensa, o ar estava denso e ele sabia que qualquer um que passasse por lá saberia que não é mais um encontro de desconhecidos. Ouvindo som de passos se permitiu tomar atitude, puxou o maior em direção ao quarto, em outras ocasiões essa cena seria explicitamente sexual, mas agora era só tensão. Até a vontade de ir ao banheiro tinha ido embora.
Ao entrar no quarto, Ramiro se senta na cama e continua observando o menor sem dizer nada. Ensaiou diversas coisas que diria, mas a reação do outro o fez pensar se sentiam o mesmo, se a lembrança daquela noite era tão boa para o ruivo quanto foi para ele.
— Olha...- iniciou
— Não, me deixa falar por favor- foi cortado pelo menor, acenou com a cabeça incentivando o outro a continuar a falar.
— Não esperava te ver aqui, desculpa pela reação, é que eu não sabia que você era convidado do casamento, eu eu...
— Você achou que eu era um cliente da boate, que você ficou e provavelmente nunca mais nos veríamos. Correto?
— Isso, não me veja mal, por favor. Só fiquei surpreso, não pense que te usei por uma noite, só não queria nenhuma dor de cabeça hoje.
— Relaxa, se você preferir a gente finge que nada aconteceu, o que acha? - Ramiro encara Kelvin mais uma vez que nesse momento sorri suavemente.
— Obrigado, por entender- O menor se preparava para sair só quarto quando é interrompido pelo toque de Ramiro e seu pulso.
— Posso saber seu nome pelo menos?- pediu esperançoso
— Kelvin, meu nome é Kelvin.
— Kelvin... Prazer, Ramiro.
E assim o menor se retira do quarto, deixando Ramiro sozinho pensativo em tudo que acabou de acontecer. Se perguntando se rever o rapaz que agora tinha um nome, foi tão bom quanto esperava.
Do lado de fora, Kelvin tinha duas conclusões: realmente o universo é contra ele e precisava de mais bebida.
POV Kelvin
Eu preciso beber, paro o primeiro garçom que vejo na minha frente, viro uma taça de champanhe e devolvo ela vazia na bandeja e pego outra. O pobre do homem que encara chocado, mas me ignora seguindo seu trabalho.
— Aí Kelvin me perdoa, ele tava do meu lado, foi falar com um amigo e simplesmente desapareceu. Assim que soube que ele tinha subido, tentei te avisar- Berenice surge do nada desesperada.
— Calma mulher.
— Senhor socorro, não olha Kelvin, ele tá vindo pra cá.- Viro para trás e vejo ele caminhando em nossa direção, um me cumprimenta com um aceno de cabeça e segue o caminho.
— Relaxa, a gente já se viu - Berenice agora me encara com mil pontos de interrogação em sua mente.
Trato de explicar tudo que aconteceu
— Por fim, decidimos que foi apenas uma noite. Ou melhor, ele sugeriu e eu aceitei, foi muito mais tranquilo do que imaginei- digo
— Tá, mas se tudo deu certo porque esse olhar de contentamento, você não deveria estar mais aliviado?
A pergunta bate em mim, sim, tudo que queria ela que ele não aparecesse mais, tratar a noite como um acaso, algo casual.
— Ué, eu tô ótimo, um peso saiu das minhas costas, agora que você já finalizou sua missão madrinha, vamos pra minha que carinhosamente apelidei de "dançar e beber até esquecer meu nome"- finalizo enquanto puxo a mão de Berê em direção à pista de dança que tinha acabado de ser aberta.
Logo os noivos viriam pra festa e eu precisava estar 100% conectado com o Kelvin festeiro que habita em mim, meu propósito de fazer essa noite ser incrível ainda não tinha terminado.
POV Ramiro
Aquele anjo que virou meu mundo de cabeça pra baixo, me levou ao céu no reencontro e me derrubou no chão em um instante. Tá bom, eu sei que eu que iniciei esse negócio de "esquecer o que aconteceu", mas queriam o quê? O cara literalmente me via como um fantasma, como se minha presença fosse o pior pesadelo dele.
Na intenção de defender o resto de dignidade que me resta, preferi acabar com isso de uma vez.
Depois de alguns minutos sai daquele quarto e voltei pra festa, precisava conversar com Ademir e aquele corno ia me ouvir, se ele tivesse me deixado pular do carro nada disso estaria acontecendo.
No caminho até Ademir passo mais uma vez por Berenice que também me olha com espanto e cutuca o anjo, quer dizer, cutuca Kelvin que me encara, aceno levemente e sigo meu caminho.
Não sei se o olhar que ele me dá me alivia ou não, claramente ele não está mais tão assustado com minha presença, mas também não esboça alegria. Apenas aceita a situação.
Finalmente vejo Ademir sentado em uma mesa mexendo no celular, me olha e pelo menos ele não se espanta.
— Caraca, onde você foi? Sua parceira ficou desesperada te procurando. - Dizia indignado
Tirei o copo da mão dele, que aparentemente continha whisky e virei de uma vez.
— Eu vi o anjo - Me sento na cadeira suspirando.
— Quem é anjo? Anjo... Perai o seu anjo? O carinha da balada? Puta que pariu. - Ele diz calmante, mas sei que por dentro ele tá surtando.
— É, na verdade, o nome dele é Kelvin, aparentemente é amigo da noiva, e antes que você me pergunte já te digo, não foi nada bem.
O olhar de desespero e substituído por um olhar de pesar, sinto que tenho espaço pra continuar:
— Ele quase pirou quando me viu, prestes a ter um treco, por um momento achei que era apenas por não esperar tão situação, mas depois vi que ele só não queria me ver mesmo, talvez um pouco de arrependimento e ressaca moral.- soltei um riso amargo.
— Poxa, cara, sinto muito, mas eaí?
— Eaí que decidi findar tudo, disse esquecermos e vida que segue. Antes vindo de mim, assim a vergonha é menor.
— Perai, você findou algo com o cara e nem esperou se ele realmente queria isso? Passa pela sua cabeça que às vezes ele só tava confuso?RAMIRO, VOCÊ É BURRO?
É só o que me faltava, tô fudido da cabeça, venho pedir conselho sobre uma recente humilhação e sou mais humilhado ainda.
Quando estou prestes a me defender ouço o som ser desligado, e uma voz no microfone soa:
"Queridos convidados, gostaríamos de dar as boas-vindas aos noivos."
Olho novamente pra Ademir que continua me encarando, mas dessa vez com o olhar mais suave, chega perto de mim e diz:
— Pensa no que te disse.
Todos aplaudem e lá vem eles, sorrindo de mãos dadas, cumprimentando a todos, até que a noiva chega na dupla de amigos e abraça Kelvin. Realmente o menor estava feliz por Luana, e a frase dita por ele volta a minha memória "só não queria nenhuma dor de cabeça hoje."
O que será que ele quis dizer com isso
Ia tirar isso a limpo.
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Eu coloquei essa música pq é boa só uso mesmo
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ℭ𝔞𝔰𝔲𝔞𝔩 - 𝔎𝔢𝔩𝔪𝔦𝔯𝔬
Fanfiction"Que depende do acaso, que ocorre por acaso; fortuito, eventual." Ramiro Neves, possui sua realidade na palma de suas mãos, confortável com a vida que tem e fazendo da solidão sua amiga, numa casualidade da vida vê em Kelvin Santana, um ponto de enc...