Bruce

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Não havia passado muito tempo desde que o Profeta o acolhera, menos ainda desde que havia concluído seu treinamento como cruzado. Bruce mal tinha completado 14 anos e estava em sua primeira missão fora da cidade.

Eles haviam deixado a cidade a mais de uma hora, mas as muralhas que cercavam a capital e que dividiam a metrópole das ruínas tomadas pelos filhos do sangue ainda eram visíveis. Acompanhavam Bruce seu mentor e Nora, outra discípula do Profeta, uma cruzada 2 anos mais velha que Bruce, mas muito mais experiente.

Seu mentor, o grande profeta da ordem da caridade, era um homem robusto e de estatura alta. Bruce recordou-se de que naquela época os cabelos de seu mestre não eram totalmente brancos nem mesmo compridos como da última vez o que o vira, eram ondulados e castanhos de tamanho médio com alguns fios grisalhos perdidos em meio a densa cabeleira, a barba espessa levemente grisalha e sempre bem cuidada também entregava Edgar como um homem de meia idade. Edgar usava um óculo de lentes grandes e redondas que ficava pendurado na ponta de seu nariz grosseiro. O profeta era uma antítese completa, o porte colossal e feições robustas guardavam um o homem gentil e intelectual que sempre tinha a mesma expressão serena e exausta.

Edgar sempre reprimia que fosse chamado de profeta, santo ou por seu cargo de sumo sacerdote, gostava que os discípulos o chamassem mestre, professor, que o tratassem pelo nome, e como era o caso de Jason e Nora que o chamassem de pai. Bruce sabia que seu mentor também ansiava que ele o tratasse por pai eventualmente, mas o jovem acólito não sabia se o que o sumo sacerdote tinha feito por ele era digno de gratidão, até mesmo Edgar nunca disse que salvou sua vida, pelo contrário, dizia que havia tentado matá-lo, mas Bruce queria viver e foi por isso que sobreviveu. Quem sempre dizia que ele devia ser grato e agradecer eram Nora e Jason.

Nora, era da lista de características que ele tinha em mente para ela, inacreditavelmente detestável. Bruce se questionava como era possível alguém ser tão desagradável, era como se ela fosse capaz de se infiltrar na cabeça de Bruce, ela sabia o tempo todo sobre como ele estava se sentido. Se ele estava bravo ela queria saber o que o incomodava, se ele estava triste ela queria saber como poderia fazer ele se sentir melhor, sabia quando ele estava planejando algo, sabia quando ele estava achando algo que não devia engraçado e quando não sabia de algo sobre ele ou como estava se sentindo ficava perguntando até ter uma resposta. A garota queria saber sobre seu passado, com quem ele vivia antes, o que ele fazia, como era viver na cidade baixa, como era ter despertado uma herança e assim por diante. A única coisa que Bruce queria saber era como podia existir um ser humano tão inconveniente e irritante.

As ruínas não corresponderam a suas expectativas, ele sempre ouviu falar de como eram perigosas, de como se aproximar delas era um mau agouro e que só se encontrava desgraça além da muralha. Bruce depois de explorar um pouco achou tudo aquilo uma bobagem, perigosa era a cidade baixa onde a violência ficava a espreita a cada esquina, mau agouro era viver na cidade baixa uma vida de merda sem ter para onde fugir, que piada, a cidade baixa é o lar da desgraça, gente faminta e doente aquilo por todo lado.

As terríveis ruínas além da muralha não passavam de um monte de pedras empilhadas dominadas por mato e mortos-vivos perambulando sem rumo. Edgar até mesmo havia os ensinado como evitar os mortos, a seguir o caminho sendo sigiloso, e como certos símbolos e ingredientes eram capazes de afastar os podres. Podres que podem ser evitados não são perigosos pensou Bruce, perigosos são filhos da puta que podem invadir sua casa no meio da noite tentando levar o pouco que você tem, perigoso é estar andando na rua e um arrombado de um viciado vir tentar te roubar e te matar sem qualquer razão, ou pior de tudo, um maldito guarda da armada achar que a comida que você comprou com a miséria que você tem foi furto de um roubo e te dar uma surra e te largar na sarjeta.

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